Em meio a uma noite rotineira nos bares de Brasília, a empresária Samantha Hewsen percebeu um comportamento curioso: as pessoas ainda demonstravam interesse, mas não tomavam mais a iniciativa de paquerar. Como fotógrafa nos bares, ela costumava registrar os momentos dos clientes e vender as fotos impressas na hora.
Em materia do G1, ela disse que o que mais ouvia nas interações era o pedido para enviar recados ou descobrir se alguém estava solteiro. “Percebi que era uma necessidade real. Eu queria encontrar uma forma de ajudar as pessoas a se conectarem, sem deixar de usar a fotografia, que é a minha paixão”, revelou Samantha.
Foi com essa percepção que surgiu o Catálogo dos Solteiros, uma iniciativa simples, mas que logo se tornou um fenômeno nas redes sociais.
Popularmente apelidado de “Tinder analógico”, o projeto visa resgatar o ato de paquerar ao vivo, tirando as pessoas das telas dos aplicativos de namoro e incentivando-as a olhar para os outros ao vivo, nos bares da cidade.
“A galera está no bar, mas está mexendo nos aplicativos de relacionamento, olhando para baixo. Esqueceram como é paquerar ao vivo e a cores”, afirma ela.
O conceito do Catálogo dos Solteiros é simples, mas eficaz. O bar onde o evento acontece é previamente anunciado nas redes sociais, e Samantha circula pelo local perguntando quem está solteiro. Para quem aceita, ela tira uma foto e imprime duas vias: uma vai para o catálogo, onde a pessoa escreve seu nome, orientação sexual e contato.
A outra vira um ímã de geladeira, que o participante leva para casa como recordação da noite. Caso alguém se interesse por um dos “candidatos” no catálogo, pode tirar uma foto do cartãozinho e entrar em contato com a pessoa. A participação custa R$ 20, e o catálogo pode também ser contratado para eventos privados.
O formato é uma fusão moderna de paquera e comunicação à moda antiga, com um toque de “Correio Elegante 2.0”. Samantha, com seu jeito descontraído, avisa logo: “Não precisa marcar date. O date é hoje. Todo mundo aqui está no mesmo ambiente seguro, só falta achar o match.” O objetivo é criar um ambiente onde as pessoas possam se conectar de forma real e sem pressões digitais.
No bar do Guará, onde o G1 acompanhou o trabalho de Samantha, o engenheiro eletricista Luiz Fernando Machado participou pela primeira vez e se mostrou otimista com a dinâmica. “Hoje é tudo muito rápido, aplicativo para tudo. Acho que isso traz um ar da velha guarda, de conhecer a pessoa no olho”, afirmou.
Para ele, a experiência de encontrar um match ao vivo é revigorante. “O catálogo aqui é bem diversificado, atende todo mundo e achei duas pessoas interessantes. A missão dela [Samantha] é difícil, mas eu acredito nela”, completou.
O projeto também tem sido um respiro para Samantha, que passou por um burnout e ficou afastada por um ano antes de voltar ao trabalho. Com sua empresa de live marketing, ela encontrou uma nova forma de se reconectar com o público e, ao mesmo tempo, equilibrar sua rotina de mãe solo.
Com a viralização nas redes sociais e o reconhecimento do trabalho, ela se tornou uma espécie de “cupida oficial de Brasília”. “Quando eu não apareço, o povo reclama. Já virei parte da programação da noite”, brinca ela, que já tem clientes fiéis que participam quase toda semana.
Apesar de ainda não haver casais “oficiais”, Samantha tem visto alguns progressos interessantes. “Um grupo de três amigas entra toda vez. Uma delas já está ‘ficando sério’ com alguém que conheceu na brincadeira. Casal oficial ainda não temos, mas acho que está perto”, conta, com um sorriso no rosto.