Wladimir Soares, o agente da Polícia Federal investigado por participação na trama golpista, teria contado a aliados detalhes do violento plano para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota nas urnas.
As conversas, contidas em áudios enviados por aplicativos de mensagens entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, foram interceptadas durante as investigações e reveladas nesta quinta-feira 15 pela TV Globo e pelo site G1.
Segundo o agente, o plano traçado pelos bolsonaristas, de fato, previa prender os ministros do Supremo Tribunal Federal e outros adversários do ex-presidente. Se fosse preciso, afirma o policial, o grupo não hesitaria em matar opositores. As mensagens confirmam a estratégia traçada no chamado ‘Punhal verde e amarelo’, documento encontrado com golpistas pela PF.
“A gente tava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre de Moraes. Eu ia estar na equipe, ia botar para f** nesse f***”, diz Soares em um dos áudios revelados pelo site.
“A gente ia com muita vontade, ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio mundo de gente. Não ia estar nem aí”, completa mais adiante.
As mensagens, segundo investigação da Polícia Federal, foram trocadas entre Soares e outros membros da corporação, que, em alguns casos, também teriam mostrado inclinação em participar da empreitada golpista. “Grande Wladimir! Estaremos eu e você [na equipe para prender e matar opositores]”, disse um delegado ao ser apresentado ao plano. Os nomes dos interlocutores de Soares ainda não foram revelados.
O agente da PF, que já participou da equipe de segurança de Lula (PT), é um dos denunciados pela Procuradoria-Geral da República pela trama golpista. Segundo a PGR, ele inicialmente seria o responsável por repassar informações sobre a localização e rotina do petista aos golpistas. Depois, foi integrado pelos chefes da organização criminosa a outros núcleos da tentativa de golpe.
Grupo era subordinado a Bolsonaro
Nas mensagens reveladas nesta quinta, Soares indica, mais uma vez, que o grupo disposto a prender e matar autoridades era diretamente subordinado a Bolsonaro.
Nas conversas, conta que o grupo só não teria ido adiante com a iniciativa violenta porque o ex-capitão ‘deu para trás’ na última hora. O recuo do ex-presidente, por sua vez, se deu após negativa de generais em embarcar na ruptura.
“Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele. Ou seja, foram… Na realidade, o PT pagou para eles, comprou esses generais”, diz Soares em uma das mensagens citadas pelo G1.
“A gente tava pronto, só que aí o presidente… Esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para a gente agir. Só que o presidente deu para trás”, contou, então, o agente.
A conclusão é semelhante à da PGR, que afirma que Bolsonaro teria recuado ao não ter o apoio de parte importante das Forças Armadas.
Preso e denunciado
Soares está preso desde novembro de 2024, no âmbito da Operação Contragolpe, que revelou o plano que previa o assassinato de Moraes, de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Ele faz parte, segundo a PGR, do ‘núcleo 3’ da trama golpista, que tentava agir para que o Exército apoiasse um eventual golpe. A denúncia contra o grupo será analisada pelo STF no dia 20 de maio.