No dia 4 de julho de 2025, o Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, recebeu uma sessão especial do Conselho Popular dos BRICS. A Professora Marta Fernández, coordenadora do BRICS Policy Center, apresentou sua visão sobre a transição da ordem internacional liberal para um paradigma multipolar, destacando o papel do bloco BRICS+ nesse processo.
A acadêmica brasileira abordou os desafios da governança global, desde a obsolescência das instituições pós-Segunda Guerra Mundial até as tentativas de fragmentação do BRICS por potências tradicionais. Seu discurso revelou as contradições do sistema internacional vigente e as oportunidades para uma reconfiguração das relações de poder mundial.
A obsolescência da ordem liberal e o caos como estratégia hegemônica
Fernández iniciou sua exposição citando Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, que declarou que “a ordem internacional liberal, que é essa ordem que surge no pós-segunda guerra mundial, ela estaria obsoleta”. Esta declaração ganha relevância quando consideramos que os Estados Unidos foram um dos principais arquitetos dessa mesma ordem que agora consideram ultrapassada.
Segundo a coordenadora do BRICS Policy Center, a natureza da alternativa proposta pelos Estados Unidos é preocupante. Em suas palavras, “a proposta é justamente o caos, o caos como lógica hegemônica, a lógica da desinformação, a lógica de um mundo sem lei, sem regulação, nos domínios ambiental, digital, sanitário, um mundo regulado apenas pelas relações de poder”.
Esta estratégia representa uma ruptura com os princípios multilaterais que caracterizaram o sistema internacional desde 1945. A substituição de normas e instituições por relações de força marca uma regressão onde o direito internacional cede espaço à imposição unilateral de interesses. A professora observou que essa tendência se manifesta através do “uso de sanções, tarifas, como armas de guerra”, instrumentos que transformam a economia global em um campo de batalha geopolítico.
A análise de Fernández revela como essa abordagem desestabiliza não apenas as relações bilaterais, mas todo o tecido da cooperação internacional. Quando potências hegemônicas abandonam o compromisso com regras universais em favor de estratégias de dominação baseadas no poder, criam-se precedentes que podem ser replicados por outros atores estatais, gerando uma espiral de instabilidade global.
Brics: vanguarda histórica na crítica à ordem desigual
Fernández reconheceu o papel pioneiro do BRICS na contestação da ordem internacional liberal. Segundo sua análise, “quem teve a frente ou na vanguarda sempre desse questionamento à ordem internacional-liberal foi o BRICS”. Esta posição de vanguarda resulta de uma compreensão das limitações estruturais do sistema internacional vigente.
A coordenadora do BRICS Policy Center enfatizou que “essa ordem internacional-liberal, ela foi fundada, estruturada pela desigualdade”. Esta desigualdade se manifesta em organismos como o Conselho de Segurança da ONU, “onde cinco países têm o privilégio do poder de veto”, e nas instituições de Bretton Woods, “onde até hoje os Estados Unidos tem um poder de veto informal”.
A perspectiva histórica oferecida por Fernández é fundamental para compreender essa crítica. Ela lembrou que “em 1945, a gente ainda tinha um mundo colonial” e que “o fundo do processo de descolonização do mundo é a cidade, década de 60”. Esta observação revela como as instituições internacionais foram concebidas em um contexto onde a maior parte da humanidade estava excluída dos processos decisórios globais, criando estruturas que perpetuaram essas exclusões mesmo após a descolonização.
O BRICS emerge não como um desafiador tardio da ordem estabelecida, mas como o porta-voz histórico dos países que sempre estiveram marginalizados nas estruturas de poder global. Esta legitimidade histórica confere ao bloco uma autoridade moral para propor alternativas ao sistema vigente, baseadas em princípios de maior equidade e representatividade.
A análise da professora sugere que o questionamento do BRICS à ordem liberal não representa uma ruptura revolucionária, mas sim a continuação lógica de um processo de democratização das relações internacionais que teve início com a descolonização. O bloco atua como catalisador de transformações que já estavam em curso, acelerando a transição para um sistema mais inclusivo e representativo.
A disputa pelos contornos da nova ordem internacional
Fernández identificou um momento crucial na evolução das relações internacionais contemporâneas: “existe uma disputa pelos contornos da nova ordem e a gente tem que estar à frente dessa disputa pela nova ordem internacional”. Esta observação captura a natureza transitória do momento atual, onde o antigo sistema está em declínio, mas o novo ainda está sendo moldado através de disputas geopolíticas.
O conflito na Ucrânia serviu como um laboratório para testar essas dinâmicas emergentes. Segundo a análise apresentada, durante o governo Biden, “muito se colocou essa posição do Brasil como uma posição que gerou estranhamento e uma pressão enorme para que o Brasil aderisse a um dos lados, não só o Brasil, mas os países do BRICS como um todo”. Esta pressão revelou uma tentativa de ressuscitar a lógica bipolar da Guerra Fria, dividindo o mundo “entre democracias versus regimes autoritários”.
A estratégia de divisão do BRICS tornou-se evidente através de iniciativas aparentemente acadêmicas. Fernández relatou sua experiência pessoal: “quando eu no BRICS Coliseum, por exemplo, eu recebia várias propostas para, vamos dizer assim, fazer alguns trabalhos, projetos voltados para o reforço da democracia do BRICS contra a China, a Rússia, etc. Obviamente, todos foram descartados”. Esta revelação expõe como atores externos tentam instrumentalizar conceitos como democracia para fragmentar alianças que desafiam a hegemonia ocidental.
Com a ascensão de Trump ao poder, as táticas mudaram, mas o objetivo permaneceu o mesmo. A professora observou “novas tentativas de dividir o BRICS” e “tentativas de se aproximar da Rússia”, sugerindo uma abordagem mais pragmática, mas igualmente direcionada à fragmentação do bloco. Estas estratégias revelam o reconhecimento, por parte das potências tradicionais, de que o BRICS representa uma ameaça real à ordem estabelecida.
Fernández comentou sobre o que chamou de “delírio normativo de Israel dos Estados Unidos”. Ela destacou como “Israel é claramente uma potência nuclear ainda que não declarada, um programa nuclear opaco, etc., se arrogando o direito de fazer um ataque ao Irã em função de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, ou seja, querendo impor uma norma que nem ele segue”. Este exemplo ilustra a hipocrisia das tentativas de manter a ordem através da força, enquanto se abandona qualquer pretensão de universalidade normativa.
Expansão do Brics+ e o princípio da representatividade eficiente
A expansão do BRICS para incluir novos membros representa um dos desenvolvimentos mais significativos na reconfiguração da ordem mundial contemporânea. Fernández destacou que “a gente tem esse movimento de expansão dos BRICS para outros países do Sul Global”, caracterizando este processo como a incorporação de “países que até então foram lidos como o resto do mundo”.
Esta expansão não ocorreu sem resistências internas. Conforme revelou a coordenadora do BRICS Policy Center, “dentro do Brasil, ou seja, existiram disputas burocráticas sobre esse processo de alargamento do BRICS, algumas pessoas da diplomacia entendendo que o BRICS não deveria se ampliar para além de 5”. No entanto, “acabou vencendo essa visão de um BRICS ampliado”, demonstrando a prevalência de uma perspectiva mais inclusiva para o futuro do bloco.
A justificativa teórica para essa expansão encontra respaldo nas reflexões de Celso Amorim, citadas por Fernández. O ex-chanceler brasileiro argumenta que “representatividade não é contrária a eficiência. Pelo contrário, órgãos mais representativos, seja as instituições Bretton Woods, Conselho de Segurança, BRICS, tornariam esses órgãos mais eficientes”. Esta perspectiva desafia a narrativa tradicional que opõe inclusão e eficácia, sugerindo que a legitimidade derivada da representatividade ampla pode aumentar a capacidade de ação das instituições.
A análise de Fernández incorpora também uma perspectiva feminista sobre governança, argumentando que “instituições mais representativas, elas são mais responsivas às necessidades das populações. Elas são capazes de fazer um melhor diagnóstico das necessidades locais”. Esta abordagem contrasta com o “pensamento hegemônico que diz que uma ou duas grandes potências são capazes, desde o topo, de ler o mundo”.
O conceito de multipolaridade, neste contexto, não se refere apenas à distribuição de poder militar ou econômico, mas a uma forma diferente de compreender e organizar as relações internacionais. Como observou a professora, “uma ordem mais multipolar, mais bem centralizada, ela pode, de alguma forma, fazer um diagnóstico melhor do sistema”. Esta descentralização do poder decisório permite uma compreensão mais nuançada dos desafios globais, incorporando perspectivas que tradicionalmente foram marginalizadas.
O “poder de atração do BRICS”, mencionado por Fernández, com “inúmeros estados querendo adentrar para o agrupamento”, reflete não apenas oportunidades econômicas, mas também a busca por um modelo alternativo de governança global. Este magnetismo do bloco sugere que sua proposta de multipolaridade ressoa com as aspirações de muitos países que se sentem excluídos ou sub-representados nas estruturas tradicionais de poder.
Justiça redistributiva e a agenda transformadora do Brics
A dimensão normativa do BRICS foi destacada por Fernández como um elemento fundamental para compreender o apelo do bloco. Segundo sua análise, o BRICS “nasce na esteira de movimentos, movimentos não alinhados, do movimento terceiro mundo”, estabelecendo uma continuidade histórica com as lutas por justiça global que marcaram o século XX.
Uma das características distintivas do BRICS, conforme enfatizado pela coordenadora do BRICS Policy Center, é que “uma das demandas centrais do BRICS é por justiça redistributiva, por redistribuição de recursos, por enfrentar as desigualdades”. Esta agenda vai além das considerações econômicas ou estratégicas, incorporando uma visão ética sobre como os recursos e oportunidades globais devem ser distribuídos.
A agenda brasileira para o BRICS em 2025 exemplifica essa abordagem transformadora. Fernández destacou “o tema do enfrentamento às doenças socialmente determinadas”, observando que essas enfermidades “recaem desproporcionalmente sobre populações racializadas, vulnerabilizadas”. Esta perspectiva revela como o bloco incorpora análises interseccionais que conectam questões de saúde pública com desigualdades estruturais baseadas em raça, classe e geografia.
O financiamento climático representa outro pilar dessa agenda redistributiva. A professora explicou que se trata da “ideia de que países que historicamente poluíram mais agora têm a responsabilidade e o dever de contribuir com o enfrentamento das mudanças climáticas”. Esta posição reconhece a responsabilidade histórica diferenciada dos países desenvolvidos e estabelece um princípio de justiça intergeracional que deve orientar as políticas climáticas globais.
A reforma das instituições internacionais completa essa tríade de prioridades transformadoras. Fernández observou que “o pessoal fala que a democracia é um problema no BRICS. Mas quem está, de alguma forma, demandando, eu acho que tem um silêncio quanto à democratização da governança global”. Esta observação expõe uma contradição no discurso das potências tradicionais, que defendem a democracia internamente enquanto resistem à democratização das estruturas de poder global.
A crítica da professora é contundente: “aqueles países que mais insistem na democracia no interior dos estados são muito vacilantes e excitantes quando a gente fala de democratizar conselhos de segurança, instituições financeiras internacionais, ou seja, o capital ainda se concentra em grandes potências”. Esta observação revela como o discurso democrático pode ser instrumentalizado para manter privilégios estruturais, enquanto se resiste a reformas que redistribuiriam poder real.
Democratização da governança global versus hegemonia do dólar
A questão da desdolarização emergiu como um dos temas mais sensíveis na análise de Fernández, revelando as tensões entre a busca por autonomia financeira e a manutenção da hegemonia americana. A reação de Trump às iniciativas de diversificação monetária foi reveladora: “a ameaça do Trump de impor 100% de tarifas se os países continuassem avançando na temática da desdolarização”.
Esta ameaça expõe a natureza coercitiva do sistema monetário internacional atual. Como observou Fernández, “quem ainda está ali reforçando a hegemonia do dólar como moeda de referência são os Estados Unidos, ou seja, tentando justamente manter um sistema antidemocrático”. A caracterização do sistema como “antidemocrático” revela como a concentração do poder monetário em uma única moeda nacional contradiz princípios básicos de soberania e autodeterminação.
O contraste entre o discurso democrático e a prática hegemônica torna-se evidente quando consideramos que os mesmos atores que promovem a democracia como valor universal resistem à democratização das estruturas financeiras globais. A manutenção forçada da hegemonia do dólar através de ameaças tarifárias representa uma forma de coerção econômica que contradiz os princípios de livre mercado defendidos pelas potências ocidentais.
A desdolarização, neste contexto, não representa apenas uma estratégia econômica, mas um ato de afirmação da soberania nacional e regional. Quando países optam por comercializar em suas moedas locais ou desenvolver sistemas de pagamento alternativos, estão exercendo um direito de autodeterminação econômica que o sistema atual tenta suprimir através de mecanismos coercitivos.
A análise de Fernández sugere que a resistência à desdolarização revela as contradições inerentes ao sistema liberal internacional. Enquanto se promove a liberdade de mercado e a soberania nacional como princípios fundamentais, a prática demonstra uma insistência na manutenção de estruturas que concentram poder e limitam as opções dos países em desenvolvimento.
Multipolaridade cultural e o direito à diversidade
Uma das contribuições originais da análise de Fernández foi sua expansão do conceito de multipolaridade para além das dimensões econômicas e políticas. Segundo ela, “a multipolaridade que está sendo reivindicada pelo BRICS é uma multipolaridade também, vamos dizer assim, econômica, política, cultural”. Esta visão holística reconhece que a transformação da ordem mundial deve abranger todas as esferas da experiência humana.
O conceito de “múltiplos processos de modernização” representa uma ruptura com as narrativas lineares de desenvolvimento que dominaram o pensamento ocidental. Fernández enfatizou que se trata do “direito, vamos dizer assim, de existirem múltiplos processos de modernização. A ideia de que modernizar não significa atropelar a tradição, não significa atropelar as culturas locais”. Esta perspectiva desafia a noção de que existe um único caminho válido para o desenvolvimento, reconhecendo a legitimidade de trajetórias alternativas que preservem identidades culturais específicas.
A facilitação do comércio em moedas locais exemplifica como questões aparentemente técnicas carregam significados políticos e culturais. Como observou a professora, esta prática pode ser vista “tanto desde o ponto de vista material, quanto do ponto de vista do valor. Ou seja, eu tenho o direito de comercializar a minha moeda”. O direito de usar a própria moeda em transações internacionais representa uma forma de afirmação da soberania cultural e econômica que vai além das considerações financeiras.
O exemplo dos acadêmicos chineses oferecido por Fernández é ilustrativo dessa dimensão cultural da multipolaridade. Durante uma palestra na PUC, “todos sabiam inglês. E eles falaram, não, a gente quer tradução”. A justificativa foi reveladora: “a tradução pra gente não é algo técnico, é algo político”. Esta posição demonstra como a escolha linguística pode ser um ato de resistência cultural e afirmação identitária, mesmo quando alternativas mais convenientes estão disponíveis.
Esta “defesa dessa heterogeneidade do mundo”, como caracterizou Fernández, representa uma das contribuições do BRICS para o debate sobre governança global. Ao contrário de modelos que promovem a homogeneização cultural como pré-requisito para a integração econômica, o bloco defende um paradigma que celebra e preserva a diversidade como fonte de riqueza e inovação.
A multipolaridade cultural proposta pelo BRICS não implica isolamento ou fragmentação, mas sim o reconhecimento de que a cooperação internacional pode ser mais rica e efetiva quando baseada no respeito mútuo às diferenças culturais. Esta abordagem contrasta com modelos assimilacionistas que exigem a adoção de padrões culturais dominantes como condição para a participação plena no sistema internacional.
Desafios futuros e a necessidade de transformações estruturais
Fernández reconheceu os desafios que ainda precisam ser enfrentados. Sua observação de que “a gente tem que avançar com várias outras pautas, olhar pra desigualdade no interior dos estados” revela uma consciência crítica sobre as limitações das transformações que operam exclusivamente no nível interestatal.
A professora foi enfática ao destacar que “formações profundas só vão ocorrer com os povos e não com estados, sentados, mesas de negociação”. Esta observação aponta para uma tensão entre a diplomacia tradicional, que opera através de negociações entre elites governamentais, e a necessidade de transformações que alcancem efetivamente as populações. O reconhecimento desta limitação sugere que o sucesso do projeto multipolar dependerá de sua capacidade de mobilizar apoio popular e gerar benefícios tangíveis para as sociedades.
A questão das desigualdades internas aos países do BRICS representa um desafio para a credibilidade do bloco. Como pode um agrupamento que defende a justiça redistributiva global manter legitimidade se não conseguir enfrentar adequadamente as desigualdades em seus próprios territórios? Esta tensão exige que os países membros desenvolvam políticas internas consistentes com os princípios que defendem no cenário internacional.
O futuro do BRICS+ dependerá de sua capacidade de equilibrar a expansão quantitativa com o aprofundamento qualitativo de suas propostas. A incorporação de novos membros amplia o poder de representação do bloco, mas também aumenta a complexidade de coordenação e pode diluir a coesão interna. O desafio será manter a unidade de propósito enquanto se acomoda uma diversidade crescente de interesses e perspectivas.
A resistência das potências tradicionais às transformações propostas pelo BRICS provavelmente se intensificará à medida que o bloco ganhar influência. As tentativas de fragmentação e cooptação, já identificadas por Fernández, podem se tornar mais sofisticadas e persistentes. A capacidade do BRICS de manter sua coesão diante dessas pressões será crucial para o sucesso de seu projeto transformador.
O Brics como catalisador de uma nova era
O discurso de Marta Fernández no Teatro Carlos Gomes ofereceu uma análise dos desafios e oportunidades que caracterizam o momento atual das relações internacionais. Sua exposição revelou como o BRICS+ representa mais do que uma aliança econômica ou estratégica, constituindo-se como um projeto civilizacional alternativo que desafia os fundamentos da ordem liberal estabelecida.
A contribuição da análise de Fernández foi demonstrar como as transformações em curso transcendem as dimensões geopolíticas, abrangendo questões sobre justiça, representatividade, diversidade cultural e sustentabilidade. O BRICS emerge não apenas como um contrapeso ao poder ocidental, mas como um laboratório para experimentar formas alternativas de organização das relações internacionais baseadas em princípios mais inclusivos e equitativos.
A defesa da multipolaridade apresentada pela coordenadora do BRICS Policy Center vai além da redistribuição de poder entre estados, propondo uma reconceptualização de como as sociedades humanas podem se organizar globalmente. A ênfase na diversidade cultural, na justiça redistributiva e na democratização da governança global oferece uma visão alternativa de modernidade que não exige a homogeneização cultural ou a subordinação aos padrões ocidentais.
Os desafios identificados por Fernández são significativos. A necessidade de enfrentar desigualdades internas, de mobilizar apoio popular para as transformações propostas e de resistir às tentativas de fragmentação externa exigirá estratégias e coordenação cuidadosa entre os países membros.
O momento histórico atual, caracterizado pela obsolescência reconhecida da ordem liberal e pela emergência de alternativas multipolares, oferece uma janela de oportunidade para transformações estruturais. O sucesso do projeto BRICS+ dependerá de sua capacidade de aproveitar essa oportunidade para construir instituições e práticas que materializem os princípios de justiça, representatividade e diversidade que defende.
A sessão no Teatro Carlos Gomes não foi apenas um evento acadêmico, mas um momento de reflexão sobre os rumos da humanidade em um período de transição histórica. As ideias apresentadas por Fernández contribuem para um debate sobre que tipo de ordem mundial queremos construir e como podemos superar as limitações e contradições do sistema atual.
O BRICS+, conforme retratado na análise de Fernández, representa uma aposta na possibilidade de construir um mundo mais justo, diverso e democrático. O sucesso dessa aposta dependerá não apenas da vontade política dos governos envolvidos, mas também da capacidade de mobilizar as sociedades civis e de criar instituições que efetivamente sirvam aos interesses da humanidade como um todo, e não apenas de suas elites dirigentes.