A Marinha manteve silêncio sobre o indiciamento do capitão-tenente Paulo Henrique Soares, acusado de peculato e associação criminosa no inquérito das joias sauditas. Soares teve uma mala com joias apreendida pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos em 2021, após retornar de uma viagem oficial à Arábia Saudita com o então ministro de Minas e Energia, almirante Luís Carlos Albuquerque, também indiciado pela Polícia Federal (PF).
A apreensão da mala de Soares foi o estopim para a Receita descobrir um esquema ilegal do governo para vender joias presenteadas ao Estado brasileiro. Os objetos seriam vendidos irregularmente e depois recomprados às pressas, esquema que levou o presidente a movimentar quase R$ 7 milhões, segundo a PF.
Durante a investigação, tanto Soares quanto Albuquerque deram declarações contraditórias. Inicialmente, o almirante afirmou que as joias eram um presente do governo saudita para a então primeira-dama Michelle Bolsonaro, enquanto Soares alegou que os itens eram um presente ao então ministro de Minas e Energia.
Em depoimentos posteriores, Albuquerque disse que recebeu as joias sem destinação específica, e Soares afirmou não saber que levava joias na mala.
Integrante da Força há 25 anos, o capitão-tenente ocupou um cargo de confiança no Ministério de Minas e Energia durante o governo Bolsonaro, de 2019 a 2022, e continua recebendo um salário de R$ 16,5 mil como militar.
A corporação foi questionada pelo Metrópoles sobre as providências tomadas em relação a Soares, a abertura de apuração interna e o cargo atual do capitão-tenente. Em resposta, a instituição afirmou que não se manifesta sobre investigações judiciais e que “acompanha” processos envolvendo seus militares.
Os valores obtidos com a venda ilegal das joias foram usados pelo ex-presidente para custear suas despesas nos Estados Unidos, de acordo com o relatório da PF. “A utilização de dinheiro em espécie para pagamento de despesas cotidianas é uma das formas mais usuais para reintegrar o ‘dinheiro sujo’ à economia formal, com aparência lícita”, aponta.
A Marinha aponta que o valor movimentado no esquema gera um “enriquecimento inadmissível pelo presidente da República, pelo simples fato de exercer uma função pública”. Bolsonaro foi indiciado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e peculato (apropriação de bem público) pela Polícia Federal.
Ao todo, 12 pessoas foram indiciadas pelo esquema. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo do inquérito e determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste em até 15 dias sobre o caso.