A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, abandonou uma audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado, nesta terça-feira (27), após ser alvo de interrupções sucessivas, ironias e frases de cunho abertamente misógino por parte de senadores.
O estopim foi a condução da sessão pelo senador Marcos Rogério (PL-RO), que não apenas interrompeu a ministra em sua exposição, chegando a cortar seu microfone, como recorreu a frases como “Essa é a educação da ministra Marina Silva”.
Ao ser confrontado por Marina, que respondeu que não se calaria, e que “talvez ele esperasse uma mulher submissa”, o senador devolveu com um imperativo violento: “Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar”.
Marina, com serenidade e firmeza, respondeu que “meu lugar é defender o meio ambiente. Esse é o meu lugar. E é um lugar que eu ocupo não por ser ministra, mas por ter compromisso com essa agenda desde que me entendo por gente”.
A sessão, que deveria ser espaço para o debate de políticas públicas, rapidamente se converteu em um espetáculo de deslegitimação. O senador Plínio Valério (PSDB-AM) tentou justificar sua hostilidade dizendo que a Marina mulher merece respeito, já “a ministra não”. Sem receber o pedido de desculpas que exigiu, Marina cumpriu o que anunciou. Levantou-se e deixou a sessão.
Vale lembrar que trata-se do senador que já havia dito publicamente que sentiu vontade de “enforcar” a ministra, uma frase que, em qualquer ambiente institucional sério, jamais passaria incólume.
Durante a audiência, o senador Omar Aziz (PSD-AM) também criticou a ministra Marina Silva, relacionando a falta de pavimentação da BR-319 ao colapso do sistema de saúde em Manaus durante a pandemia, especialmente pela dificuldade no envio de oxigênio. Aziz acusou Marina de travar grandes empreendimentos na Amazônia, incluindo a repavimentação da rodovia, que ele classificou como “compromisso do presidente Lula”, e defendeu a exploração mineral na região.
Embora Aziz não tenha atribuído diretamente a Marina a responsabilidade pelo colapso, a menção acabou usando a ministra como um “bode expiatório”, segundo ela. No entanto, Marina ressaltou que deixou o governo em 2008, muito antes da pandemia e dos eventos apontados, e que desde então passaram-se 15 anos em que governos sucessivos, incluindo o de Bolsonaro, não avançaram na obra. “Por que o governo Bolsonaro não fez?”, indagou, e criticou a tentativa de usar seu nome para mascarar a falta de ações concretas dos antigos gestores.
Enquanto isso, parte do Senado parece mais confortável em estender o tapete vermelho a influenciadores digitais que promovem apostas esportivas a respeitar uma ministra de Estado.
Após o episódio, Marina Silva recebeu manifestações de solidariedade de senadores da base do governo e de entidades da sociedade civil. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, classificou como “inadmissível o comportamento do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério, e do senador Plínio Valério. Totalmente ofensivos e desrespeitosos com a ministra, a mulher e a cidadã. Manifestamos repúdio aos agressores e total solidariedade do governo do presidente Lula à ministra Marina Silva”.
O gesto de Marina de se retirar da audiência foi uma firme demonstração da luta constante para permanecer de pé, com dignidade, em espaços que ainda resistem a aceitar mulheres que não se curvam.
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