“O que foi tomado pela força só pode ser recuperado pela força”, declarou Nasser, líder egípcio, em 1956, depois de tomar o Canal de Suez.

O conselho de Nasser permanece atual. Os países do Sul Global já não precisam retomar canais, embora talvez precisem defender um, o do Panamá, mas precisam se unir para enfrentar um imperialismo cada vez mais corrompido por guerras, sanções, tarifas e genocídios. 

Força não falta aos Brics. China e Rússia, juntas, são militarmente imbatíveis, e o bloco inteiro, incluindo o Brasil, reune um poder econômico, agrícola, industrial e tecnológico que as nações emergentes nunca tiveram no passado. 

Na pequena e combativa Maricá, cidade com cerca de 197 mil habitantes a 47 km da capital fluminense, mais alguns tijolos foram posicionados para a construção de um mundo novo.

“Vivemos um momento histórico em que uma velha ordem mundial, baseada na hegemonia imposta pela força, pela guerra e pelo egoísmo, está chegando ao fim”, declarou o prefeito Washington Quaquá durante a primeira Assembleia da Associação de Cidades e Municípios do BricsMais, realizada entre 26 e 28 de maio de 2025, na Arena da Barra, em Maricá.


(Prefeito de Maricá, Washington Quaquá).

O BRICS, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, expandiu-se significativamente nos últimos anos. Em 2024, o bloco incorporou seis novos membros: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Além disso, em janeiro de 2025, foram anunciados nove países parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão. Hoje, com onze países-membros plenos e nove parceiros, o grupo representa mais de 40% da população mundial e aproximadamente 37% do PIB global.

O compromisso do Brasil com um mundo multipolar foi reafirmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seu discurso por videoconferência na 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, na Rússia, em 23 de outubro de 2024.

Lula declarou: Na presidência brasileira do BRICS, queremos reafirmar a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países. O presidente também defendeu que o BRICS seja ator central na construção de uma governança internacional mais inclusiva e sustentável, destacando a importância de fortalecer a cooperação do Sul Global e de garantir que a voz dos governos prevaleça sobre interesses privados.

O evento em Maricá, que serviu como preparativo para a Cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro (marcada para 6 e 7 de julho no Museu de Arte Moderna), reuniu lideranças municipais de 26 países. Entre as autoridades presentes, destacaram-se o prefeito do Rio, Eduardo Paes, presidente da Frente Nacional de Prefeitos, e Ilsur Metshin, prefeito de Kazan (Rússia), que presidia a associação desde sua fundação em 2024.

A assembleia coincidiu com a eleição unânime de Quaquá para a presidência da Associação de Cidades e Municípios do BRICS+. Ele já comandava a Associação Brasileira de Municípios (ABM) e agora lidera uma associação vinculada a um bloco que representa 40% da economia mundial e quase metade da população global.

Segundo projeções do Fundo Monetário Internacional divulgadas em maio de 2025, o PIB do BRICS deve crescer 3,4% neste ano, superando significativamente a média mundial de 2,8%. Os países que lideram esse crescimento são Etiópia (6,6%), Índia (6,2%) e Indonésia (4,7%), conforme dados da Agência Gov.

O Brasil emerge com força inédita neste novo cenário. Nunca esteve tão fortalecido no comércio exterior. Suas reservas internacionais atingem patamares históricos. Suas instituições democráticas deram exemplo ao mundo de resistência a movimentos de desestabilização.

Não por acaso, este encontro ocorreu em Maricá, a joia rebelde dos municípios brasileiros. Com orçamento anual de R$ 7 bilhões para 2025 – superior ao de quatro capitais – e royalties de petróleo que alcançarão R$ 4 bilhões este ano, a cidade implementa políticas revolucionárias em vários campos, incluindo mobilidade urbana, crédito popular e educação.

O evento reforça que agentes políticos não devem ser meros administradores técnicos. Quaquá exemplifica o gestor que compreende sua dimensão política. Representa não apenas interesses administrativos, mas aspirações políticas dos cidadãos.

Nasser morreu em 1970, mas sua mensagem vive, o Egito hoje é parte dos BRICS.

Se fosse vivo, Nasser reconheceria no BRICS+ a continuidade de sua luta: a resistência contra a dominação imperial e a construção de alternativas soberanas. 

Os BRICS são mais importantes do que nunca neste momento em que o governo americano ataca o comércio internacional. O mundo inteiro está olhando para os BRICS com esperança de que o bloco possa trazer algumas soluções para um planeta em convulsão. 

É um bom momento para lembrar outra liderança histórica da luta anti-imperialista:

“Vamos construir juntos um mundo onde todos os povos possam viver em paz e dignidade. Esta é a primeira conferência intercontinental dos povos de cor na história da humanidade. Agora somos livres, soberanos e independentes. Somos, novamente, mestres em nossa própria casa”, arrematou Sukarno, presidente da Indonésia, ao final da famosa Conferência de Bandung, 1955, que deu início a um movimento similar aos Brics de hoje.

Fotos: Prefeitura de Maricá.

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Last Update: 29/05/2025