Por causa de Bolsonaro, Brasil pode pagar 50% em tarifas aos EUA
Ante ameaça de Trump de tarifas de 50% por causa de Bolsonaro e STF, opção é taxar multinacionais estadunidenses
Por Marcos de Oliveira, em Monitor Mercantil
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na tarde desta quarta-feira a aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, argumentando que esse alto imposto se deve não apenas ao déficit comercial (até porque os EUA têm superávit com o Brasil), mas também ao julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e pelo que Trump classifica de “ataques” à liberdade eleitoral e à liberdade de expressão.
“Conheci e lidei com o ex-presidente Jair Bolsonaro e o respeitei muito, assim como a maioria dos líderes de outros países. A maneira como o Brasil o tratou (…) um líder altamente respeitado no mundo durante seu tempo no cargo, incluindo os Estados Unidos, é uma vergonha internacional. O julgamento não deveria ocorrer. É uma caça às bruxas que deve terminar imediatamente”, disse ele em uma carta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, Trump ressaltou que a aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, além da questão de Bolsonaro, também se deve “em parte” às “centenas de ordens de censura secretas e ilegais emitidas contra plataformas de mídia social dos EUA”, citando o Supremo Tribunal Federal (STF).
EUA tiveram superávit de US$ 29 bilhões com Brasil na balança de bens e serviços
Em 2024, os Estados Unidos registraram superávit de US$ 29 bilhões na balança de bens e serviços com o Brasil. Nos últimos dez anos, esse superávit acumulado chegou a US$ 257 bilhões a favor dos Estados Unidos, divulgou, em abril, a Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio).
Em artigo publicado em junho, o economista francês Gabriel Zucman – que, ano passado, apresentou proposta de taxação mínima global sobre super-ricos no mundo encomendada pelo Brasil na presidência do G20 – escreveu que “a melhor resposta que outros países podem dar não é intensificar uma guerra tarifária, que não beneficiaria ninguém. Em vez disso, é atingir diretamente as multinacionais americanas e seus proprietários. O mundo precisa de tarifas não para as exportações americanas, mas para os oligarcas”.
Fora do nível político, Donald Trump pediu a Lula que entenda que essa taxa é “um valor muito menor do que o necessário para ter igualdade de condições” que os EUA precisam ter com o Brasil. “É necessário corrigir as graves injustiças do regime atual”, disse ele, antes de acrescentar que não haveria tarifas no caso de o Brasil ou suas empresas decidirem se mudar para os Estados Unidos.
Além disso, o ocupante da Casa Branca aproveitou a oportunidade para lembrar ao presidente brasileiro que, caso ele decida aumentar suas tarifas em resposta, Washington aplicará um novo aumento: “Seja qual for o número que você escolher para aumentá-las, ele será adicionado aos 50% que cobramos”, explicou, embora tenha reconhecido que essas medidas “podem ser modificadas para cima ou para baixo, dependendo da relação com o país”.
Trump ameaça impor tarifas a partir de 1º de agosto contra Filipinas e até Iraque
Horas antes, Trump havia anunciado tarifas contra as Filipinas, Argélia, Iraque, Líbia, Sri Lanka, Brunei e Moldávia no âmbito da guerra comercial que desencadeou meses atrás e em antecipação à entrada em vigor em 1º de agosto das taxas individualizadas por país.
Nos últimos dias, também comunicou medidas tarifárias contra o Japão, a Coreia do Sul, a Malásia, o Cazaquistão, a Tunísia, a África do Sul, a Bósnia-Herzegovina, a Indonésia, a Sérvia, Bangladesh, a Tailândia, o Camboja, a Birmânia e o Laos. Apesar das ameaças, o presidente dos EUA já adiou sucessivas vezes o início da imposição das tarifas contra vários países.
Em entrevista mais cedo, antes da confirmação da ameaça por Trump, o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que qualquer aumento de tarifas por parte dos EUA seria “injusto” e traria mais prejuízos à própria economia estadunidense do que ao Brasil.