A frente fria que atingiu Minas Gerais nos últimos dias trouxe uma preocupação em relação as doenças respiratórias. Os hospitais e postos de saúde estão cheios e os casos aumentam com os ambientes fechados, com aumento da contaminação. O cardiologista e clínico geral, Marcos Andrade (foto/reprodução internet), alerta para os cuidados necessários para evitar que uma gripe vire um problemão. 

Essa é a época do ano das gripes, viroses e das doenças respiratórias aparecerem. As vacinas que estão sendo oferecidas são suficientes para poder evitar maiores problemas?

Na verdade, o problema do frio é que ele leva a uma série de condições no organismo, porque as pessoas tendem a ficar mais próximas, mais juntas, em ambientes mais fechados, janelas fechadas. Com isso, a possibilidade das pessoas transmitirem as doenças respiratórias no inverno é muito maior. Todo mundo quer ficar dentro de casa, fechadinho e isso aumenta muito a possibilidade de contaminação, uma vez que a maioria dos vírus se transmitem pela via aérea. Então, quanto mais próximo as pessoas ficam, maior a possibilidade dos vírus passarem de uma para outra. Esse é um fato importante, que ajuda na propagação dos vírus. Isso é o grande problema do frio. Hoje, até pela capacidade maior de identificar os vírus, porque antigamente se falava as viroses e pronto, hoje você tem tudo através dos exames de laboratório, a possibilidade de separar quais são os vírus, identificar esses vírus, e com isso você faz o diagnósticos com o vírus A, vírus B quer dizer, então você consegue tipificar os vírus e, com isso, ter uma ideia de como é que as pessoas podem evoluir com determinados vírus, assim como as bactérias. Agora, estão começando a aparecer nos vírus. O vírus da influenza que é realmente o que está circulando no momento e é um tipo de vírus que leva muita bronquiolite. O que que é bronquiolite? Se você imaginar que a nossa árvore respiratória começa com a entrada do ar pela boca, e pelo nariz, que é uma entrada comum do ar. O alimento vai por um tubo comum, que depois leva para o esôfago e para a área alimentar e o ar vai para a parte respiratória. Então, se você imaginar uma árvore de cabeça para baixo, é assim que vemos o aparelho respiratório, onde você tem um brônquio, que se dividindo em sub troncos , sub ramos e lá na pontinha tem os alvéolos, onde termina a árvore respiratória. É no final que estão as “folhinhas” dessa árvore, e, entre essas folhinhas, os terminais são os alvéolos, os brônquios e os bronquíolos, que é a parte mais fina, onde o ar vai chegar e onde se faz a troca mesmo oxigênio pelo gás carbônico. Esses vírus atuais estão tendo uma predileção muito grande pelo acometimento dos bronquíolos e produzem uma bronquiolite. Vamos imaginar um balão de festa de criança. O alvéolo seria o balão e o biquinho ali do balão, seria o bronquíolo. Se você aperta o biquinho do balão, tudo o que é produzido dentro dos alvéolos não tem por onde sair e fica agarrado nos bronquíolos. Então você tem uma grande retenção de muco, esse líquido que é produzido no pulmão. Isso porque o pulmão produz um líquido, que é para lubrificá-lo. Mas esse líquido é muito rico em proteínas. Esses vírus que entram pela via expiratória, eles encontram esse líquido estagnado, preso no pulmão e aquilo é um meio de cultura para esses vírus. Então os bronquíolos ficam inflamados, cheios de vírus e aquela tosse cheia de secreção e a pessoa não consegue expectorar. As pessoas com bronquiolite ficam meses tossindo, tossindo, ficam dois, três meses tossindo e com uma grande dificuldade de eliminar essa secreção, porque ela está bem na parte distal da arvorezinha, perto das folhinhas lá no final.

Parece até uma alergia, não é?

 Exatamente. Não só parece uma alergia, como tem uns trabalhos muito recentes mostrando que o que acontece é que o organismo reage a esses vírus e é como se esses vírus fossem partidos em diversos segmentos. Nós temos um DNA do vírus, da mesma forma que temos o nosso DNA. No caso, o DNA do vírus é como fosse um pedaço de um fósforo. Se você partir esse pedaço de fósforo em vários pedaços, cada pedacinho desse passa a ter uma individualidade genética. E o que parece é que o organismo começa a reagir a cada pedacinho desse fósforo que foi quebrado. Cada pedacinho tem uma característica. Então é realmente isso, é como se fosse uma reação alérgica a cada fragmento do vírus. Quer dizer, o organismo reage ao vírus, o vírus é quebrado e o organismo desenvolve alergia a cada pedacinho dele, como se cada pedacinho dele fosse um outro vírus. Daí essa cronicidade dessas gripes. Tenho pacientes que ficam vários meses com esse bronquiolite que é a forma que está mais frequente hoje. 

Como evitar isso? 

A contaminação é por via aérea. Então se você está falando, você está eliminando pequenas partículas, de perdigotos, que o outro pode respirar aquilo, respirar próximo. É preciso evitar o respirar próximo e manter a distância, usar máscaras. Agora usar máscara é uma coisa complexa, tem que ser uma marca de qualidade, que o vírus não passa. A gente vê hoje as pessoas colocando uma máscara dentro do bolso, chega perto das pessoas com uma máscara sem vedação.

E as pessoas não têm o hábito de usar máscara, como no Japão, por exemplo?

Exatamente, tem que, realmente, usar em todas as condições de exposição e usar máscaras de qualidades, porque senão, não tem nenhuma efetividade. Uma efetividade prática no sentido de não permitir a circulação dos vírus. É preciso também aumentar a imunidade. Quanto menos imunidade a gente tem, mais vulneráveis estamos. É preciso ter cuidado com hábitos de vida. Se você é uma pessoa que pratica esporte, então a sua capacidade respiratória é boa, tem um pulmão bem desenvolvido e você está evitando ter doença no pulmão. Se você se alimenta bem – os nossos anticorpos eles se formam a partir de proteínas-, se você tem uma carga proteica boa, seu organismo terá uma boa capacidade de formação de antivírus naturais. Além dos exercícios e da boa alimentação, é preciso evitar os aglomerados. Se estiver em algum lugar fechado, aglomerado, faça o uso correto da máscara, porque ajuda sim.

Como manter a casa quentinha sem correr o risco de contaminação?

 Hoje temos esses sistemas todos de filtragem do ar, sistemas eletrônicos, todos de eliminação dos vírus. Tudo isso facilita, melhora muito. Fazer uma higienização de todos os móveis. As empresas usam substâncias químicas que matam os ácaros. Ter esses cuidados ambientais. Mas é preciso ter cuidado com as gripes. Se a temperatura do corpo começa a subir, se a secreção está clara, ela evolui normalmente bem. Mas se a pessoa começa a ter dificuldade para respirar, está com o catarro amarelado é preciso de cuidado médico imediato, porque ela pode se complicar, porque não é mais uma gripe, é uma infecção bacteriana, que pode evoluir para uma pneumonia e se complicar.

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Last Update: 14/06/2025