Desastre Anunciado na OMS
Por Marcelo Zero*
(Os negritos ao longo do artigo são do próprio autor)
A retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS) não surpreende. Trump iniciou o processo para sair da OMS em julho de 2020, durante seu primeiro mandato presidencial.
Ele disse que a organização era muito próxima da China e alegou, ao contrário das evidências, que a OMS havia ajudado a encobrir a disseminação inicial da COVID-19.
Como o processo de retirada leva um ano, o presidente Joe Biden conseguiu reverter a decisão, quando assumiu o cargo, em janeiro de 2021.
Agora, Trump tem uma chance real de se separar da agência de saúde das Nações Unidas, embora o Congresso possa tentar bloquear a ação, e provavelmente haveria esforços diplomáticos intensos para manter os EUA a bordo.
Uma saída entraria em vigor em janeiro de 2026, no mínimo. Isso colocaria os EUA na companhia de Liechtenstein, como os únicos países membros da ONU que não estão na OMS.
As consequências da saída dos EUA da OMS podem ser dramáticas. Além de suas taxas oficiais de filiação de aproximadamente US$ 110 milhões anualmente, os EUA são um dos maiores doadores voluntários, contribuindo com US$ 1,1 bilhão em 2022 e 2023, combinados.
Ao todo, o país fornece cerca de um quinto do orçamento da OMS. Outros membros podem compensar parte da diferença, como fizeram quando Trump cortou as contribuições dos EUA durante seu primeiro mandato.
Mas os países europeus estão enfrentando outros desafios, como economias estagnadas e pressão para aumentar os gastos com defesa, diz Ilona Kickbusch, especialista em saúde global do Graduate Institute of International and Development Studies.
Vozes céticas em relação à OMS também estão proliferando dentro da União Europeia, diz ela, e podem ser encorajadas a reduzir o financiamento se os EUA saírem.
A saída dos EUA também cortaria os laços da OMS com agências de classe mundial dos EUA, como os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e a Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), que atualmente fornecem orientação à OMS sobre uma série de tópicos — e recebem informações cruciais em troca.
Sair “isolaria o CDC de muita inteligência que é crucial para nossa segurança global”, diz a virologista Marion Koopmans, especialista em doenças infecciosas emergentes no Erasmus Medical Center, na Holanda.
Assim, a consequência principal dessa saída é o desmantelamento do sistema global de alerta do surgimento de epidemias, pandemias e novas doenças, o que seria prejudicial para todo o mundo, inclusive para os EUA.
Sem a OMS, o planeta perderia seu sistema de cooperação, inteligência, controle e articulação na área estratégica da saúde.
Um desastre.
*Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.