
Por Isabela Cunha
Da Página do MST
Desde o início de junho, seis comunidades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná estão desenvolvendo ações educacionais com foco em agroecologia e música. O projeto “Formação Inicial e Continuada em Educação Musical, Agroecologia e Educação do Campo”, popularmente chamado de “Educação em Agroecologia”, promove aulas de música, por meio da Orquestra Popular Camponesa, e de manejo agroecológico e cooperação familiar, no eixo dos saberes da agroecologia. Trata-se de um vasto programa de atividades formativas voltadas para as crianças e jovens Sem Terra da região.
O projeto acontece no espaço das escolas do campo em assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária, e é parte de uma iniciativa que identificou as ações de agroecologia e música que já aconteciam nas comunidades, propondo um plano de ação para fortalecê-las e intensificá-las. A viabilização do projeto veio por meio da parceria entre a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), órgão do Ministério da Educação (MEC), e o Instituto Federal do Paraná (IFPR), sob a coordenação do MST, e hoje, são 24 profissionais manejando hortas agroecológicas comunitárias e agroflorestas como laboratórios vivos do trabalho educativo, assim como ministrando aulas de música para 260 crianças e jovens do estado.
Valter Leite, da direção nacional do Setor de Educação do MST, avalia o projeto como uma “reparação histórica” que possibilita o acesso à música e aos fundamentos científicos da agroecologia para o povo camponês. “Além de viabilizar ações de construção e consolidação da Orquestra Camponesa, o projeto objetiva possibilitar o desenvolvimento de arranjos produtivos agroecológicos como hortas, agroflorestas, quintais produtivos entre outros enquanto laboratórios vivos de estudo e trabalho”, explica.

Escolas no centro
No cotidiano das escolas e das comunidades, o projeto já provoca transformações. Jovana Cestile, produtora agroecológica assentada no Eli Vive e uma das coordenadoras do projeto, identifica que a ação tem ajudado a sistematizar as reflexões acumuladas pelo Movimento ao longo da história. “O projeto tem esse compromisso de trabalhar a educação e a agroecologia nos espaços das escolas, vendo a escola como um espaço de aprendizagem mesmo, de troca de experiência e de preparação, de contribuir com as unidades produtivas das famílias”, avalia.
E é a partir das escolas que o projeto tem o seu centro de ação. Na prática, o que se prevê é que cada uma das escolas desenvolva pelo menos uma horta orgânica ou agrofloresta, ou um núcleo de ensino de música. “Todas as escolas já têm suas práticas agroecológicas com hortas, o trabalho já do tempo-trabalho nas escolas, nos núcleos setoriais de agroecologia, de agricultura, e o projeto então vem fortalecer e dar melhores condições a essas ações”, reforça.

Além de colocar a mão na terra para o cultivo, o projeto também prevê que as crianças Sem Terra possam tocar instrumentos musicais raramente vistos no campo. A Orquestra Popular Camponesa é uma dessas ações que já aconteciam nos territórios e que, a partir do projeto, puderam se fortalecer. “A gente entende que, seja nas periferias urbanas, seja nas áreas rurais, a arte e a cultura estão sempre negadas. Então a Orquestra tem esse objetivo, de que um menino, uma menina do campo possa tocar um violino nas mesmas condições dos melhores conservatórios dos centros urbanos”, explica Igor de Nadai, um dos coordenadores do projeto.
Hoje, além das aulas de violino, o projeto ainda promove aulas de violoncelo, viola de arco, trompete, trombone, flauta transversal, violão, percussão e nos próximos dias terá aulas de clarinete, instrumentos que as crianças estudam em conjunto, tocam coletivamente e levam para casa para o estudo individual. “Sonhar uma Orquestra no campo é sonhar coletivamente com a transformação humana da sociedade, e as nossas crianças têm demonstrado a sua plena condição de fazer música de excelência nas nossas comunidades rurais”, complementa.

O projeto Educação em Agroecologia atende hoje crianças e jovens estudantes de 6 a 17 anos dos Assentamento Eli Vive (Londrina), do Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu (Porecatu), do Assentamento Dorcelina Folador (Arapongas), do Assentamento Valmir Motta de Oliveira (Cascavel), Acampamento Maila Sabrina (Ortigueira) e do Acampamento Zilda Arns (Florestópolis). Todos com uma ação de agroecologia e/ou de música.
Para Jovana, essa é uma ação que possibilita, fortalecer a discussão em torno da agroecologia e a implementação das práticas da agroecologia. “As experiências que forem desenvolvidas nas escolas podem se irradiar pelas comunidades onde está sendo desenvolvido o projeto. Mas também, incentivar outras comunidades a também fortalecerem as práticas agroecológicas”, avalia.
Valter concorda, e analisa que o projeto caminha junto das intenções do MST. “Se faz, sem dúvidas, um crucial trabalho educativo de democratização do acesso à Educação Musical e à massificação das bases científicas da agroecologia, duas dimensões imprescindíveis na luta e construção da Reforma Agrária Popular”, analisa Leite.
*Editado por Gabriel Vargas