Não se deixe enganar, foi uma captura

O embaixador norte-americano, Charles Burke Elbrick, foi capturado há 56 anos no Rio de Janeiro

Por Manoel Cyrillo de Oliveira Netto, no Holofote Notícias

Até o início de 1963, tínhamos um projeto de país. Naquele instante, o nosso presidente era o trabalhista gaúcho João Goulart.

Goulart foi democraticamente eleito e cumpria o seu mandato de forma honrada e respeitosa -era aceito até mesmo pela oposição democrática.

Mas os traidores da pátria, os Eduardo Bananinha da época (fardados ou não), o tachavam de “um agente da União Soviética”, que obedientemente seguia as ordens de Moscou: “um comunista”!

Em um comício festivo na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, o presidente João Goulart anunciou um amplo programa de reformas (que o nomeou como Reformas de Base) que encaminharia ao Congresso.

E os Eduardo Bananinhas da época (fardados ou não) diziam que aquilo era puro comunismo.

Mas, que Reformas de Base eram aquelas?

A primeiríssima, claro, era a “maledetta” Reforma Agrária: o plano criminoso era tomar as terras -aquelas comprovadamente improdutivas- de seus “legítimos donos”, gente das tradicionais famílias brasileiras, fatiá-las e entregar aquele tesouro aos trabalhadores rurais, um povo grosseiro e ignorante. Um descalabro!!!

Mas, tinha mais. Tinha a Reforma Urbana, que violentava o sacrossanto direito de propriedade: você acredita que, com essa leizinha, tinham em mente “regulamentar” os aluguéis de casas e apartamentos.

E o que dizer da Reforma Eleitoral, que o tiranete Goulart queria impor: ela previa dar título eleitoral para analfabetos, loucura!

Goulart, com esse programa de valorização popular, contrariava os interesses e a cobiça do império norte-americano.

Ele teria que ser afastado. E foi, dane-se o Brasil e os brasileiros!

No dia 31 de março de 64, aconteceu o golpe militar. Os Eduardo Bananinhas da época (fardados ou não), passaram a mandar no país.

Com os tanques nas ruas e de armas na mão, impuseram o “arrocho salarial” ou, em português claro, os salários dos trabalhadores deixaram de ser corrigidos; proibiram músicas e peças teatrais, calaram cantores, agrediram estudantes, empastelaram jornais, prenderam e/ou mataram jornalistas, assassinaram ou desapareceram com os “inimigos internos”.

Inimigo interno era o cidadão que discordasse da ditadura -um dos eufemismos mais utilizados pelos militares…

E não restava alternativa para a ditadura militar: era preciso governar com mãos de ferro e reprimir a população com extrema violência para ter a chance de colocar em prática uma economia entreguista como a deles e profundamente anti-nacional.

E, de minha parte, como nunca aceitei isso, NUNCA, em dezembro de 1968 entrei para a ALN -Ação Libertadora Nacional e, no dia 4 de setembro de 1969, participei da ação de captura do embaixador norte-americano, o Sr. Chales Burke Elbrick. E, posteriormente, negociamos com a ditadura uma troca de prisioneiros.

Assim, nós libertamos o nosso prisioneiro (o embaixador) e a ditadura libertou 15 resistentes presos, 15 presos políticos.

Uma curiosidade: até aquele momento a ditadura militar negava a existência de tortura e de presos políticos…

Como outro dia disse o presidente Lula, a soberania é inegociável!

Na base militar do Galeão, em frente ao Hércules que os levaria para o México, 13 dos 15 presos políticos libertados após a captura do embaixador Elbrick, entre eles o ex-ministro José Dirceu. Foto: Divulgação

Manoel Cyrillo de Oliveira Netto é publicitário, resistiu à ditadura militar, foi guerrilheiro urbano da ALN (Ação Libertadora Nacional), participou de várias ações armadas, entre elas a da captura do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Preso político, permaneceu encarcerado por 10 anos. Fora da prisão, ganhou a medalha de ouro com a peça publicitária Çuikiri no 37th New York Festivals Advertising Awards, o Festival Internacional de Propaganda de Nova York, e foi recebê-la nos Estados Unidos em 1991.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

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Last Update: 04/09/2025