Allan Alves Rodrigues

Nos últimos vinte anos, as redes sociais transformaram profundamente a comunicação, interação e consumo de informações. Inicialmente projetadas para conectar pessoas, rapidamente se tornaram pilares de um modelo de negócios orientado por dados, impactando significativamente as dinâmicas sociais e políticas globais.

A inteligência artificial, com sua capacidade de processar grandes volumes de dados e identificar padrões complexos, intensifica as disputas de narrativas e a disseminação de desinformação, especialmente promovidas por movimentos de extrema direita e pelo novo conservadorismo.

Para compreender melhor esse fenômeno, quatro conceitos fundamentais serão explorados: a reflexividade social e a dupla hermenêutica, conforme desenvolvida por Anthony Giddens; e a semântica social e autorreferência, pensada por Niklas Luhmann.

A integração da inteligência artificial nas plataformas de redes sociais não apenas facilita a personalização e segmentação de mensagens, mas amplia o alcance das narrativas conservadoras. Isso representa um desafio significativo para a integridade da comunicação e a capacidade das sociedades de manter debates públicos informados e equilibrados.

A crise sistêmica da modernidade liberal, intensificada pela modernidade reflexiva, cria um terreno fértil para a ascensão do conservadorismo e da extrema direita. As redes sociais e a inteligência artificial são componentes centrais nesse processo, oferecendo novas formas de engajamento e identidade coletiva que desafiam as estruturas democráticas tradicionais.

A necessidade de desenvolver mecanismos de regulamentação e transparência é urgente para mitigar os riscos associados a essas tecnologias emergentes e proteger a saúde do discurso público e a estabilidade das instituições democráticas.

Vivemos uma crise sistêmica abrangente que afeta aspectos sociais, políticos, ambientais e psíquicos, gerando o que Anthony Giddens descreve como insegurança ontológica. Essa insegurança é alimentada pela constante transformação e complexidade do mundo moderno, exacerbada por rápidas mudanças tecnológicas e pela globalização.

Para enfrentar essa crise sistêmica, é imperativo desenvolver políticas que promovam a transparência e a responsabilidade nas tecnologias emergentes, além de fortalecer as instituições democráticas para torná-las mais inclusivas e representativas.

A democracia não está morrendo, mas sua expressão moderna liberal revela contradições cada vez mais evidentes. Sem uma ponte de comunicação reinventada entre Estado e sociedade civil, essa lacuna será aprofundada.

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Allan Alves Rodrigues, pesquisador da Cátedra Oscar Sala do Instituto de Estudos Avançados da USP

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Última Atualização: 21/08/2024