A manifestação pró-Bolsonaro realizada neste domingo (29) acabou com a “lua de mel” criada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A persona que subiu no trio elétrico na capital paulista para usá-lo como palanque eleitoral se portou de forma completamente diferente da que compareceu ao julgamento na Suprema Corte, no último dia 11.
A primeira farsa que caiu por terra neste domingo foi a cordialidade com o ministro e relator da ação, Alexandre de Moraes, a quem Bolsonaro chegou a convidar para integrar uma suposta chapa presidencial para 2026 e ainda foi chamado de “meu ministro”. Bolsonaro está inelegível, porém, até 2030.
Réu com julgamento em trânsito, Bolsonaro não se atreveu a falar de Moraes. Coube ao pastor Silas Malafaia, organizador do evento e um dos principais cabos eleitorais do ex-presidente, a função de atacar o decano.
Malafaia negou que estivesse fazendo acusações levianas porque não é criança. Também refutou que estivesse fazendo calúnia ou difamação. “Não podemos deixar de que o STF acaba de dar um jeito de instituir a censura nas redes sociais”, iniciou.
Para o religioso, a decisão da Suprema Corte na última semana, em que foi decidido que as plataformas terão de remover conteúdos sem decisões judiciais. Para ele, foi uma forma de terceirizar a censura e calar o povo brasileiro.
“[O ex-ajudante de ordens Mauro] Cid esculhambou Alexandre de Moraes, esculhambou o delegado do Polícia Federal”, apontou Malafaia, sem provas do que estava dizendo.
O cabo eleitoral alegou ainda que haveria um conluio comandado por Moraes, tendo em vista que Cid vazou informações sobre a delação que acordou com a Suprema Corte – fato pela qual deveria ser cancelada. No entanto, segundo o religioso, se Moraes o fizer, cairiam todas as acusações contra Bolsonaro. “Esse inquérito já tá consumado. Só tem narrativa e não fatos.”
Malafaia e os bolsonaristas demonstram ainda como é ruim ter de provar do próprio veneno. “O que há é uma perseguição vergonhosa de uma farsa de pseudogolpe para tirar você do jogo”, afirmou o pastor.
Mas foi exatamente o que aconteceu com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), perseguido pelo juiz Sérgio Moro para que fosse impedido de disputar as eleições em 2018. Eleito, Bolsonaro alçou Moro ao Ministério da Justiça.
A grande diferença é que Lula conseguiu reverter a decisão. Já Bolsonaro tenta garantir a anistia a qualquer custo para evitar uma eventual condenação.
Segunda farsa: sobre os apoiadores
Chamados de “malucos” durante julgamento, os golpistas que participaram do ataque às Sedes dos Três Poderes agora voltaram a ser chamados de apoiadores e pintados como inocentes.
Segundo o ex-presidente, a depredação foi orquestrada pela esquerda, já que “as imagens de quase 200 câmeras sumiram e que tudo foi quebrado antes da chegada das pessoas dos acampamentos” na capital federal.
Mas a grande questão que ficou evidente na manifestação deste domingo foi como a defesa de anistia para os condenados pelos atos golpistas foi usada, apenas, para safar o próprio Jair Bolsonaro.
Os já condenados pela depredação das Sedes dos Três Poderes foram citados apenas pontualmente para exemplificar um suposto abuso de poder de Alexandre de Moraes.
Todo o restante do ato foi usado por Bolsonaro e aliados para relembrar os supostos feitos do ex-presidente entre 2018 e 2022, tecer críticas ao atual governo, convencer o público de que é vítima de perseguição política e ditar os próximos passos da extrema-direita brasileira: dar a Bolsonaro (que está inelegível), além de um novo mandato, 50% da Câmara e do Senado.
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