Mais velha, menos diversa: a nova cara do Parlamento alemão

Entre os 630 deputados empossados no Bundestag, mulheres, jovens, pessoas da classe trabalhadora e descendentes de estrangeiros ainda são sub-representados.

Caberá à nova legislatura escolher, por votação, quem será o próximo chanceler federal da Alemanha e líder da coalizão de governo que substituirá o social-democrata Olaf Scholz no comando da terceira maior economia do mundo.

O provável novo chanceler federal, Friedrich Merz, da aliança conservadora pela União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU), tenta no momento formar uma coalizão de governo com o Partido Social Democrata (SPD) de Scholz. Os termos do acordo ainda estão em negociação, mas a expectativa é que ele seja concluído até a Páscoa, no mais tardar. Até lá, Scholz e sua equipe de ministros continuam governando interinamente.

No Bundestag, a sessão inaugural é tradicionalmente aberta pelo deputado mais longevo da Casa. Desta vez, o papel coube a Gregor Gysi, de 77 anos. Advogado do Leste alemão, ele deu seus primeiros passos na política em 1989, quando o regime da antiga Alemanha Oriental começou a ruir. Homem forte do partido A Esquerda, ele foi eleito ao Bundestag em 1990, logo após a Reunificação Alemã, e mantém cadeira cativa no Parlamento desde 2005.

Do outro lado da pirâmide demográfica do Parlamento está o também esquerdista Lukas Hoss, de 23 anos. Eleito pelo distrito bávaro ultraconservador de Passau, ele é o mais jovem deputado da Alemanha, e quer atuar nos próximos quatro anos principalmente no combate à pobreza. Filho de mãe solo, Hoss já anunciou que pretende doar 8,5 mil dos 11 mil euros do salário de deputado a pessoas carentes, projetos sociais e ao partido A Esquerda.

“Os partidos deveriam se ocupar dos problemas concretos das pessoas. Hoje,eles são salários, preços e uma infraestrutura sucateada. Há muito o que fazer”, diz Hoss à DW.

 

Hoss faz parte do grupo de 46 jovens deputados – isto é, eleitos com até 30 anos – que querem ajudar a definir os rumos políticos da Alemanha. Em termos relativos, essa bancada jovem representa 7,5% do Parlamento – ligeiro aumento em relação aos 6,5% eleitos em 2021, mas ainda longe dos 12,7% de jovens que de fato compõem a sociedade alemã.

Para Hoss, não há dúvidas de que um Bundestag mais jovem tomaria outras decisões. “Existe essa ideia de que a gente primeiro deveria deixar os ‘mais velhos’ fazerem as coisas, e que nós, os jovens, ainda não sabemos muita coisa. Não acho isso bom. Quem pode trazer à tona os temas dos jovens melhor do que nós mesmos?”

Representação feminina no Bundestag diminui

Além dos jovens, mulheres também estão sub-representadas no Bundestag, exercendo pouco menos de um terço dos mandatos. A bancada feminina encolheu, passando de cerca de 36% para 32,5%. Uma das explicações para isso é o bom desempenho nas urnas dos partidos CSU e Alternativa para a Alemanha (AfD), que não têm cota mínima para candidatas mulheres. No caso da AfD, que fez campanha com Alice Weidel, a bancada feminina não chega a 12%.

Para a cientista política Ursula Münch, diretora da Academia para Formação Política em Tutzing, na Baviera, a explicação para a baixa representação de mulheres é outra: “O problema começa com o fato de que há poucas mulheres nos partidos políticos.”

Mas o Parlamento não tem o dever de espelhar fielmente a sociedade, argumenta Münch: “Representação quer dizer abordar as questões em nome de outras pessoas.”

Muitos juristas, poucos representantes da classe trabalhadora

No Parlamento, os deputados têm que representar também a classe trabalhadora – composta na Alemanha por quem exerce trabalhos braçais ou manuais e que não têm nível superior.

Em 1949, na primeira legislatura da Alemanha Ocidental do pós-guerra, 18% dos deputados pertenciam à classe trabalhadora. Hoje, esse número caiu para 3%. Por outro lado, um em cada cinco deputados é formado em direito; outros 17% exerciam profissões ligadas à administração de empresas.

Para Münch, isso tem a ver com a organização do trabalho dentro dos partidos: “Muitos cronogramas partidários são planejados pensando em acadêmicos, que têm uma agenda mais flexível. Essas pessoas podem ficar em home office; uma vendedora ou caixa de supermercado, não.” Segundo a cientista política, essa dinâmica leva à ascensão nos partidos daqueles que marcam mais presença, não necessariamente de quem tem as melhores ideias.

Münch defende que os partidos precisam tentar recrutar mais trabalhadores. Ela cita como exemplo o caso do SPD, que, ao defender a educação como instrumento de ascensão social, acabou se distanciando do seu eleitorado tradicional. “Isso funcionou muito bem no final dos anos 1960, 1970. E fez do SPD hoje um partido de acadêmicos, de professores, de funcionários públicos, juristas e ONGs. Mas já não é mais um partido dos trabalhadores”, observa.

Poucos representantes ligados à comunidade imigrante

A 21ª legislatura do Bundestag não é só mais masculina e mais acadêmica; é também relativamente pouco diversa do ponto de vista étnico. Ao menos 73 deputados (11,6%) são filhos de migrantes ou migraram eles mesmos para a Alemanha, segundo levantamento do Mediendienst Integration, uma ONG que informa sobre migração e discriminação na Alemanha.

Esse grupo também está sub-representado no Parlamento. Na Alemanha, o percentual de pessoas com histórico de migração (migrantes e filhos de migrantes) é de quase 30%. Mas mesmo considerando apenas aqueles que têm direito a votar – ou seja, aqueles com cidadania alemã –, esse percentual ainda é de 14,4%.

Presidente do Conselho Nacional de Migração e Integração (BZI), Didem Laçin Karabulut alerta que o déficit de representação no Parlamento só aumenta: “Alguns grupos em nossa sociedade têm sistematicamente piores chances de representação política. Isso é um déficit democrático estrutural. Uma democracia só pode ser forte se todas as pessoas forem igualmente envolvidas, independente de origem, sexo e status social.”

 

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