Nesta segunda-feira (24), o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, participou de uma acareação com o general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice na chapa do ex-presidente. O objetivo do confronto era esclarecer uma das principais acusações feitas por Cid em sua delação: a de que teria recebido uma caixa com dinheiro das mãos de Braga Netto, no Palácio da Alvorada, para ser entregue a um terceiro envolvido na suposta articulação de um golpe de Estado.
Braga Netto negou categoricamente a acusação. E, mais uma vez, o delator — que vem sendo desmoralizado a cada novo depoimento — recuou. Cid declarou que não viu o conteúdo da caixa, apenas presumiu que havia dinheiro dentro com base no peso do objeto. Disse que a caixa era de vinho, que não a abriu, e que, portanto, não podia afirmar com certeza o que havia ali. Ou seja: é como se alguém dissesse que acha que uma caixa tem uma bomba dentro, mas sem nunca tê-la visto.
O próprio Cid reconheceu que tudo não passa de suposições. A cena descrita por ele — a entrega da caixa, o local, a presença de terceiros — perdeu toda a força probatória diante das contradições. Na prática, o confronto não provou absolutamente nada. Pelo contrário: mostrou que nem mesmo há prova de que Braga Netto tenha entregue qualquer valor ao ajudante de ordens de Bolsonaro.
Cid também contou que, em outro momento, teria dito a Braga Netto que precisava levantar recursos junto ao PL, mas o general o encaminhou ao tesoureiro do partido, que recusou o pedido. Mais uma vez, nenhuma prova, apenas relatos vagos e sem sustentação.
Outro fato revelador do dia foi a decisão do ministro Alexandre de Moraes de proibir a gravação da acareação. A suspeita é evidente: já se esperava que o depoimento não produziria nada — e que apenas confirmaria o que tem sido cada vez mais claro para quem observa o caso com seriedade. A delação de Cid, apresentada como peça-chave para incriminar Bolsonaro e seus aliados, está ruindo.
Na semana passada, o próprio Cid negou que Bolsonaro tenha participado diretamente de qualquer ação golpista ou tenha tomado para si a liderança de uma tentativa de ruptura institucional. Em vez disso, o que se revelou foi o caráter coercitivo da delação. Vídeos mostram que Alexandre de Moraes ameaçou investigar familiares do tenente-coronel caso ele não colaborasse. Trata-se, portanto, de uma delação sob pressão — e não premiada.
O episódio desta segunda é apenas mais um capítulo da farsa montada para incriminar adversários do regime. A cada novo depoimento, mais se evidencia que não há provas, que os delatores estão sendo usados como instrumentos de perseguição e que o STF age como um tribunal de exceção.
Enquanto isso, o governo Lula assiste a tudo calado — ou melhor, cúmplice. A política de conciliação com o Judiciário e o imperialismo tem levado o governo a se calar diante de um processo que, claramente, tem como alvo o movimento popular e a liberdade política no País.