Mais demagogia por parte da esquerda identitária

A jornalista Sara York publicou no portal Brasil 247 na última segunda-feira (3) um artigo intitulado O Capitalismo de Desastres, destacando que “políticos conservadores usam questões de gênero para polarizar a sociedade e desviar o foco de problemas estruturais de desigualdade”. Para isso, a autora toma emprestado a frase da jornalista canadense Naomi Klein, autora da obra A Doutrina Do Choque. Na obra, Klein denuncia a monstruosidade inerente ao neoliberalismo, que, curiosamente, é a ideologia econômica do imperialismo, assim como o identitarismo é a ideologia social, de modo que na realidade, o identitarismo de York está muito mais próximo ao “Capitalismo de Desastres” do que supõe a autora, que diz:

“Trump, ao atacar a comunidade trans, não faz apenas uma crítica moralista; ele também está explorando um tipo de ‘capitalismo de desastres’ político. Ao associar políticas de inclusão e diversidade com falhas ou acidentes, ele tenta desacreditar movimentos sociais que buscam justiça para pessoas trans e para outras minorias. Esse tipo de retórica cria uma crise social de medo e insegurança, que facilita a implementação de políticas regressivas que beneficiam certos grupos em detrimento da igualdade social e de direitos. Assim como no capitalismo de desastres, onde crises são utilizadas como pretexto para desregulamentação e privatizações, nesse contexto as políticas públicas de inclusão são retratadas como um ‘perigo’ que deve ser revertido, gerando uma crise artificial de ‘valores’ sejam eles quais ou quantos forem necessários.”

Ora, a própria autora reconhece que o presidente norte-americano Donald Trump não fez mais do que “uma crítica moralista” aos transexuais. A posição em si interessa menos a York do que o fato de Trump ter expressado seu ponto de vista. Trata-se de uma política tipicamente identitária, na qual o problema do mundo reside no fato de as pessoas falarem determinadas coisas, consideradas desagradáveis.

Desta forma, as ações importam menos do que a expressão de opiniões, independente de quais sejam os valores a elas atribuídos. Isso dito, como uma “retórica”, pode ser mais danoso do que o cerceamento da expressão de uma opinião, é um mistério que York não se dá ao trabalho de responder. A política da jornalista brasileira, contudo, é o que cria um ambiente propício para “desacreditar movimentos sociais que buscam justiça para pessoas trans e para outras minorias”.

À medida que tentam converter a comunidade LGBT em um setor privilegiado, que não pode ser criticado nem nada parecido, o que os identitários efetivamente fazem é aumentar a antipatia da imensa massa de oprimidos, cuja tendência natural é nutrir desconfiança com detentores de privilégios. Aqui, vale a famosa Terceira Lei de Newton: quanto maior a pressão dos identitários para atacar críticas à comunidade LGBT, maior a reação da população contra esse minúsculo grupo social.

Dito isso, a tática de usar uma fala de um direitista (ou esquerdista, que também costumam ser atacados pelas interpretações, cabíveis ou não, a uma determinada opinião) para alardear um “perigo na esquina” contra os LGBTs e, com isso, um programa repressivo, voltado a atacar direitos democráticos duramente conquistados como a liberdade de expressão, a liberdade de associação, entre outros, está muito mais próximo do senso de oportunidade desprovido de princípios do qual Klein trata em sua obra.

A utilização do conceito de “capitalismo de desastre” de Klein para tratar de uma política que não é econômica, mas social, é estranha, mas uma vez que York julgou pertinente para defender a sua posição, é preciso mostrar que, na prática, é a colunista do Brasil 247 que está tentando “passar a boiada”, como disse o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, em episódio lembrado por York.

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