O Reino Unido deportou, entre agosto e setembro, mais de 600 brasileiros, incluindo 109 crianças, de acordo com reportagem do jornal The Guardian.
Os brasileiros foram embarcados em três voos secretos do Ministério do Interior. Trata-se de um recorde, pois o governo britânico nunca deportou tantas pessoas de uma mesma nacionalidade antes.
Dados indicam que 205 pessoas, das quais 43 crianças, foram deportadas em 9 de agosto. Já em 23 de agosto, mais 206 brasileiros foram deportados, sendo 30 crianças. Por fim, em 27 de setembro, outras 218 pessoas foram retiradas do país, das quais 36 eram crianças.
De acordo com o governo britânico, os deportados eram pessoas cujo visto estava expirado e que decidiram deixar o país voluntariamente, a partir de um incentivo de três mil libras, valor pago por meio de um cartão pré-pago carregado quando o deportado pousa no país de origem.
O Ministério do Interior informou ainda que foram deportadas 8.308 pessoas entre julho e setembro, de forma voluntária ou forçada, número que representa aumento de 16% em comparação ao mesmo período de 2023.
Organizações de Direitos Humanos latino-americanas demonstraram preocupação em relação ao feito do Reino Unido ao expulsar do país um número tão grande de pessoas de uma mesma nacionalidade, especialmente crianças que já estavam habituadas ao sistema escolar e que, provavelmente, nunca estiveram em seus países de origem.
“Sendo a maior comunidade latino-americana no Reino Unido, os brasileiros enfrentam barreiras significativas no acesso a informações de alta qualidade e aconselhamento jurídico credenciado, especialmente em seu próprio idioma. Muitos chegaram através da migração progressiva de países da União Europeia (UE). No entanto, as mudanças nas regras de imigração pós-Brexit deixaram centenas deles e os seus familiares não pertencentes à UE em risco de verem os seus direitos negados devido à desinformação e aos rigorosos requisitos de elegibilidade”, informou a Coalizão de Latino-Americanos no Reino Unido.
A organização afirmou ainda que mulheres brasileiras estão mais expostas às consequências de deportação em massa do governo britânico, especialmente as que já têm um histórico de violência de gênero.
“Estas mulheres frequentemente apanhavam de parceiros abusivos, que utilizavam os passaportes como forma de controle e impediam caminhos de segurança ou fixação no país”, informa a organização.
Em um dos casos, uma mãe de dois filhos, que fugia da violência doméstica, teve de se deslocar entre três hoteis e teve o visto chamado de Concessão para Vítimas Migrantes de Abuso Doméstico, que permite que vítimas migrantes de violência doméstica permaneçam no Reino Unido, negado.
Organizações ressaltam ainda que o número de pessoas que realmente quiseram voltar ao Brasil é desconhecido, mas que provavelmente o fizeram por garantia de segurança e por sentirem que não tinham escolha a não ser embarcar nos aviões do Reino Unido.
“O governo deve responder aos nossos pedidos de rotas justas, acessíveis e seguras para a cidadania e o assentamento para as muitas comunidades que criaram raízes neste país”, disseram os membros da coligação.
Mas, segundo o Ministério do Interior, o plano é acelerar o retorno dos que “não têm o direito de estar no Reino Unido”, assim como a remoção de infratores e requerentes de asilo que tiveram o pedido negado, para reduzir custos de alojamento que somaram, nos últimos dois anos, quatro milhões de libras.
*Com informações do The Guardian.
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