Um grupo de mais de 1.200 oficiais das Forças de Defesa de Israel (IDF), incluindo membros da Força Aérea na ativa e na reserva, assinou uma carta aberta nesta terça-feira (28) exigindo o fim da guerra em Gaza.

No texto, os signatários acusam o governo de conduzir uma guerra de motivação política, afirmam que a continuidade do conflito contraria a segurança nacional e alertam para a possibilidade de crimes de guerra.

“Continuar a guerra vai contra a vontade da esmagadora maioria da população, resultará na morte de reféns, soldados das FDI e civis inocentes, e pode até levar à prática de crimes de guerra”, afirma o documento, segundo reportagem do jornal Haaretz.

A carta também denuncia que o objetivo real da operação militar seria “preparar a ocupação de Gaza e implementar a visão messiânica de uma pequena minoria da sociedade israelense”.

Dissidência militar ganha força

Os autores desta nova carta são os mesmos que já haviam redigido, no mês passado, uma declaração pública com conteúdo semelhante. Na ocasião, cerca de mil integrantes da Força Aérea assinaram o documento, alguns dos quais foram dispensados do serviço de reserva após decisão do chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir.

A repressão, no entanto, não freou o movimento: semanas depois, outros 1.500 veteranos de unidades de elite e da infantaria se somaram ao apelo pelo fim da guerra e pelo retorno imediato dos reféns.

Nesta semana, um novo episódio marcou a crise interna nas IDF. O capitão Ron Feiner, de 26 anos, se recusou a continuar servindo após mais de 270 dias de missões como comandante de pelotão da Brigada Nahal.

Preso por 20 dias, ele declarou estar horrorizado com a guerra antes de ser conduzido à prisão militar. “Estou horrorizado com a guerra interminável, com o descaso em relação aos reféns e com a morte implacável de inocentes. A prisão não vai me silenciar nem me intimidar”, disse.

Clamor social e críticas ao governo Netanyahu

A publicação da carta ocorre no marco simbólico dos 600 dias da ofensiva israelense contra Gaza, iniciada em outubro de 2023. Ao longo desse período, o apoio popular à guerra tem diminuído significativamente.

Pesquisa recente do Canal 12 apontou que 61% dos israelenses defendem o fim do conflito e o retorno dos reféns, enquanto 62% rejeitam a proposta de reassentamento forçado da população palestina — parte do plano apoiado por Netanyahu e pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump.

Além das cartas e declarações militares, a pressão também vem das ruas. Manifestações frequentes ocorrem em Tel Aviv e em frente à Knesset, com destaque para a mobilização de mães de soldados e familiares de reféns.

Protestos também se espalham entre a comunidade israelense no exterior, com atos convocados em cidades como Paris, Londres, Berlim e Bruxelas.

Governo é acusado por ex-premier e por presidente de Israel

A nova onda de críticas à guerra foi precedida por declarações contundentes de figuras centrais do establishment israelense. Em artigo publicado pelo Haaretz, o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert afirmou que Israel está cometendo “matança indiscriminada, ilimitada, cruel e criminosa de civis”, fruto de uma política “consciente, perversa e maliciosa”.

Para Olmert, trata-se de uma campanha com intenção deliberada de extermínio, negando alimentos, remédios e suprimentos básicos à população de Gaza.

O presidente de Israel, Isaac Herzog, também rompeu o silêncio institucional e criticou abertamente o governo por abandonar a prioridade de salvar os reféns. “Estou chocado com o fato de a questão dos reféns ter saído do topo das prioridades. Devemos manter isso no centro do debate nacional”, disse durante palestra na Universidade de Tel Aviv.

Mesmo dentro da oposição parlamentar, a guerra em Gaza tem sido contestada. O ex-major-general Yair Golan, hoje líder do partido Os Democratas, declarou que “um país são não mata bebês por hobby” e comparou Israel ao regime de apartheid da África do Sul. Após a fala, Golan foi hostilizado em um evento no sul do país, mas respondeu: “Vocês não vão me fazer odiá-los. Sou um homem corajoso”.

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Last Update: 29/05/2025