Mais da metade das pessoas que se identificam como LGBTP no Brasil está inserida no universo do empreendedorismo. É o que mostra um estudo inédito realizado pelo Sebrae.
Os dados revelam o impacto da atividade empreendedora na construção da autonomia financeira de lésbicas, gays, bissexuais, pansexuais, transgêneros e travestis.
Segundo o levantamento, 24% das 15 milhões de pessoas que compõem essa comunidade e têm 16 anos ou mais já comandam o próprio negócio. Isso representa 3,7 milhões de empreendedores.
Além disso, outros 11% estão em fase de criação de uma empresa. Já 20% planejam abrir um negócio nos próximos três anos.
Identidade e autonomia influenciam decisão de empreender
Ainda de acordo com a pesquisa, quatro em cada dez empreendedores LGBTP afirmam que a identidade de gênero e a orientação sexual influenciaram na decisão de abrir o próprio negócio.
Entre os principais motivos estão a busca por independência financeira e por controle sobre o ambiente profissional. Também aparece com destaque o desejo de gerar impacto positivo dentro da própria comunidade.
Para Margarete Coelho, diretora de Administração e Finanças do Sebrae Nacional, o contexto de preconceito é um dos fatores que impulsionam o empreendedorismo entre essas pessoas.
Segundo ela, o empreendedorismo é, em muitos casos, uma alternativa à exclusão do mercado de trabalho. Com apoio técnico e capacitação, pode se transformar em um caminho de estabilidade e segurança.
Experiência e atuação dos empreendedores LGBTP
O levantamento também detalha o histórico dos negócios liderados pela população LGBTP. Entre os 24% que já empreendem, 19% têm no negócio sua principal fonte de renda.
Além disso, 45% já tiveram outras experiências empreendedoras. Isso demonstra uma relação consolidada com o universo empresarial.
Em relação ao setor de atuação, o segmento de Entretenimento e Cultura concentra 14% desses empreendimentos. Entre pessoas que não se identificam como LGBTP, esse índice é de apenas 2%.
Segundo Margarete, “pessoas LGBTQIA+, especialmente aquelas que se posicionam publicamente, enfrentam barreiras para inserção no mercado de trabalho. O empreendedorismo passa a ser um caminho possível de geração de renda e reconhecimento”.
Ações do Sebrae voltadas à comunidade LGBTP
Diante dos dados revelados, o Sebrae pretende ampliar o apoio a pequenos negócios liderados por pessoas LGBTP.
A estratégia envolve ações como capacitação técnica, apoio psicológico e orientação personalizada. Também serão oferecidas ferramentas específicas para estruturação de novos empreendimentos.
Margarete afirma que o papel da instituição é garantir acesso igualitário ao ecossistema empreendedor. A meta é ampliar as condições de entrada e permanência dessas pessoas no mercado.
Perfil dos empreendedores e principais desafios
Segundo o estudo, a maioria dos empreendedores LGBTP tem 25 anos ou mais. Além disso, possuem ensino superior completo e renda mensal superior a três salários mínimos.
Em relação à cor ou raça, 30% se declaram brancos. Outros 22% se identificam como pardos ou pretos.
Apesar do perfil com maior escolaridade e renda, os desafios são relevantes. A pesquisa indica que há maior tendência à formalização entre pessoas LGBTP.
No entanto, entraves como custos elevados e excesso de burocracia ainda dificultam o processo.
Entre os principais obstáculos está a ausência da possibilidade de inclusão do nome social em todos os estados durante a abertura de empresas. Isso compromete o acesso a direitos como benefícios previdenciários.
Por fim, a percepção sobre o sucesso do negócio também varia. Enquanto 66% das pessoas que não se identificam como LGBT+ acreditam nas chances de prosperar, esse percentual é de 57% entre os empreendedores LGBTP.