A tentativa de setores do Congresso Nacional de aprovar uma anistia ampla ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 esbarra em forte resistência popular. Segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 8 e 9 de setembro, 54% dos brasileiros são contra perdoar Bolsonaro, condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. Apenas 39% apoiam a medida.

Entre os envolvidos nos atos de depredação em Brasília, a rejeição é ainda mais clara: 61% se opõem a qualquer tipo de perdão, contra 33% que defendem a anistia. Esses números reforçam a percepção de que a sociedade brasileira valoriza a responsabilização pelos ataques às instituições democráticas.

Divisões regionais e sociais

O levantamento revela diferenças significativas por região e perfil socioeconômico. No Nordeste, a rejeição à anistia chega a 63%. Já no Sul e no Norte/Centro-Oeste, há equilíbrio maior, com índices próximos ao empate técnico.

Entre os mais ricos e os evangélicos, o apoio à anistia é superior à média nacional, alcançando 50% e 52%, respectivamente. Esses recortes indicam como a base social e ideológica do bolsonarismo ainda resiste em defender sua liderança, mesmo diante de uma condenação histórica.

Contexto político e internacional

A pressão por uma anistia ganhou força no centrão e entre governadores aliados de Bolsonaro, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se somaram à campanha liderada pelo deputado Eduardo Bolsonaro. A movimentação também dialoga com o cenário internacional: o ex-presidente Donald Trump, aliado de Jair Bolsonaro, já retaliou o Brasil com tarifas de 50% sobre exportações e sanções a ministros do STF, acusando perseguição política.

Ainda assim, a aprovação de uma anistia encontra obstáculos. O Senado e o Supremo Tribunal Federal, que já firmaram jurisprudência contra perdões a crimes contra o Estado Democrático de Direito, seriam barreiras decisivas caso a Câmara avance com a pauta.

Prisão de Bolsonaro e percepção da Justiça

O Datafolha também mostra que metade dos brasileiros (50%) defende a prisão de Bolsonaro, enquanto 43% se opõem. O dado chama atenção porque acompanha a mudança de percepção sobre a efetividade da Justiça. Se em abril e julho a maioria acreditava que o ex-presidente escaparia da pena, a proximidade e conclusão do julgamento no STF inverteram as expectativas: agora 50% acham que Bolsonaro efetivamente irá para a prisão, contra 40% que ainda duvidam.

Um divisor de águas

A condenação de Bolsonaro marca um divisor de águas na história política do país. É a primeira vez que um ex-presidente é sentenciado por tentar se manter no poder à revelia da Constituição, rompendo com um ciclo de impunidade em episódios de rupturas institucionais.

O embate entre a pressão congressual por anistia e a rejeição popular a esse movimento se tornará um dos eixos centrais da disputa política no curto prazo. Enquanto a sociedade dá sinais de que não deseja apagar os crimes golpistas, parte da elite política insiste em negociar a memória da democracia em nome da conveniência.

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Last Update: 14/09/2025