No último dia de Carnaval, por volta das 3h da manhã, mais de 100 músicos se reúnem no palco do Marco Zero, o principal da folia no Recife. É o grande encerramento da festa na capital do frevo, tradição mantida desde 2006.
“A gente toca até as 6h. Vai todo mundo para lá, porque é a farra final”, conta Maestro Spok, arranjador, saxofonista e um dos grandes personagens do Carnaval pernambucano.
Depois do show, os músicos descem do palco e desfilam pelas ruas do centro histórico do Recife. Quando retornam ao Marco Zero, ele e o trompetista Marquinhos, da Corneta do Urso, ainda tocam para os últimos “sobreviventes” do agitado Carnaval da cidade.
“É o momento mais mágico para mim”, define Spok. “Sou daqueles que, na Quarta-feira de Cinzas, já começam a sofrer”, lamenta sobre o fim da folia, que só retorna no ano seguinte.
O maestro fala com paixão sobre a festa que o moldou artisticamente:
“Amo o Carnaval de Pernambuco, de Recife, de Olinda. Nasci e me criei nas ruas, bebendo dessa força da manifestação popular, da levada, da poesia, da harmonia.”
Para ele, presenciar não apenas o frevo, mas também outras expressões do Carnaval pernambucano – como o maracatu de baque solto, o maracatu rural com seus caboclos de lança, os caboclinhos, as orquestras, os brincantes e passistas – é uma experiência única.
Apesar do amor pelo Carnaval nas ruas, a vida profissional o levou para os palcos. Nos anos 1990, passou a atuar de forma mais intensa na música, e, em 2001, criou a SpokFrevo Orquestra. O grupo tem três álbuns de estúdio lançados: Passo de Anjo (2004), que também ganhou um registro ao vivo, Ninho de Vespa (2013) e Frevo Sanfonado (2015).
Hoje, Maestro Spok é presença constante em shows e gravações de artistas pernambucanos e de outros estados. Ainda neste início de ano, está prevista a participação dele em um disco instrumental do quarteto Face Musical Brasília.
Raízes africanas e um novo projeto
Como acontece todos os anos, a SpokFrevo Orquestra subirá ao palco do Marco Zero no Carnaval de 2025. Desta vez, porém, o maestro levará um sonho especial para a apresentação.
Recentemente, por meio de um exame de DNA de ancestralidade, Spok descobriu que, por parte materna, pertence à etnia Tikar, de Camarões.
“Isso mexeu comigo. Fiquei muito feliz”, conta. A partir dessa descoberta, começou a compor e registrar em estúdio músicas em homenagem a Camarões, à África e às religiões afro-brasileiras. O resultado desse mergulho na ancestralidade será o álbum Raízes, que será lançado após o Carnaval.
Antes disso, na segunda-feira 3, durante a apresentação no Marco Zero, a SpokFrevo Orquestra se unirá ao grupo Bongar, da Nação Xambá, e ao projeto musical do Centro de Educação e Cultura Daruê Malungo. Será um momento especial: o principal palco da folia pernambucana será tomado pelo sonho do maestro de evocar seus antepassados.