Maduro ordena que Marinha escolte petroleiros após bloqueio de Trump

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou nesta quarta-feira (17) que a Marinha venezuelana passe a escoltar navios que transportam petróleo e derivados a partir dos portos do país. A medida foi adotada após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de um bloqueio contra petroleiros que realizem operações comerciais com a Venezuela, aprofundando a escalada de ameaças do imperialismo norte-americano contra o país sul-americano.

De acordo com informações de pessoas familiarizadas com a operação, vários navios deixaram a costa leste da Venezuela entre a noite de terça-feira e a manhã de quarta-feira sob escolta naval. As embarcações partiram poucas horas depois do anúncio de Trump de que Washington pretende bloquear petroleiros que façam negócios com a Venezuela e que estejam sob sanções do Departamento do Tesouro dos EUA.

Os navios, carregados com ureia, coque de petróleo e outros derivados, deixaram o porto de José com destino a mercados asiáticos. Segundo as mesmas fontes, a decisão do governo venezuelano de empregar escolta militar foi uma resposta direta às ameaças feitas pelo presidente norte-americano. As embarcações escoltadas não constam, até o momento, na lista de navios sancionados pelos EUA, o que, em tese, reduziria a possibilidade de apreensão imediata.

Mesmo assim, uma fonte do governo dos Estados Unidos afirmou que a Casa Branca está ciente das escoltas e avalia “várias medidas” em resposta, sem detalhar quais ações estão em discussão. Na semana passada, autoridades norte-americanas roubaram um petroleiro sancionado com destino à Ásia, que transportava cerca de dois milhões de barris de petróleo venezuelano. Outros navios-tanque podem ser alvo de novas apreensões nos próximos dias.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, a PDVSA, estatal venezuelana de petróleo, afirmou que os navios vinculados às suas operações seguem navegando “com total segurança, suporte técnico e garantias operacionais no exercício legítimo de seu direito à livre navegação”. Trump, por sua vez, declarou na noite de terça-feira que estaria impondo um “bloqueio total e completo” aos petroleiros que partem ou chegam à Venezuela em suposta violação às sanções impostas por Washington.

Segundo levantamento de Samir Madani, cofundador do site TankerTrackers.com, cerca de 40% dos petroleiros que transportaram petróleo venezuelano nos últimos anos foram colocados sob sanções dos EUA.

Diante da escalada, Maduro conversou por telefone com o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, denunciando o que classificou como uma “escalada de ameaças” por parte do governo norte-americano. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou que Maduro criticou declarações de Trump segundo as quais o petróleo, os recursos naturais e o território venezuelanos pertenceriam aos Estados Unidos.

“Maduro ressaltou que tais declarações devem ser categoricamente rejeitadas pelo sistema das Organizações das Nações Unidas, pois constituem uma ameaça direta à soberania, ao direito internacional e à paz”, informou o ministério.

Em pronunciamento público, o presidente venezuelano foi enfático ao afirmar que o país não aceitará uma situação colonial. “Venezuela não será colônia de nada”, declarou. Segundo Maduro, há uma tentativa explícita de promover uma mudança de regime para impor um governo submisso aos interesses de Washington. “É uma pretensão guerrerista e colonialista. Pretende-se um governo títere para entregar a soberania e converter a Venezuela em uma colônia”, afirmou.

Maduro também destacou que impedir o livre comércio naval é ilegal segundo os acordos internacionais. “Não é tempo de corsários. A Venezuela seguirá comercializando todos os seus produtos, seu petróleo e suas riquezas naturais, que pertencem ao seu único dono legítimo: o povo venezuelano”, disse. O presidente acrescentou que o país está defendendo “o direito de existir de uma República” e que a Constituição será defendida frente às ameaças externas.

Nos Estados Unidos, a escalada militar também gerou reação no Congresso. A Câmara dos Deputados rejeitou, na quarta-feira, resoluções que buscavam obrigar Trump a submeter ao Legislativo qualquer ação militar contra a Venezuela. As propostas, apresentadas com base na Lei dos Poderes de Guerra de 1973, pretendiam encerrar os ataques a embarcações na região do Caribe e do Pacífico sem autorização formal do Congresso. A rejeição das medidas foi vista como uma vitória política para Trump.

Desde setembro, os Estados Unidos realizaram ao menos 25 ataques contra embarcações acusadas de transportar cargas ilícitas, resultando no assassinato de pelo menos 95 pessoas no Caribe e no Pacífico.

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