A tentativa de golpe de Estado na Venezuela contra Nicolás Maduro está levando um setor da esquerda pequeno burguesa a atacar o chavismo. No entanto, há um setor que sempre se posicionou contra Maduro e contra todos os governos de esquerda da América Latina, sendo uma linha auxiliar esquerdistas dos golpes. O caso mais famoso foi o do PSTU em 2016 lutando contra Dilma. O CST também segue essa linha, a organização publicou em seu portal “Maduro não é socialista nem anti-imperialista”.
O texto começa: “Queremos esclarecer mais uma vez perante a vanguarda mundial anti-imperialista e socialista o verdadeiro caráter do governo de Nicolás Maduro e o significado do chavismo. É totalmente falso que exista um governo de esquerda na Venezuela e que o chavismo tenha promovido a construção de um ‘socialismo do século XXI’, como proclamou Hugo Chávez em 1º de maio de 2005. Os fatos mostram claramente que o chavismo nunca rompeu com o capitalismo nem deixou de fazer acordos com as multinacionais petrolíferas”.
A segunda afirmação, de que não existe socialismo do século XXI pode ser debatida. Afinal, a palavra socialismo é utilizada de muitas formas no mundo inteiro. Mas a primeira afirmação é totalmente absurda. Para o CST, Maduro não seria um governo de esquerda, ou seja, seria um governo da direita. Seguindo essa linha, quase todos os governos de esquerda do mundo serão considerados de direita, isso vale para o próprio Lula, para Ortega na Nicarágua, e para toda a esquerda latinoamericana.
O autor argumenta criticando um texto de Valério Arcary, “É secundário se houve fraude ou não (não tem ‘uma consideração ingênua’) e se, por conta das reações, a polícia matou 20 pessoas e está realizando prisões em massa. O centro da ‘batalha’ é o controle do petróleo. Se Maduro caísse, segundo Arcary, ‘as maiores reservas de petróleo seriam entregues às grandes corporações petrolíferas’ (multinacionais). Esse tipo de mensagem tem sido difundida por grande parte do reformismo mundial e do castrismo”.
Quer dizer, o CST não concorda que há uma luta pelo petróleo nos países oprimidos. Sua análise sobre o Oriente Médio também deve ser um tanto extravagante. É óbvio que a luta primordial na Venezuela é que o imperialismo quer roubar o petróleo. Figuras que são mais abertas como Trump falam isso abertamente, que é preciso derrubar Maduro para pegar o petróleo. É impressionante que uma organização de esquerda não entenda um caso simples como esse.
Ele tenta argumentar que a oposição imperialista é igual a Maduro: “Primeiro esclarecimento, para evitar maiores confusões: é claro que a direita pró-ianque, liderada por María Corina Machado, quer entregar ainda mais o petróleo. Ela quer ser, na verdade, a intermediária do negócio petrolífero, substituindo o chavismo e as suas máfias corruptas. Trata-se de trocar uma máfia por outra. Nada mais”.
Aqui precisaria se responder. Se a máfia chavista é tão corrupta assim, por que ela não se vende para os EUA? Por que os norte-americanos precisam derrubar o governo Maduro para conseguir tomar o petróleo. É óbvio que há uma diferença, caso contrário não precisaria haver luta, poderia inclusive se unificar as duas “máfias” e dividir o dinheiro do petróleo.
A tese vai ficando mais surreal: “É uma enorme mentira que, se o governo Maduro saísse, ‘as grandes corporações petrolíferas’ tomariam conta do petróleo. Não! As multinacionais petrolíferas já estão na Venezuela há algum tempo. Desde 2007, Chávez determinou, por lei, a associação das multinacionais com a PDVSA por meio das empresas mistas”.
O argumento beira o ridículo. O petróleo não é 100% estatal, ora se ele fosse 5% estatal ainda seria possível uma inversão imperialista para tomar esses 5%. Mais uma vez vale citar o caso brasileiro, o golpe de 2016 entregou uma enorme parte da Petrobrás aos estrangeiros, mesmo ela sendo parcialmente privatizada.
Ele conta o histórico de concessões à iniciativa privada de Chávez a Maduro. A tese aqui é que se faz conciliação com a economia capitalista não é anti-imperialista. Isso é ridículo. Os países nacionalistas são todos capitalistas e assumem posições de luta contra o imperialismo, principalmente quando são atacados. Eles não são revolucionários, não lutam pela expropriação da burguesia, mas ignorar o fenômeno do nacionalismo, algo tão crucial na política mundial, é absurdo.
Com esse pensamento, Putin não luta contra o imperialismo, o Irã não luta contra o imperialismo, Lula não se choca com o imperialismo e justamente por isso está sendo pressionado pela direita, Maduro não luta contra o imperialismo. Ele poderia defender Cuba e Coreia do Norte, onde até hoje não há burguesia, mas nem isso faz porque usa “castrista” de forma crítica. Só um grupo luta contra o imperialismo na opinião dele
O único setor que se opôs a essa política foi a corrente socialista e classista liderada por Orlando Chirino e José Bodas, dirigentes operários do Partido Socialismo e Liberdade (PSL) e da Corrente Classista Unitária Revolucionária e Autônoma (C-Cura), enraizada entre os trabalhadores petroleiros. Desde o primeiro momento, sua bandeira foi “Chega de empresas mistas. PDVSA 100% estatal sob o controle dos trabalhadores.”
Essa política ultra sectária, de que só os supostamente 100% revolucionários estão de fato lutando é muito útil para o imperialismo. Afinal, ela divide a esquerda e os trabalhadores. Quando todos deveria se unificar e lutar contra o inimigo imperialismo, um setor ataca os aliados e confunde o quadro. Isso aconteceu em quase todos os golpes de Estado da América Latina. É um fenômeno tão antigo que em 1954 o PCB apoiou o golpe contra Getúlio Vargas alegando que ele era imperialista.
Quando Getúlio se suicidou até os jornais do PCB foram queimados diante da fúria dos trabalhadores. Para atuar no movimento operário é preciso compreender o básico. O mundo não se divide apenas em direitistas ultra reacionários e marxistas puros revolucionários. E a confusão no movimento operário sempre é um fator que ajuda a direita, a burguesia.