O governo da Venezuela elevou o tom contra Washington nesta terça-feira (16) e convocou um “grande protesto global” em reação ao bloqueio naval total imposto pelos Estados Unidos. O presidente Nicolás Maduro conclamou trabalhadores do setor de energia, especialmente petroleiros, a uma mobilização permanente contra o cerco ordenado por Donald Trump, que acusa Caracas de financiar um regime “narcoterrorista”.
A reação venezuelana veio horas após Trump anunciar o fechamento da costa do país sul-americano, sob a justificativa de asfixiar financeiramente o governo chavista. Em assembleia transmitida pela emissora estatal, Maduro classificou a operação americana no Caribe como um ato de “pirataria” e uma violação frontal ao direito internacional, afirmando que a ofensiva extrapola o campo diplomático e configura agressão econômica.
O líder chavista defendeu que a classe operária do petróleo lidere uma resistência que ultrapasse fronteiras nacionais e pressione operadores portuários, sindicatos e organismos multilaterais.
“Defender o livre comércio e a paz no Caribe e na Venezuela é defender o livre comércio e a paz em todo o mundo” declarou Maduro, ao pedir que a mobilização seja permanente e que a denúncia contra os EUA chegue a fóruns internacionais.
Ofensiva diplomática na ONU
O Palácio de Miraflores formalizou a reação ao anunciar que levará o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Em comunicado oficial, o governo venezuelano afirmou que o bloqueio naval representa uma tentativa “irracional” de Washington de se apropriar das riquezas naturais do país, violando a soberania nacional e o princípio da livre navegação.
“A verdadeira intenção [de Trump] sempre foi se apoderar do petróleo, das terras e dos minerais do país por meio de campanhas de mentiras e manipulações”, diz a nota, que também apela ao “povo americano” para que rejeite o que classifica como uma escalada belicista da Casa Branca.
Apreensão de navio e discurso de resistência
Para Maduro, a apreensão do petroleiro Skipper por forças americanas, uma embarcação que transportava cerca de 2 milhões de barris de petróleo bruto, é a evidência concreta de um “roubo descarado” articulado pelo Pentágono. Segundo o governo venezuelano, os Estados Unidos utilizam o discurso de combate ao narcotráfico como cortina de fumaça para uma intervenção econômica direta.
A estratégia anunciada por Caracas aposta na “perfeita união popular, militar e policial” para enfrentar o que descreve como a maior concentração naval já registrada na região. Maduro reiterou que a Venezuela não aceitará o ultimato de Trump, que condicionou o fim do bloqueio à sua saída do poder.
“Jamais voltaremos a ser colônia de nenhum império”, reforçou o governo em nota, evocando Simón Bolívar como símbolo da resistência contra potências estrangeiras.
A escalada ocorre em um momento particularmente sensível: o espaço aéreo venezuelano já opera sob restrições impostas por sanções anteriores, enquanto navios de guerra dos Estados Unidos atuam em águas próximas no âmbito da missão militar “Lança do Sul”, ampliando o risco de um confronto de maior alcance no Caribe.