O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou nesta terça-feira, 10, que a exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira “não é boa para o clima”.

A afirmação ocorreu durante participação em programa de TV sobre a Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (Unoc3), em Nice, no sul da França.

A fala foi motivada por vídeo do cacique Raoni Metuktire, de 93 anos, em que o líder indígena solicita apoio internacional para impedir o projeto brasileiro, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.

Segundo Macron, “não cabe a mim dar lições” ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas seria “bom que ele [Lula] fizesse isso [suspendesse o projeto]”. Em seguida, o presidente francês acrescentou que respeita “todos esses países” e defende diálogo “Norte-Sul” para que sejam “incentivados a abandonar esses projetos e lhes permitam ter outras formas de criar crescimento nos seus países”.

A declaração de Macron expõe contradição entre discurso e prática. A França, por meio da petroleira TotalEnergies, mantém projetos de exploração na mesma margem, mas ao sul da Guiana Francesa e do Suriname. A empresa opera poços offshore na região onde o Brasil avalia avançar em perfurações.

Em fevereiro, o governo do primeiro-ministro François Bayrou anunciou intenção de reabrir debate sobre detalhes de poços na Guiana Francesa, apesar de haver moratória em vigor. A medida da administração francesa contrasta com apelo de Macron para que o Brasil interrompa atividade na foz do Amazonas.

Macron elogiou medidas de Lula contra desmatamento. “Lula fez muito. É preciso ver de onde saímos, e eu entendo suas limitações. Ele fez muito para conter o desmatamento que havia sido iniciado por seu antecessor. Está em um país que também tem obrigações. Precisa conseguir desenvolvimento e luta pelo clima”, afirmou o presidente francês.

No entanto, Macron não apresentou alternativa econômica ao Brasil nem mencionou atuação da TotalEnergies em território vizinho. O vídeo de Raoni Metuktire antecedeu a participação de Macron no programa. No registro, o cacique afirma:

“Meu querido amigo Emmanuel Macron, envie-lhe esta mensagem para que diga aos outros chefes de Estado que protejam os oceanos. Não quero exploração de petróleo na foz dos rios ou no fundo dos oceanos, então ajude-me a impedir esses projetos. Passei a mesma mensagem a Lula e queria passar a você também. Conheço esse projeto de mineração no delta do Amazonas e pedi a Lula que o impedisse. Agora, peço o mesmo a vocês e peço que cuidem dos rios Como sabem, muitas pessoas vivem nas margens dos rios e serão muito afetadas”.

Macron já se encontrou com Raoni em encontros oficiais e o condecorou com a Legião da Honra em março deste ano. Durante o programa, o presidente francês criticou governo de Jair Bolsonaro pelas pressões sobre terras indígenas:

“Foram anos muito difíceis, quando o presidente Bolsonaro ameaçava a reserva onde o cacique vive com seus povos indígenas e ameaçava fazer desmatamento”.

Apesar de reclamações em nome da preservação ambiental, o governo francês segue com plano de debater retomada de perfurações em sua parte da bacia amazônica. A posição de Macron reforça questionamento sobre dupla postura em relação à exploração offshore na Margem Equatorial.

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Last Update: 11/06/2025