Enquanto fechávamos esta edição, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciava um novo aumento nos juros, o primeiro sob o comando de Gabriel Galípolo, presidente do banco indicado por Lula. Também foi a primeira reunião com a maioria da diretoria indicada pelo atual governo. Juntos, aprovaram o aumento de 1 ponto na taxa básica de juros, que foi para 13,25% e reafirmou a posição do Brasil como um dos países que mais pagam juros no mundo.
O que isso significa para o povo? Além de encarecer o crédito, representa pelo menos R$ 50 bilhões a mais na mal chamada dívida pública. E quem ganha com isso são os grandes rentistas, os megafundos bilionários, conglomerados financeiros internacionais em Nova Iorque, que têm seu capital multiplicado enquanto fumam seus charutos numa sala com ar condicionado.
Essa é a perversidade da política econômica do governo Lula: de um lado faz ajuste fiscal, impõe um teto de gastos e rebaixa o reajuste do salário mínimo, além de atacar direitos básicos e essenciais como o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o abono salarial, e, na outra ponta, garante mais dezenas de bilhões aos bilionários de Wall Street. Ou seja, fecha a torneira para os pobres enquanto a arreganha para os superricos.
Lógica que se reflete na recente reforma tributária que, apesar de todo o discurso do governo, manteve uma estrutura de impostos extremamente regressiva, que taxa o pobre e a classe média através do consumo, enquanto mantém isentos os superricos.
Enquanto isso, a inflação dos alimentos corroi a renda das famílias mais pobres. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, promete que a supersafra vai reduzir os preços nos supermercados, lavando as mãos. O problema é que a inflação não está sendo causada por falta de produtos, muito pelo contrário. O que faz o preço subir é o aumento nos preços no mercado internacional e a alta do câmbio. O café e a carne que compramos no mercado da esquina é cotado em dólar na bolsa de Nova Iorque, enquanto nossos salários são em Real.
O que causa a inflação dos alimentos é, portanto, o fato de que o agronegócio brasileiro produz para exportar para o mercado internacional, e não alimentar o povo. Ou seja, o real problema é a nossa posição de semicolônia exportadora de produtos primários, condicionada e submissa ao mercado internacional.
O imperialismo e a burguesia brasileira, sócia-menor do imperialismo, que dá a permissão para que ela explore alguns poucos setores da nossa economia (que ela domina), têm o Brasil como um cofrinho que só tiram e tiram dinheiro. Em tempos de crise, viram esse cofre de cabeça para arrancar as últimas moedas. Moedas que são frutos do trabalho da classe trabalhadora, e que são roubadas por meia dúzia de bilionários através da superexploração, do mecanismo da dívida, da inflação, de uma jornada de trabalho extenuante, etc.
É o projeto do governo, do Congresso Nacional, da burguesia e do imperialismo, rebaixar cada vez mais o país, tendo como reflexo o aumento da superexploração, a regressão econômica e social e a barbárie.
A ultradireita, por sua vez, segue com força no país, inclusive porque o governo Lula é incapaz de atender as demandas do povo. A recente alta dos juros mostrou que a diferença entre Galípolo e Campos Neto é quase nenhuma. Ou seja, a política monetária de Lula difere em nada do que fazia Bolsonaro. Nem o caminho para enfrentar a ultradireita passa pelo apoio ao governo Lula.
Organizar a classe trabalhadora e lutar
É necessário lutar e enfrentar esses ataques, venham do Governo Federal, venham dos governos estaduais ou municipais. E derrotar essa política econômica do governo, do Congresso Nacional, e das demais esferas de governos.
A saída para isso é a organização e a luta, de forma independente, da classe trabalhadora. É necessário lutar pelo fim da jornada 6×1, tendo como exemplo a plenária nacional que definiu o dia 16 de fevereiro como dia nacional de luta pela redução da jornada de trabalho. É preciso ver os exemplos dos metalúrgicos do Vale do Paraíba, como os da Eaton e da Hitachi, que começaram o ano com luta e greve. É preciso mirar no exemplo heroico dos indígenas e dos profissionais da educação do Pará, que ocuparam a Secretaria de Educação em defesa da educação aos povos originários. Também lutar contra todas as formas de opressão racista, machista e LGBTfóbica. Esse último dia 29, Dia da Visibilidade Trans, registrou o triste marco do país que mais mata pessoas trans no mundo.
Mas para mudar de verdade, é preciso reverter esse processo de recolonização, em que só os bilionários ganham e o povo só perde. E isso só vai acontecer se enfrentarmos esse regime dos ricos, arrancarmos de lá os representantes dos bilionários, destruirmos esse sistema capitalista que só nos delega a fome, o desemprego e a perspectiva de uma crise climática cada vez pior, em seu lugar, colocarmos os trabalhadores no poder.
É necessário construir uma alternativa revolucionária e socialista, que não deixe a classe trabalhadora refém da burguesia e de alternativas de conciliação de classes que pregam o “mal menor”.