Lula vence. E a imprensa sabe disso, por Eliara Santana
Várias modalidades de tentativas foram, estão sendo e serão feitas para fazer crer que Luiz Inácio, o teimoso filho de dona Lindu, está combalido e, portanto, não vence as eleições em 2026. Esse é o ponto: fazer crer – não importa a realidade. Terrorismo econômico, boicote aos bons resultados do governo, alinhamento à extrema direita em questões polêmicas (como o Pix), aposta em Trump. Tudo isso são estratégias já mostradas – outras virão, com certeza.
Mas, como a realidade acaba se impondo, cedo ou tarde, está aí a pesquisa Quaest para mostrar que Lula segue favorito. Colocaram até Gusttavo Lima pra dar aquele movimento, tererê tê tê, tererê tê tê, dizendo que é o “mais competitivo” contra Lula, mas não adiantou. Política é política, mesmo com a desinformação corroendo tudo. A pesquisa divulgada hoje (3/02) mostra que Lula segue favorito e vence em todos os cenários apresentados, seis ao todo, de Tarcísio a Gustavo Lima, passando por Pablo Marçal e Eduardo Bolsonaro, sem esquecer o Zemané mineiro, que está fazendo provocações nas redes sociais para ganhar visibilidade além das Gerais. Claro, muita água rola até a eleição – e essa divulgação sistemática de pesquisas sobre o governo, a popularidade do presidente e cenários/candidaturas possíveis já é um balão de ensaio para pensar estratégias de ataque a Lula e ao governo, não nos enganemos – a amostra de 4.500 pessoas é uma enormidade.
No cenário atual, alguns pontos me chamam a atenção, tanto pelo impacto imediato quanto pela reverberação futura e contínua. Vamos a eles:
Terrorismo econômico e o fator Sidônio
Desde meados do ano passado, a imprensa tem trabalhado com afinco na construção narrativa do terrorismo econômico, apagando sistematicamente os bons resultados do governo e transformando-os em problemas. Dois exemplos: a queda consecutiva das taxas de desemprego e o crescimento do PIB. Ambos os temas surpreenderam as expectativas negativas do mercado e deixaram o neoliberalismo de cabelo em pé. O que vimos então foi uma sucessão de matérias “alertando” para os “riscos” da queda no desemprego e do aquecimento da economia. Construíram e disseminaram a ideia de que crescer é ruim, prejudica – mesmo que crescer signifique um dinheirinho a mais no bolso. Ao lado dessa ideia, o alarde com coisas negativas de verdade, como a questão do Pix e o aumento no preço dos combustíveis. Com essas ponderações, não estou dizendo que não há erros e equívocos por parte do Governo – há sim. O aspecto para o qual quero chamar atenção é a construção narrativa da imprensa com estratégias para silenciar que é positivo e dar nova roupagem a alguns fatos.
E então, eis que surge o fator Sidônio Palmeira. O baiano que pilotou a campanha da eleição de Lula em 2022 retorna como ministro da Secom para ajeitar um bocadinho as coisas. E chega já no desastre do Pix, um case de como não fazer comunicação. Muito bem, Sidônio faz interferências drásticas pra conter a sangria do Pix, leva o governo a voltar atrás na medida, muda a forma das campanhas, coloca o presidente em evidência, faz coletiva de imprensa e segue o baile. O assunto Pix bateu na popularidade de Lula, é verdade, mas já está quase esquecido; as visualizações nas redes do presidente dobraram, e a coletiva foi bem-sucedida, apesar do mau humor da imprensa. Ou seja, os contrários já estão vendo que há janelinhas de oportunidades e que elas serão aproveitadas. O embate, é claro, será muito desafiador. Mas o campo progressista não está vencido e se articula.
Trump e o nó na extrema direita tupiniquim
Donald Trump veio para bagunçar tudo, e isso pode ter efeitos positivos – com Trump, Lula ganha. Há duas questões implicadas aí nessa assertiva. A primeira é que o presidente norte-americano vai tensionar o mundo de tal forma que fará disparar alertas vermelhos e agudos até entre os conservadores, os mais moderados e civilizados, claro – portanto, entre o medo de um comunismo irreal e fantasioso e a realidade era de um laranjão louco, as apostas serão refeitas. O segundo ponto é que, mesmo que o Brasil seja um objeto de desejo da extrema direita de modo geral, sob Trump, um suposto e até esperado fortalecimento imediato da extrema direita bolsonarista não virá, como não está vindo
O boné da discórdia
A construção de narrativas é uma jogada simbólica da maior relevância num mundo midiático. Vimos isso recentemente com o episódio da deportação em massa de brasileiros dos EUA. A extrema direita bolsonarista e lambe-botas de Donald Trump ficou sem palavras, literalmente, diante da cena de brasileiros chegando algemados ao país e diante dos relatos de humilhação. Não souberam o que dizer, perderam a narrativa, e o governo Lula agiu imediatamente no apoio e na acolhida. E entrou em cena, então, a comunicação rápida e em consonância com esse mundo de mudanças frenéticas na forma de um lindo boné azul com os dizeres: O BRASIL É DOS BRASILEIROS. O índice de sucesso da iniciativa pode ser medido pela irritação que causou aos redes bolsonaristas e entre alguns da imprensa. Ponto para Sidônio. Ponto para a comunicação
Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das Eleições e integra o Núcleo de Estudos Avançados de Linguagens, da Universidade Federal do Rio Grande. Coordena o programa Desinformação & Política. Também Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.
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