Lula vai à China, mas dessa vez será diferente das outras

por Antonio Lassance

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz viagem a Pequim, China, nos dias 12 e 13 deste mês, logo em seguida à viagem a Moscou para a comemoração dos 80 anos do fim da II Guerra e derrota do nazifascismo. 

Duas semanas antes do embarque do presidente, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, preparou essa agenda com o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, e com representantes de órgãos governamentais e empresas chinesas. 

Na delegação, além do ministro das Comunicações, representantes dos ministérios dos Transportes; Saúde; Indústria e Comércio; Minas e Energia, estavam presentes a presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, o presidente da Transpetro, Sérgio Bacci, e do BNDES, Aloizio Mercadante Oliva. A delegação também teve agenda com a ex-presidenta Dilma Rousseff, que hoje preside o Banco de Desenvolvimento dos Brics.

Ao que tudo indica, não se trata de uma viagem qualquer, nem apenas da tentativa de preparar acordos comerciais e de investimentos. Tanto que é o ministro da Casa Civil, um quadro político, e não o Itamaraty, quem prepara a viagem. 

Além disso, esse é um momento em que confluem dois processos. Um, conjuntural, em que a guerra tarifária declarada pelo presidente Trump impõe contramedidas coordenadas entre os países para defender-se de uma retração do fluxo comercial e financeiro mundial. Esse quadro conjuntural, por sua vez, acelera o declínio da hegemonia dos Estados Unidos, com o risco de um nível de isolamento inédito daquele país, e impõe escolhas aos demais diante das opções ofertadas pelos chineses em termos de parcerias para a alavancagem de projetos de infraestrutura, de novas plantas industriais, de investimentos em inovação tecnológica, entre outros. 

O Brasil tem expectativas sobre investimentos em energia limpa, na indústria naval e, também, em grandes projetos ambientais que tanto Brasil quanto China esperam anunciar até a 30a conferência sobre mudanças climáticas (Cop30, Belém, novembro de 2025). A presidência brasileira no Banco dos BRICS, ainda mais em um momento de expansão do bloco, também é um fator diferencial em termos estratégicos na relação entre os dois países. Tanto que, recentemente (dia 29 de abril), o presidente da China, Xi Jinping, foi ao Banco para uma agenda com Dilma. Note: foi Xi Jinping quem foi visitar Dilma, e não o contrário, e esse não é um detalhe trivial. Pelo menos, não para os chineses.

Antonio Lassance é doutor em ciência política.

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Last Update: 04/05/2025