O presidente Lula conversou com o correspondente Jack Nicas, do jornal The New York Times. A entrevista, a primeira de Lula ao diário nova-iorquino em 13 anos, foi publicada nesta quarta-feira (30).

O petista respondeu a todos os questionamentos em relação o tarifaço desproporcional determinado pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, sobre produtos brasileiros. Na avaliação de Lula, os dois países sofrerão as consequências das tarifas de 50% aventadas pelo oligarca republicano. O prazo para que elas entrem em vigor está fixado em 1º de agosto.

“Eu quero dizer a Trump que brasileiros e americanos não merecem ser vítimas da política, se a razão pela qual o presidente Trump estiver impondo essa taxa ao Brasil for o caso contra o ex-presidente Bolsonaro. O povo brasileiro vai pagar mais por alguns produtos e o povo americano vai pagar mais por outros produtos. E acho que a causa não merece isso. O Brasil tem uma Constituição e o ex-presidente está sendo julgado com amplo direito de defesa”, argumentou.

Brasil soberano

Lula foi definido pelo repórter do NYT como um dos poucos chefes de Estado que têm “criticado Trump abertamente, chegando a chamá-lo de imperador”. Nicas perguntou se o presidente não teme que tal postura possa azedar ainda mais as relações com a Casa Branca.

“Não há motivo para ter medo. Estou preocupado, obviamente, porque temos interesses econômicos, interesses políticos, interesses tecnológicos. Mas em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil negociará como um país soberano”, rebateu Lula.

O presidente fez questão de enfatizar que leva a questão do tarifaço a sério, tanto que foram escaladas as figuras mais experientes do governo federal para negociar uma saída com a administração Trump.

“Tenham certeza de que estamos tratando isso com a máxima seriedade. Mas seriedade não exige subserviência”, ponderou. “Trato a todos com muito respeito. Mas quero ser tratado com respeito.”

Democracia sagrada

Em determinado momento da entrevista, Lula traça um paralelo entre o atentado à sede dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2022, e o ataque ao Capitólio, nos EUA, em 6 de janeiro de 2021. O petista afirmou que, no Brasil, Trump seria processado, assim como Bolsonaro.

“O Estado Democrático de Direito é sagrado para nós. […] Porque já vivemos ditaduras e não queremos mais”, resumiu.

Lula também soube separar o contencioso comercial com os EUA de qualquer tentativa de ingerência nas instituições brasileiras. “Acho importante que o presidente Trump considere: se ele quer ter uma briga política, então vamos tratá-la como uma briga política. Se ele quer falar de comércio, vamos sentar e discutir comércio. Mas não se pode misturar tudo”, defendeu.

“Não posso simplesmente enviar uma carta a Trump dizendo: ‘Escute, Trump, o Brasil não fará isso e aquilo se você não fizer isso e aquilo com Cuba’. Não posso fazer isso, por respeito aos EUA, à diplomacia e à soberania de cada nação. Então, é nisso que espero que ele reflita. Sinceramente, não sei o que Trump ouviu sobre mim. Mas se ele me conhecesse, saberia que sou 20 vezes melhor que Bolsonaro”, ironizou Lula, em seguida.

Às vésperas do tarifaço…

Às vésperas da entrada em vigor do tarifaço de Trump, o petista explicou como procederá o Brasil para mitigar prejuízos e reposicionar os produtos brasileiros no mercado internacional, caso o republicano permaneça irredutível. Lula garantiu: “Não vou chorar pelo leite derramado. Se os EUA não quiserem comprar algo nosso, vamos procurar alguém que queira”.

“Temos uma relação comercial extraordinária com a China. Se os EUA e a China quiserem ter uma Guerra Fria, não aceitaremos. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim, para quem pagar mais”, indicou o presidente, ao lembrar seu perfil político de negociador.

“Nem meu pior inimigo poderia dizer que o Lula não gosta de negociar. Aprendi política negociando. Não tenho nada contra a ideologia de Trump. Trump é uma questão para o povo americano lidar. Eles votaram nele. Fim da história. Não vou questionar o direito soberano do povo americano, porque não quero que questionem o meu”, acrescentou.

Relações Brasil-EUA

Lula disse ainda esperar que as relações históricas entre Brasil e EUA voltem à normalidade e à civilidade, mas sem deixar de lamentar o tom da carta em que Trump ameaça sobretaxar produtos nacionais em 50% e a dificuldade constante no diálogo com o governo de Washington.

“O que está impedindo é que ninguém quer conversar. Pedi para entrar em contato. Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para que cada um possa conversar com seu homólogo e entender qual era a possibilidade de diálogo. Até agora, não foi possível”, esclareceu.

“Só para vocês saberem o cronograma, realizamos 10 reuniões sobre comércio com o Departamento de Comércio dos EUA. Em 16 de maio, enviamos uma carta solicitando uma resposta dos EUA. A resposta que recebemos foi por meio do site do presidente Trump, anunciando as tarifas sobre o Brasil”, concluiu Lula.

Da Redação, com informações do The New York Times

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Last Update: 31/07/2025