O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, nesta quarta-feira (23), da Cúpula Virtual sobre Ambição Climática, realizada à distância pela Organização das Nações Unidas (ONU), e pediu que os países, especialmente os mais ricos, participem de um mutirão para conter as mudanças climáticas.
Lula lembrou que a COP30 será realizada em Belém do Pará em novembro, mas que o planeta parece caminhar para um território desconhecido pela ciência, uma vez que o aquecimento global segue em ritmo mais acelerado do que o previsto.
O chefe de Estado lembrou ainda que, em 2024, a temperatura média da terra ultrapassou o limite crítico, o que pode comprometer muitos ecossistemas.
“A Amazônia registrou a pior seca da sua história e o calor extremo tem provocado o branqueamento massivo de corais no oceano. Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer”, afirmou Lula.
Alternativas
Como alternativa, o presidente brasileiro sugeriu o multilateralismo e a cooperação internacional como pedra angular como resposta aos eventos climáticos.
“Apesar das investidas contra o Acordo de Paris, foi graças a ele que revertemos as projeções mais pessimistas de elevação da temperatura, que previam aumento de quatro graus até o fim do século”, continuou.
Lula cobrou ainda a apresentação das novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), em que os países apresentam as próprias metas de redução de emissões de carbono até 2035.
“O Brasil apresentou sua NDC na COP de Baku. Prevemos redução de 59 a 67% de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia. Internamente, estamos formulando um Plano Clima que contemplará estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática”, emendou.
Outra sugestão do chefe de Estado foi a maior responsabilização dos países ricos, principais beneficiados pela economia baseada em carbono, e que deveriam ampliar o financiamento de US$ 1,3 trilhões para antecipar as metas de neutralidade climática.
Políticas brasileiras
Lula apontou ainda as medidas já adotadas para colaborar com o combate às mudanças climáticas. Entre elas estão o Balanço Ético Global, em parceria com a ONU, com lideranças para criar um novo pacto com o planeta.
A Aliança Global de Combate à Fome e a Pobreza e a Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima, em parceria com a UNESCO, também estão na mira do presidente como formas de atenuar as mudanças climáticas e a desinformação.
“Por fim, temos o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a ser lançado na COP30, que vai remunerar países em desenvolvimento que preservam suas florestas”, concluiu Lula.
Leia o discurso na íntegra:
“Cumprimento o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e todos meus colegas, chefes de Estado e de governo que aceitaram o nosso convite para esta Cúpula.
Nosso encontro ocorre em um momento particularmente triste, em razão do falecimento do Papa Francisco.
Tenho certeza de que seus ensinamentos sobre a necessidade de uma “ecologia integral”, que enxergue a natureza e o ser humano como uma totalidade, vão nos servir de inspiração.
A menos de sete meses da COP30, que o Brasil sediará em Belém do Pará, o planeta parece estar entrando em território desconhecido pela ciência.
O aquecimento global está ocorrendo em ritmo mais acelerado do que o previsto.
Em 2024, a temperatura média da Terra ultrapassou pela primeira vez o limite crítico de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.
Muitos ecossistemas, como as florestas, as geleiras e os mares, correm o risco de atingir um ponto de não retorno.
A Amazônia registrou a pior seca da sua história e o calor extremo tem provocado o branqueamento massivo de corais no oceano.
Negar a crise climática não vai fazê-la desaparecer.
Precisamos assegurar que o multilateralismo e a cooperação internacional sigam como pedra angular da resposta global à mudança do clima.
Apesar das investidas contra o Acordo de Paris, foi graças a ele que revertemos as projeções mais pessimistas de elevação da temperatura, que previam aumento de quatro graus até o fim do século.
No Brasil, quando queremos mobilizar esforços em torno de um objetivo comum, utilizamos uma palavra de origem indígena chamada “mutirão”.
Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos.
Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás.
O planeta já está farto de promessas não cumpridas.
Neste ano, todos os países devem apresentar suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas, as NDCs, com metas de redução de emissões de carbono até 2035.
O Brasil apresentou sua NDC na COP de Baku. Prevemos redução de 59 a 67% de emissões, abrangendo todos os gases de efeito estufa e todos os setores da economia.
Internamente, estamos formulando um Plano Clima que contemplará estratégias de mitigação, adaptação e justiça climática.
Não se pode falar em transição justa sem incorporar a perspectiva de setores historicamente marginalizados, como mulheres, negros e indígenas, e sem considerar as circunstâncias do Sul Global.
A arquitetura de preparação das NDCs é suficientemente flexível para combinar metas ambiciosas e as necessidades de desenvolvimento de cada Estado.
Os países ricos, que foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono, precisam estar à altura de suas responsabilidades.
Está em suas mãos antecipar metas de neutralidade climática e ampliar o financiamento até o objetivo de um trilhão e trezentos bilhões de dólares.
Faço um chamado especial por apoio a quatro iniciativas que devem pavimentar nosso caminho até Belém nos próximos meses.
A primeira delas é um esforço que chamamos de Balanço Ético Global. O Brasil e a ONU reunirão lideranças jovens e religiosas, artistas, povos originários, cientistas e tomadores de decisão em torno de um novo pacto com o planeta.
A segunda é a Aliança Global de Combate à Fome e a Pobreza. Junto com a FAO, elaboramos um guia para a inclusão de políticas sociais e de transformação de sistemas alimentares nas NDCs.
A terceira é a Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima, em parceria com a UNESCO, que visa a valorizar a ciência e combater a desinformação.
Por fim, temos o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, a ser lançado na COP30, que vai remunerar países em desenvolvimento que preservam suas florestas.
Esta cúpula representa o início de um amplo movimento rumo à COP 30.
No ano em que celebramos o 80º (octogésimo) aniversário das Nações Unidas, convido a todos para um diálogo franco, aberto e genuíno sobre o que é preciso fazer para avançar na luta contra a mudança do clima.
Muito obrigado.”
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