Lula sob Cerco e a Lição de Getúlio, por Gustavo Tapioca

Lula sob Cerco e a Lição de Getúlio

por Gustavo Tapioca

A marcha da insensatez avança. Ou os setores radicais se dão conta dos riscos que o país corre, ou será muito tarde para conter o desmante. A advertência foi feita no dia 25 de junho no JGGN por Luís Nassif em artigo com o título “Começou o cerco total ao governo Lula“.

No ICL, Heloísa Vilela afirma que “no dia de ontem os parlamentares deixaram muito claro que para eles a eleição de 2026 já começou, e a luta de classe está colocada: o Congresso é o defensor da elite econômico-financeira do país.”

Também no ICL, o professor João Cezar de Castro Rocha lançou uma comparação inquietante em recente aula no Instituto Conhecimento Liberta (ICL): “o Brasil sob Lula vive hoje uma situação semelhante à de Getúlio Vargas em 1954.” À primeira vista, pode parecer exagero. Mas, ao olhar mais de perto, a analogia não só se sustenta como, também, revela o ciclo perverso da política brasileira, em que qualquer tentativa de mudança real é cercada, sabotada e criminalizada.

Vargas e Lula: dois projetos, um inimigo. Getúlio, em seus últimos anos, governava com o país conflagrado. Após anos de políticas voltadas à soberania nacional, como a criação da Petrobras, e à inclusão social, como a CLT, viu-se acuado por setores da imprensa, pelas elites econômicas e por parte das Forças Armadas. Em 1954, seu suicídio teve a função trágica de barrar um golpe já em curso.

Lula, em seu terceiro mandato, enfrenta um cerco semelhante: um Congresso hostil, dominado pelo centrão fisiológico; um mercado que reage com fúria a qualquer gesto distributivo; uma mídia majoritariamente contrária; e, talvez mais perigoso, uma máquina de desinformação movida a algoritmos, ódio e dinheiro sujo que age 24 horas por dia sete dias por semana nas redes.
Ambos ousaram desafiar o mandamento silencioso da elite brasileira: “O Brasil é nosso e para poucos”.

Democracia sob chantagem
A comparação com 1954 é ainda mais dramática quando se observa o isolamento institucional. Vargas perdeu apoio interno e viu o Exército se voltar contra ele. Lula, hoje, governa quase em minoria, cercado por chantagens políticas, uma oposição radicalizada e um Judiciário que, se por um lado conteve o golpismo bolsonarista, por outro exerce poder desproporcional sobre decisões de governo.

Não há tanques na rua — ainda. Mas há um golpe permanente, de natureza digital, judicial e orçamentária. E o objetivo é o mesmo de 1954: impedir que o povo brasileiro tenha voz na condução de seu destino.

O papel da comunicação e das redes
Em 1954, Carlos Lacerda e a Tribuna da Imprensa lideraram uma guerra de narrativas contra Vargas. Hoje, os “Lacerdas” são múltiplos, com perfis falsos, influenciadores pagos e campanhas de WhatsApp impulsionadas com dinheiro local e estrangeiro. A batalha deixou de ser apenas institucional — é também simbólica.

Lula precisa enfrentar não só o mercado e o Congresso, mas também um ecossistema de desinformação que mina sua legitimidade diariamente, muitas vezes sem resposta à altura por parte do governo.

Diferente de 1954, o Brasil de hoje ainda oferece algum espaço para resistência. Lula conta com respaldo internacional, com uma base popular relevante e com movimentos sociais articulados. Mas o tempo é curto, e o desgaste imposto pela máquina de sabotagem permanente cobra seu preço.
A história nunca se repete literalmente, mas seus padrões se insinuam. O alerta de João Cezar de Castro Rocha é claro: ou enfrentamos esse cerco com lucidez, mobilização e coragem — ou veremos novamente a elite brasileira vencer pela chantagem, pelo caos e pela destruição do futuro.

Gustavo Tapioca é jornalista ex-diretor de Redação do Jornal da Bahia. Foi Assessor de Comunicação Social da Telebrás. Consultor do Fundo das Nações Unidas para a Infância e Consultor do Instituto Interamericano de Ciências Agrárias (IICA/OEA).

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