O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou neste domingo, 3, em evento realizado em Brasília (DF), que poderá concorrer ao seu quarto mandato nas eleições presidenciais de 2026, desde que esteja em boas condições de saúde. A declaração foi feita durante o Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores, ocasião que também marcou a posse de Edinho Silva como novo presidente da legenda.

“Se eu for candidato, vou ser candidato para ganhar”, disse Lula a apoiadores e dirigentes partidários. O presidente destacou que sua decisão dependerá de uma avaliação pessoal sobre seu estado físico e mental no próximo ano. “Para ser candidato tenho que ser muito honesto comigo. Preciso estar 100% de saúde. Para eu me candidatar e acontecer o que aconteceu com Biden, jamais. Quando falo que tenho 80, energia de 30, vocês podem acreditar”.

A referência ao ex-presidente norte-americano Joe Biden se deu em meio às discussões sobre idade e desempenho físico de candidatos, especialmente após Biden desistir da reeleição em 2024, em meio a pressões internas do Partido Democrata. Lula completará 81 anos em outubro de 2026, ano da próxima eleição presidencial.

Apoio interno e relação com o Congresso

Durante sua fala, Lula também abordou o desempenho do PT nas eleições legislativas de 2022 e as dificuldades enfrentadas pelo governo federal na interlocução com o Congresso Nacional. “Nessa eleição, nosso partido só elegeu 70 deputados de 513. É muita diferença. Se nós fôssemos bons como nós pensamos que fôssemos, a gente teria eleito 140, 150”, disse o presidente, destacando a necessidade de ampliar a representação parlamentar do partido.

O chefe do Executivo reconheceu que a baixa representação do PT e da esquerda em geral tem exigido negociações constantes com outras bancadas, muitas delas de orientação conservadora. “Isso não é um defeito só do PT, é de toda a esquerda”, afirmou. Lula apontou como exemplo a aprovação da reforma tributária, articulada pelo governo federal mesmo diante de resistências de parte expressiva do Congresso.

“Muitas vezes na política vocês acham que é derrota, mas a gente aprovar uma política tributária num Congresso totalmente adverso… Nós conseguimos”, completou.

Edinho Silva assume a presidência do PT

O evento também foi marcado pela posse de Edinho Silva como novo presidente do Partido dos Trabalhadores. Prefeito de Araraquara (SP) e ex-ministro da Comunicação Social, Edinho substitui a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), que ocupava o posto desde 2017. A troca no comando da legenda ocorre em um momento de reestruturação interna da sigla, que busca ampliar sua presença digital e preparar o terreno para as eleições municipais de 2024 e gerais de 2026.

A escolha de Edinho é interpretada internamente como uma tentativa de aproximação entre a direção partidária e o núcleo do governo, já que o novo presidente é considerado próximo de Lula e de ministros da atual gestão. A expectativa é de que ele fortaleça a articulação do PT nos estados e contribua com a renovação da base parlamentar no próximo pleito.

Projeção para 2026

Embora Lula tenha evitado formalizar sua candidatura, as declarações feitas no evento reforçam especulações sobre sua permanência como figura central no processo eleitoral de 2026. Atualmente no terceiro mandato como presidente da República, Lula já havia sinalizado anteriormente que tomaria uma decisão mais clara sobre o futuro político somente em 2025.

Internamente, lideranças do PT avaliam que a decisão de Lula será condicionada não apenas a sua saúde pessoal, mas também ao cenário político, ao desempenho econômico do país e ao andamento das investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.

A declaração de Lula também surge no contexto de recuperação da aprovação popular do governo. Segundo levantamento recente do instituto AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, divulgado na última semana de julho, o índice de aprovação do presidente superou, pela primeira vez no ano, o percentual de desaprovação.

Se decidir entrar na disputa, Lula poderá buscar um feito inédito na história democrática recente do país: conquistar um quarto mandato presidencial por meio de eleições diretas. A eventual candidatura deve ocorrer em meio a uma reconfiguração do quadro político brasileiro, com novas alianças, possíveis lideranças emergentes da direita e o posicionamento de partidos do centro político.

Estratégia política em construção

Nos bastidores do Palácio do Planalto e da direção do PT, interlocutores apontam que o discurso de Lula neste domingo visa preparar o ambiente político e partidário para o segundo semestre de 2025, quando o governo deve intensificar a articulação com o Legislativo para avançar projetos estruturais, incluindo propostas de regulamentação tributária e reforma administrativa.

Além disso, a direção partidária estuda ampliar os investimentos em comunicação digital e engajamento nas redes sociais. A estratégia inclui a formação de núcleos estaduais voltados à atuação online, com foco especial nas regiões Norte e Centro-Oeste, consideradas prioritárias para a expansão da base eleitoral da legenda.

A expectativa é de que, independentemente da decisão de Lula, o PT mantenha protagonismo na disputa de 2026. Integrantes do partido ressaltam que, mesmo em caso de ausência do atual presidente na corrida presidencial, ele continuará exercendo papel decisivo na definição do candidato e na coordenação da campanha.

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Last Update: 04/08/2025