Lula se ausenta do maior evento antifascista da América Latina

Nessa sexta-feira (10), o presidente Nicolás Maduro deu início ao seu terceiro mandato à frente da República Bolivariana da Venezuela. O evento de posse, que recebeu delegações de várias partes do mundo, marcou uma das mais importantes vitórias dos povos latino-americanos contra o imperialismo na última década.

O governo Maduro é a continuidade do governo de Hugo Chávez, morto em 2012. É, portanto, um governo situado nos marcos do chavismo, um regime político de caráter nacionalista, profundamente ligado às massas populares. O chavismo é o resultado direto de um processo de características revolucionárias que sacudiu a região na década de 1990, quando os povos se levantaram contra a política neoliberal.

A onda que levou o chavismo ao poder foi responsável por levar a esquerda ao governo em vários países vizinhos. Entre eles, o Equador, a Argentina, o Brasil, o Uruguai e o Paraguai.

Com a crise de 2008 e a consequente ofensiva imperialista sobre a América Latina, todos os países sul-americanos – e quase todos os países centro-americanos e caribenhos – caíram nas mãos da direita. A Venezuela ficou praticamente isolada. Mesmo os países onde a esquerda chegou a vencer as eleições, o regime se tornou profundamente direitista e hostil, como é o caso da Argentina, onde o kirchnerismo perdeu as eleições para o fascista Javier Milei; da Colômbia, onde Gustavo Petro está sob risco de sofrer um golpe de Estado; e do Brasil, onde o governo Lula não consegue governar.

Com o imperialismo em uma contraofensiva após as derrotas no Afeganistão, na região do Sael, na Ucrânia e no Oriente Médio, a Venezuela, no ano passado, entrou na mira da ditadura mundial. Apesar de estar, durante anos, sofrendo um bloqueio econômico, a Venezuela passou a sofrer um ataque ainda mais intenso, na medida em que o imperialismo tentou fazer com que as eleições fossem roubadas para que Maduro saísse derrotado.

Mesmo com a pressão da imprensa mundial, a mobilização dos trabalhadores venezuelanos impediram que a extrema direita fosse vitoriosa. Nos dias seguintes à reeleição de Maduro, os derrotados tentaram instaurar o caos no país, agredindo pessoas e ateando fogo em locais públicos. Uma vez mais, a mobilização popular derrotou os “guarimberos” e manteve o governo Maduro estável.

Ao mesmo tempo em que tentava derrubar o governo “por dentro”, o imperialismo procurou pressionar todos os seus países subalternos a se voltarem contra o chavismo. O objetivo era isolar completamente o governo de Maduro, aumentando a pressão contra as forças armadas do país, para que assim derrubassem o presidente venezuelano. A pressão externa também falhou.

A posse de Maduro é a consequência da vitória de um povo lutando praticamente sozinho contra o imperialismo. De maneira vergonhosa, o Brasil, que é o maior, mais rico e mais importante país da América do Sul, somou-se ao imperialismo nos ataques ao chavismo, em vez de estender a mão ao povo que sempre foi solidário com o Brasil. Lula, que foi apoiado por Maduro quando os fascistas da Polícia Federal o colocaram na cadeia, decidiu exigir as atas das eleições venezuelanas, quando os fascistas da “oposição” acusaram-no de fraudar o pleito.

A vitória do povo venezuelano deve ser comemorada por todos os povos do mundo. Graças a ela, o chavismo se mantém de pé e pode servir como uma importante base para a luta anti-imperialista no subcontinente. Da mesma forma, Lula e a esquerda latino-americana deveriam não apenas saudar Maduro pela vitória, mas aproveitar o momento para estreitar relações em uma aliança contra o grande inimigo comum.

Lula se negou a ir à posse de Maduro. Mais do que isso: mandou apenas a embaixadora do País à posse, em um gesto de desprezo pela grandeza do evento. Ao mesmo tempo, calou-se enquanto vigaristas como Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do governo no Senado, e Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente da República, atacavam o presidente venezuelano.

Apoiar quem está lutando e teve uma importante vitória parcial contra o imperialismo é, por princípio, dever de toda a esquerda. No caso de Lula, no entanto, há ainda mais em jogo que os seus princípios. O governo brasileiro está sob um cerco cada vez maior do imperialismo. Um cerco que chegou ao ponto de o governo não poder mais determinar a sua política fiscal, nem a sua política monetária.

No dia 8 de janeiro, Lula e seus apoiadores muito falaram sobre a necessidade de combater o “fascismo”. Não passava de discurso com um único objetivo: justificar uma aliança com aqueles que estão acuando ainda mais o governo: o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso e a grande imprensa.

Se Lula está de fato preocupado com o “fascismo” – e deveria de fato se preocupar, pois a extrema direita não para de crescer -, a única política consequente seria a de aliar-se a Maduro na luta contra o imperialismo. Sua ausência na posse do presidente venezuelano tornará as condições ainda piores para seu governo.

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