Ao abrir a reunião ministerial desta terça-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o ímpeto imperialista de Donald Trump e sua tentativa de interferir no processo contra Jair Bolsonaro relativo à trama golpista. Disse, ainda, que o Brasil não aceitará ser tratado como subalterno e classificou como grave traição à pátria a atitude do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e de seu pai de incitar o governo dos EUA contra o Brasil.
“O governo dos EUA tem agido como se fosse o imperador do Planeta Terra; é uma coisa descabida”, salientou o presidente, usando — assim como a maioria dos ministros — o boné “O Brasil é dos Brasileiros”.
Em seguida, Lula criticou a posição adotada por Trump em publicação feita na noite desta segunda-feira (25), em que ele ameaça aplicar tarifas “substanciais” aos países que estabelecerem “impostos, legislação e regulamentações de mercados digitais” o que, na opinião do estadunidense, seriam “projetados para prejudicar ou discriminar a tecnologia americana”.
Leia também: Lula anuncia R$ 12 bilhões para renovar indústria com tecnologias 4.0
Sobre isso, Lula salientou: “As big techs são um patrimônio para os americanos, mas não são nosso patrimônio. Somos um país soberano, temos uma Constituição, uma legislação e quem quiser entrar nesses 8,5 milhões de quilômetros quadrados de território, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo ou nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação”.
O presidente acrescentou: “é assim que tem que ser para que a gente possa construir e fortalecer esse mundo democrático, multilateralista que o Brasil faz questão de defender”.
Lula também enfatizou a disposição do Brasil de negociar, porém, de maneira soberana. “Estamos dispostos a sentar à mesa em igualdade de condições. O que não estamos dispostos é sermos tratados como se fôssemos subalternos. Isso nós não aceitamos de ninguém. Nosso compromisso é com o povo brasileiro”, afirmou.
Apontando para o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), Lula disse que os três estão “24 horas por dia à disposição para negociar com quem quer que seja, o assunto que for, sobretudo na questão comercial”.
Traição à pátria

Ao tratar das atitudes de Bolsonaro e de seu filho Eduardo de instigar os Estados Unidos contra o Brasil — chantageando o país com tarifas em troca da anistia do ex-presidente no processo em que ele é réu por tentativa de golpe de Estado —, Lula enfatizou: “o que está acontecendo hoje no Brasil com a família do ex-presidente e o comportamento do filho dele nos EUA é possivelmente uma das maiores traições que uma pátria sofre de filhos seus”.
Lula completou dizendo que “não existe nada que possa ser mais grave do que uma família inteira ter um filho custeado, um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, para insuflar com mentiras e hipocrisia um outro Estado contra o Estado nacional do Brasil. Vamos ter de fazer disso um campo de batalha na política — e não no campo do governo — para que a gente possa fazer com que esse país seja respeitado”.
Leia também: Maioria diz que Bolsonaro provocou Moraes e mereceu prisão domiciliar
O presidente disse, ainda, desconhecer na história do Brasil “algum momento em que um traidor da pátria teve a desfaçatez de mudar de país; ele está adotando os EUA como pátria, negando sua própria pátria e tentando insuflar o ódio de alguns governantes americanos contra o povo brasileiro. Isso não é aceitável. Aceitamos relações cordiais com o mundo inteiro, mas não aceitamos desaforo, ofensas e petulância de ninguém. Se a gente gostasse de imperador, o Brasil ainda seria uma monarquia”.
Lula também aproveitou a reunião para se solidarizar com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que teve seu visto para os EUA também suspenso, como retaliação ao Brasil.
O presidente classificou o ato do governo Trump como um “gesto irresponsável” e disse, dirigindo-se a Lewandowski, que “é vergonhoso para eles e não para você”. Além disso, declarou que “essas atitudes são inaceitáveis, não só contra o Lewandowski, mas contra os ministros da Suprema Corte e qualquer personalidade brasileira”.
Ucrânia e Gaza
Ao iniciar sua fala, o presidente Lula também tratou da guerra na Ucrânia e da situação de fome extrema imposta por Israel aos palestinos na Faixa de Gaza.
“Todo mundo sabe que esta guerra está para chegar no final, acho que tanto o presidente (Vladimir) Putin quanto o presidente (Volodymyr) Zelensky já sabem o limite de até aonde vai essa guerra, a Europa sabe, o Trump sabe. Estamos apenas aguardando o momento em que eles tenham coragem de anunciar o fim desse guerra”, afirmou Lula.
Em tom de indignação, Lula voltou a denunciar a grave situação vivida na Palestina. “Todo dia, mais gente morre, todo dia aparece na mídia as crianças passando fome, totalmente esqueléticas e sendo assassinadas como se estivessem em guerra, como se fossem do Hamas”.
Neste ponto, Lula criticou a dificuldade de os organismos internacionais intervirem na região. “A gente percebe que a fragilidade do mundo é grande, a fragilidade da governança global, porque ninguém toma uma atitude. Por isso, estamos há muito tempo reivindicando uma mudança na governança da ONU, para que haja quem consiga parar um genocídio como esse, parar com uma guerra, evitar uma guerra, coisa que nós não temos hoje”.