O presidente Lula afirmou que o ano de 2026, em que será travada a disputa eleitoral pela Presidência da República, será “o mais importante para o Brasil das últimas décadas”. “É um ano decisivo em que a sociedade brasileira vai ter que definir que país ela deseja construir, que país ela pensa que vai deixar para os seus filhos e para os seus netos, que tipo de democracia as pessoas vão querer”, disse, nesta terça-feira, ao discursar na reunião que reconduziu membros do Conselho de Participação Social (CPS), no Palácio do Planalto.
No momento em que o Senado Federal discute que formato dará à anistia de Jair Bolsonaro e de golpistas ligados a seu governo, que tramaram o golpe de 8 de janeiro de 2023, Lula disse ter orgulho dos avanços democráticos, sociais e econômicos conquistados nos três anos de seu terceiro mandato. “É importante a gente não esquecer que pela primeira vez em 520 anos você tem um presidente da República preso por tentativa de golpe, e você tem junto com ele quatro generais de quatro estrelas presos, coisa que nunca tinha acontecido neste país.”
Isso só foi possível, continuou o presidente, porque “a sociedade brasileira aprendeu a exercer a democracia nesse país” e “passou a exigir que as regras que estão estabelecidas na Constituição, que estão estabelecidas no processo eleitoral, têm que ser cumpridas”.
Lula comparou a sua postura democrática, ao ser derrotado nas eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998, com a truculência golpista dos bolsonaristas. “Eu perdi três eleições (…) E nenhum de nós aqui resolveu fazer nenhum gesto de rebeldia. A gente resolveu se preparar para ganhar. E na hora que nós aprendemos a ganhar, eles não querem entregar.”
De um país dizimado a um ‘momento primoroso’
O presidente lembrou que o país foi dizimado na gestão de Jair Bolsonaro e que, ao ser eleito em 2022, para seu terceiro mandato, teve que reconstruir todas as estruturas de governo e os ministérios, tamanho o desmazelo e despreparo de seu antecessor. “Nós só conseguimos governar nos dois primeiros anos porque a gente teve como obstinação recuperar esse país.”
O momento, agora, é de colheita, segundo Lula, após muito esforço de sua administração. Em três anos de reconstrução, disse Lula, o Brasil retomou sua credibilidade internacional e há uma perspectiva econômica positiva. O presidente antecipou que no sábado, 20, poderá ser assinado o acordo Mercosul – União Europeia, após 26 anos de delicadas negociações. Ele recordou também que, com paciência, conseguiu retomar relações com o governo de Donald Trump e reverter o tarifaço imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
“Esse é o momento primoroso desse país: é que nós conseguimos consolidar pela primeira vez de que a democracia vale a pena quando ela é exercida na sua plenitude”, afirmou. Lula observou que em três anos de gestão conseguiu retomar e refazer os laços internacionais. “Com isso nós restabelecemos a normalidade democrática. O Brasil voltou a ser respeitado no mundo. O Brasil voltou a ter noção”, afirmou.
“Eu em 3 anos fiz reuniões com os 54 países da União Africana. Em 3 anos eu fiz reunião com os 27 países da União Europeia. Em 3 anos eu fiz reuniões com os 34 países da CELAC (…) Nesses 3 anos eu já fui à China, já fui à Índia, já fui à Rússia, já fui à Malásia, já fui à Indonésia (…) Em 3 anos nós conseguimos 500 novos mercados para os produtos brasileiros”, comemorou.
Conquistas econômicas
Em seu discurso, Lula também elencou os avanços na economia, em especial a recomposição do aumento real do salário mínimo. “É a menor inflação acumulada em 4 anos da história do Brasil (…) Depois de 7 anos sem reajuste do salário mínimo e sem nenhum percentual de aumento real, nós já estamos há 3 anos devolvendo o aumento real para o salário mínimo do povo brasileiro. É o melhor momento de crescimento da massa salarial nesse país. É o melhor momento de desemprego da história desse país”, enumerou.
Lula destacou também a isenção de Imposto de Renda para os que recebem salário de até R$ 5 mil, o que considerou um “milagre” por causa da desfavorável correlação de forças para a esquerda no Congresso Nacional.
O presidente recordou sua longa trajetória de luta política e sindical nos tempos da ditadura militar, a eleição de Fernando Collor de Mello e tantos outros episódios do país que tentava recuperar a democracia. Reiterou que os desafios do país seguem imensos, mas que, aos 80 anos, não perdeu a energia. “E por isso que eu falo que a idade não passa para mim. Eu não estou brincando quando eu falo para vocês que eu tenho 80 e energia de 30. Não, não pensa que é uma frase de efeito. É porque a cabeça da gente não fica velha quando ela é construída com uma causa.”
Conselho de Participação Social
Recriado no seu retorno à presidência no seu terceiro mandato (2023), o presidente Lula e o ministro Guilherme Boulos, da Secretaria-Geral da Presidência da República, participaram nesta terça-feira (16) da reunião para a recondução dos 68 membros do Conselho de Participação Social, que são definidos pelo presidente da República para o biênio 2025-2027.
O grupo conta com participações do Movimento Nacional de Luta em defesa da População em Situação de Rua, da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento Nacional de Luta por Moradia, da Federação Única dos Petroleiros e da Força Sindical.
Ao final, Lula voltou a enfatizar sobre sua luta no combate a violência contra as mulheres e ao feminicídio. “É preciso a gente purificar a cabeça do ser humano macho. É ele que é violento. É um processo educacional que tem que ser levado para a escola”. E concluiu: “Se nós chegamos até agora com as conquistas que nós fizemos, pode ter certeza, que eu tenho consciência que uma parte disso devemos a vocês, a vocês dos Conselhos e milhões de pessoas, que nem nos conhecem, mas estão fazendo o trabalho deles e resistindo”.