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A trajetória política de Luiz Inácio Lula da Silva é uma narrativa de cercos e superações. Desde os anos 1970, quando era vigiado pelo SNI (Serviço Nacional de Informações), até os anos 1980, quando passou a ser monitorado pela CIA, Lula sempre esteve no centro de uma vigilância implacável. Nos anos recentes, essa vigilância se transformou em perseguição: uma força-tarefa envolvendo a CIA, o Departamento de Justiça dos EUA e a Operação Lava Jato dedicou uma década a escrutinar sua vida. Sem provas, fabricaram um processo fraudulento para afastá-lo e permitir a ascensão de um governo autoritário, que mergulhou o Brasil em miséria econômica, caos sanitário e destruição institucional.
A volta de Lula à Presidência, em 2022, foi mais do que uma vitória eleitoral; foi um resgate. O país havia sido afogado em um vale de lágrimas por um governo que desmontou redes de proteção social, ignorou a pandemia com políticas genocidas e adiou em meses a vacinação enquanto negociava propinas na compra de imunizantes, como revelou a CPI da Covid. Mais de 350 mil mortes poderiam ter sido evitadas. A não reeleição do fascista só foi possível graças à capacidade de Lula de construir uma ampla aliança em defesa da democracia, unindo setores diversos e até antagônicos da sociedade.
Em pouco tempo, Lula começou a reconstruir o país devastado pelo fascismo bolsonarista. Os índices econômicos são claros: PIB crescendo muito acima da média mundial, menor desemprego da história do Brasil, aumento da massa salarial e do poder de compra, retomada de políticas sociais e, enfim, o Brasil de volta ao protagonismo internacional. Se sua trajetória prova algo, é que sua força política e capacidade de governar são indiscutíveis.
No capitalismo em geral, mas mais fortemente no Brasil, crescimento econômico com distribuição de renda e investimento na melhoria da vida dos mais pobres é uma sentença de morte política para governantes que ousem implementá-la, afinal, o que os ricos querem é que a economia cresça, mas que esse crescimento seja direcionado exclusivamente para seus bolsos.
Como em um roteiro repetido, mais uma vez um governo popular está na alça de mira dos endinheirados por seu sucesso econômico-distributivo. Desde dezembro de 2023, a luz vermelha está acesa na Faria Lima. Afinal, se Lula continuar entregando crescimento, redução da desigualdade e estabilidade, sua reeleição em 2026 será inevitável. E, assim como nos anos 1980, colocam em prática um plano de demonização do presidente — agora, mirando na desconstrução do mito do “pai dos pobres” e em uma senilidade que, a olhos vistos, é uma farsa grotesca.
Assim como o Rei Lear, de Shakespeare, que viu suas próprias filhas se voltarem contra ele em uma luta fratricida pelo poder, Lula hoje enfrenta supostos aliados que, em vez de fortalecer seu governo, buscam ocupar seu espaço político. Essa disputa interna, se não contida, pode minar os avanços alcançados e abrir caminho para o retorno do autoritarismo.
O exército de prepostos dos endinheirados é enorme — e não trabalha de graça. A direita, embarcada no terraplanismo bolsonarista, lidera o pelotão de ataque, mas os ataques também vêm de outros flancos: do ecossistema Ciro Gomes-Jones Manoel, que sonha em amealhar, sentados no sofá da sala, o espólio político de Lula; da oficialidade palaciana — a entourage, afundada em intrigas, que cerca o presidente; de grupos da luta identitária que esperavam um governo estritamente identitário, como se isso fosse possível; de antigos correligionários que perderam espaço político pelo amplo arco de alianças construído para eleger Lula. No fim, o que se vê de concreto é que a oposição extremista está muito bem amparada pelos bons trabalhos prestados justamente por aqueles que deveriam estar defendendo esse governo, que, em última instância, é um governo de salvação nacional.
Para piorar o cenário, Zé Dirceu já alertou: em 2026, a aliança terá que ser ainda mais ampla. O risco é enorme, especialmente com a atuação desregulada das big techs, que amplificam fake news e discursos de ódio. Lula não é apenas o líder do Brasil; ele é hoje o principal nome global na luta contra o fascismo. Por isso, tornou-se o inimigo número um da extrema-direita mundial e das grandes plataformas de tecnologia.
É fundamental que as lideranças políticas ajam com o mesmo senso de responsabilidade. O governo atual tem colhido resultados positivos, mas disputas internas e ataques desleais colocam em risco não apenas um projeto, mas o próprio futuro do país. A democracia não pode ser refém de interesses individuais nem de radicalismos que desviem o Brasil de um caminho de progresso e estabilidade. Cabe a nós decidir se cairemos na desordem e tragédia das filhas de Lear.
O destino do Brasil depende dessa escolha.