No artigo publicado no New York Times, neste domingo (14), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar duramente a decisão do governo Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Segundo ele, a medida é “equivocada e ilógica”, já que os EUA acumulam superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil nos últimos 15 anos e a maior parte de suas exportações entra no país com tarifas baixíssimas ou nulas.
Lula reconheceu a legitimidade da busca americana por reindustrialização e empregos, mas apontou que recorrer a medidas unilaterais não resolve o problema. “O multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas”, escreveu.
Acusações de motivação política
O presidente afirmou que a tarifação não tem base econômica e sim política. Segundo Lula, Washington estaria usando tarifas e a Lei Magnitsky para tentar garantir impunidade a Jair Bolsonaro, condenado pelo STF a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Ele destacou que o julgamento no Supremo foi histórico e conduzido dentro da Constituição de 1988, lembrando que investigações revelaram planos de assassinato contra ele próprio, o vice-presidente Geraldo Alckmin e um ministro do STF, além de um decreto que visava anular as eleições de 2022.
Defesa da regulação digital
Lula também rebateu as acusações de que o Brasil estaria perseguindo empresas americanas de tecnologia. Segundo ele, todas as plataformas — nacionais ou estrangeiras — estão sujeitas às mesmas regras. Classificar como censura a regulação digital, disse, é “desonesto”, já que o objetivo é proteger famílias contra desinformação, fraudes e crimes como exploração infantil.
“Não podemos aceitar que a internet seja uma terra sem lei”, escreveu o presidente.
Soberania tecnológica e financeira
Outro alvo das críticas de Trump foi o sistema de pagamentos brasileiro, o Pix, apontado como prática desleal. Lula respondeu afirmando que, pelo contrário, o Pix promoveu inclusão financeira de milhões de brasileiros e impulsionou a economia.
Meio ambiente e Amazônia
Na questão ambiental, Lula lembrou que o Brasil cortou o desmatamento da Amazônia pela metade nos últimos dois anos e que a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em bens ligados a crimes ambientais.
Mas advertiu: “A floresta seguirá em risco se outros países não reduzirem suas próprias emissões”. O presidente ressaltou que a degradação da Amazônia poderia afetar o regime de chuvas de todo o hemisfério, inclusive do meio-oeste americano.
Relação com os EUA: cooperação, mas com limites
Apesar das críticas, Lula afirmou que o Brasil segue aberto ao diálogo e à cooperação com Washington em áreas de interesse comum. Citou o próprio discurso de Trump na ONU em 2017, quando o americano disse que nações soberanas fortes devem trabalhar lado a lado com respeito mútuo.
“Estamos prontos para negociar o que for de benefício mútuo. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão na mesa”, concluiu.
Os cinco pontos centrais do artigo de Lula
1. Tarifas de Trump
- Lula classificou a tarifa de 50% contra produtos brasileiros como “equivocada e ilógica”.
- Argumentou que os EUA têm superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil nos últimos 15 anos.
- Defendeu o multilateralismo como solução mais justa para desequilíbrios globais.
2. Condenação de Bolsonaro
- Denunciou motivação política por trás das tarifas, ligadas à tentativa de pressionar por impunidade ao ex-presidente.
- Reforçou legitimidade da condenação no STF, citando provas de planos de assassinato e decreto golpista.
3. Regulação digital
- Rechaçou acusação de censura contra empresas de tecnologia.
- Afirmou que a regulação busca proteger famílias de fraudes, desinformação e crimes.
- “A internet não pode ser uma terra sem lei”, escreveu.
4. Pix e soberania tecnológica
- Defendeu o sistema de pagamentos instantâneos como inclusão financeira de milhões de brasileiros.
- Rebateu críticas americanas de prática desleal: “não podemos ser punidos por inovar”.
5. Meio ambiente e Amazônia
Alertou que a Amazônia só sobreviverá se outros países também reduzirem emissões.
Destacou queda de 50% no desmatamento em dois anos.
Lembrou apreensões milionárias em operações contra crimes ambientais.