O presidente Lula participou, na manhã desta quinta-feira (17), da abertura do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado no Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia. Diante de milhares de jovens de todo o Brasil, Lula fez um discurso em defesa da educação pública, da soberania nacional, da participação política da juventude e da necessidade de enfrentar, com estratégia e organização, o avanço da extrema direita no país.
Com um auditório lotado, o presidente foi recebido com entusiasmo pela militância estudantil. Lula começou agradecendo à UNE, nas palavras da presidente Manuela Mirela, e destacou o papel histórico da entidade nos avanços conquistados em seus governos e no de Dilma Rousseff.
“A UNE é responsável pelo fato da gente ter conquistado tantas coisas no ensino deste país”, afirmou. Lembrou ainda que uma entidade foi fundamental para defender programas como a Reestruturação e Expansão das Universidades (Reuni), o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
Ouça a íntegra do discurso do Lula:
Avanços históricos na educação
Lula destacou o impacto das políticas de seu governo na ampliação do acesso ao ensino superior.
“Em poucos anos, dobramos o número de estudantes nas universidades brasileiras, de 3,5 milhões para quase 9 milhões.”
Ele ressaltou que muitos de seus críticos se opuseram à ampliação de vagas e ao uso de bolsas em universidades particulares. “Muita gente dizia que a gente ia ajudar a burguesia brasileira que cuidava da educação. A UNE era esse debate.”
Ao relembrar os desafios do Fies, apontou a dificuldade dos estudantes em conseguir fiadores e a mudança promovida em seu governo. “Quem é que quer ser fiador de estudante? […] Nós resolvemos que o Estado seria o fiador dos estudantes brasileiros.”
Lula também comparou o atraso histórico da educação superior no Brasil com países como a República Dominicana, que teve sua primeira universidade em 1532, enquanto o Brasil só instituiu a primeira universidade federal em 1920.
“A elite brasileira descobriu que o índio não precisava estudar, que o escravo não precisava estudar e que os brancos pobres tinham que cortar cana.”
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Representação política
Ao longo do discurso, Lula questionou diretamente os estudantes sobre a necessidade de organização política.
“Nós precisamos de estratégia. A esquerda toda não tem mais que 140 deputados num Congresso com 513. […] Por que o PT, que elegeu cinco vezes um presidente da República, fez só 70 deputados federais?”
O presidente reforçou que não basta vencer o Executivo, é preciso formar maioria legislativa.
“Se a gente não montar uma estratégia de como reivindicar fazer maioria nas prefeituras, nos governos dos estados, a gente vai continuar só indo.”
Segundo ele, a juventude precisa se perguntar por que o discurso da esquerda não se traduz em votos. “Será que o povo está nos compreendendo? Será que o povo está nos entendendo? O debate não pode ser só dentro da universidade. O debate tem que ir para a rua.”
Negacionismo digital
Lula também alertou para o papel das redes digitais na desinformação. “Nós não queremos eleger ninguém via inteligência artificial. Queremos eleger via inteligência humana. Não quero uma sociedade de algoritmos. Quero uma sociedade humanista. […] Nós precisamos recuperar a solidariedade, o companheirismo.”
O presidente destacou os riscos de uma juventude vulnerável às mentiras nas plataformas digitais e defendeu uma atuação mais próxima da UNE junto às periferias.
“Eu acho que a UNE deveria montar equipe de estudantes para visitar as periferias, conversar com a juventude que não teve chance de estudar.”
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Soberania nacional
Lula também criticou a recente tentativa de interferência dos Estados Unidos nas decisões internas do Brasil. Segundo o presidente, o governo norte-americano insinuou sanções comerciais se o ex-presidente Jair Bolsonaro não fosse libertado.
“Não aceitamos que ninguém de nenhum país se meta nos nossos problemas internos”, afirmou.
Ele lembrou que generais e chefes estão presos por tentativa de golpe e que “vão ser julgados porque se auto delataram, com base nos autos do processo”.
“Nós vamos responder da forma mais civilizada possível. Mas aqui quem manda somos nós brasileiros.”
O presidente criticou duramente a postura de Bolsonaro e seus aliados. “Esse patriota falso vai pedir para o Trump me absolver. […] Ele que se abrace com a bandeira americana.”




Durante o evento, será eleita uma nova diretoria da entidade.
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Da Redação