Jair Bolsonaro e militares: ex-presidente e mais 36 pessoas são indiciadas pela PF. Foto: Reprodução.

O relatório final da investigação da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 traz diversas falas golpistas registradas em conversas entre os indiciados. Segundo o relatório, o ex-presidente Jair Bolsonaro desempenhou os papéis de planejador, dirigente e executor das ações que visavam o golpe.

O documento, com mais de 800 páginas, reúne evidências de uma trama arquitetada pelo entorno do ex-capitão para impedir a posse do presidente Lula em janeiro de 2023.

“Lula não sobe a rampa”

Uma das declarações registradas no material é atribuída ao general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa. Documentos obtidos pela PF indicam que o plano, denominado “Operação 142,” previa que “Lula não subiria a rampa,” em referência à cerimônia de posse presidencial no Palácio do Planalto.

O plano foi encontrado na sede do Partido Liberal, na mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto. A “Operação 142” distorcia o artigo 142 da Constituição Federal para justificar uma ruptura institucional, conforme indica a PF, como um meio discutido pelos envolvidos após a derrota eleitoral de Bolsonaro.

'Lula não sobe a rampa', diz documento — Foto: Reprodução
Plano encontrado na sede do Partido Liberal, na mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, assessor de Braga Netto. Foto: reprodução

“Em 64 não precisou assinar nada”

Mensagens trocadas entre os indiciados também fazem menção ao golpe militar de 1964. Em conversa com o tenente-coronel Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmou: “Em 64, não precisou ninguém assinar nada,” sugerindo que a falta de apoio dos comandantes militares atuais não deveria ser um obstáculo para a execução do golpe.

Mensagem enviada por Mauro Cid inquérito da PF — Foto: Reprodução
Mensagem enviada por Mauro Cid em grupo de militares menciona o golpe militar de 1964. Foto: Reprodução.

No entanto, as investigações indicam que houve resistência entre os membros do Alto Comando das Forças Armadas, inviabilizando a assinatura do documento golpista.

“Tinham tanques no arsenal prontos”

Outras mensagens analisadas pela PF revelam que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, teria aderido ao plano golpista. De acordo com informações obtidas de um contato identificado como “Riva,” Garnier era considerado um aliado estratégico e descrito como “Patriota.”

Riva mencionou que “tinham tanques no arsenal prontos,” indicando preparativos militares para apoiar o golpe. Em resposta, o interlocutor sugeriu que Bolsonaro, referido como “01,” deveria ter tomado uma postura mais firme com a Marinha, o que poderia ter incentivado o Exército e a Aeronáutica a se alinharem ao plano.

“Basta a canetada”

A investigação também revelou a prisão do agente da PF Wladimir Matos Soares, acusado de se infiltrar na equipe de segurança de Lula para repassar informações estratégicas ao grupo golpista.

Wladimir enviou mensagens afirmando: “Eu e minha equipe estamos com todo equipamento pronto p ir ajudar a defender o PALÁCIO e o PRESIDENTE. Basta a canetada sair!”

Segundo o relatório, Wladimir repassou informações sensíveis sobre o esquema de segurança de Lula ao capitão da reserva Sérgio Rocha Cordeiro, assessor especial do Gabinete Pessoal do Presidente da República. A descoberta desse esquema foi possível graças à análise de materiais apreendidos durante a investigação, reforçando a gravidade da tentativa de golpe.

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Last Update: 27/11/2024