Não adianta. O “mensalão” foi um aprendizado, para ensinar ao governo Lula os meandros das disputas políticas no âmbito do sistema judicial. Não adiantou. Seguiu-se à risca a lista tríplice, escolhendo o mais votado. Foi o que fez Dilma Rousseff reconduzir Rodrigo Janot em vez da segunda colocada, Debora Duprat, uma das referências do Ministério Público Federal.

Depois, veio a Lava Jato, e zero de aprendizado. Eleito, Jair Bolsonaro indica Augusto Aras, não apenas fora da lista tríplice, mas como crítico do padrão Lava Jato.

Lula é reeleito e toma sua grande decisão: escolher alguém fora da lista tríplice, não importa quem. E escolheu Paulo Gonet, um procurador claramente conservador, cujo círculo de amigos inclui o ex-senador Demóstenes Torres, o ex-ministro Ricardo Salles, o ex-STF Marco Aurélio de Mello, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho Ives Gandra Filho.

Surpresa? Nenhuma. Gonet sempre foi visto como um conservador. Mas tinha a inenarrável vantagem de não ser votado para a lista tríplice. Como se o fato de não estar na lista tríplice, por si só, fosse aval de comportamento não corporativo.

Tinha outros nomes. Talvez Aurélio Rios fosse muito, para um governo que quer se posicionar na centro-direita. Afinal, é um dos expoentes da linha social do MPF. Mas mesmo na lista tríplice havia nomes muito mais adequados, como Mário Luiz Bonsaglia e José Adonis. Luiza Frischeisen é preparada, mas pertence à linha dura punitivista do órgão.

O que se vê é o óbvio:  Gonet passando pano nos abusos da Lava Jato, arquivando o relatório do Conselho Nacional de Justiça, confraternizando-se publicamente com sua turma e deixando entrever, nos escritórios brasilienses, que já pulou do barco – como, aliás, suspeitei no artigo “Os bambuzais de Brasilia e a volta do ar conservador”.

Provavelmente não será reconduzido. Provavelmente Bonsaglia teria sido escolhido, caso não fizesse parte da lista tríplice. Mas o duro é perceber que, apesar de tudo, tudo o que vivemos, pouco ou nada se aprendeu.

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Last Update: 10/02/2025