O presidente Lula inaugurou nesta quinta-feira (14), em Goiana (PE),, a nova fábrica de hemoderivados da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). O empreendimento, que recebeu R$ 1,9 bilhão em investimentos, é considerado um passo decisivo para que o Brasil alcance a autossuficiência na produção de medicamentos estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS), como albumina, imunoglobulina e fatores de coagulação VIII e IX.

A unidade vai utilizar o plasma humano obtido nas doações de sangue para fabricar insumos de alto custo, fundamentais no tratamento de queimaduras graves, hemofilias, doenças raras e em procedimentos complexos, como grandes cirurgias e atendimento em UTIs. Com a entrada em operação plena, prevista para ocorrer de forma escalonada, a Hemobrás pretende processar até 500 mil litros de plasma por ano, produzindo seis tipos de medicamentos.

Decisão política e desenvolvimento regional

Durante a cerimônia, Lula destacou a importância de ter escolhido Pernambuco como sede da nova planta industrial, citando a atuação do senador Humberto Costa, ex-ministro da Saúde, para viabilizar a instalação no estado.

“Era o pessoal do Butantã, de Minas Gerais, todo mundo queria essa fábrica. Mas eu sabia que, para Pernambuco e para o Nordeste, esse investimento teria um peso extraordinário. Foi uma decisão política para desenvolver a região”, afirmou.

O presidente ressaltou que governar é tomar decisões com base em qual parcela da sociedade será beneficiada. “A arte de governar é saber de que lado você vai tomar a decisão. Se é para atender a quem já tem ou para uma grande parcela da população que sempre foi tratada como invisível. Eu nunca me conformei de ver o Nordeste como símbolo do atraso”, disse.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que a inauguração da Hemobrás se soma a esforços para garantir a soberania brasileira perante mercados internacionais.

“Significa produção de medicamentos para o povo brasileiro, pelo SUS, sem as pessoas terem que pagar por esse medicamento. É a gente ficar livre, às vezes, de cartéis internacionais que existiam na comercialização dos hemoderivados, e soberania, porque está atraindo o conhecimento, formando profissionais aqui, gerando conhecimento e tecnologia para dar novos saltos”.

Veja a íntegra da cerimônia:

Combate à desigualdade histórica

Lula relembrou a infância marcada pela pobreza e a migração de Garanhuns para São Paulo, aos sete anos, para fugir da fome. “Eu fui conhecer pão aos sete anos de idade. Até então, café da manhã era farinha com café, quando tinha. Muitas vezes eu me perguntava se Deus havia esquecido o Nordeste”, afirmou, acrescentando que políticas públicas são fundamentais para garantir oportunidades iguais.

Segundo o presidente, a ampliação do acesso à educação foi um dos pilares de seus governos, com a criação de universidades, institutos federais e programas de inclusão. “Não tem possibilidade de o Brasil ser um país desenvolvido sem investir na educação. E investir em educação não é gasto, é investimento. Saímos de 3,5 milhões para 9 milhões de estudantes no país”, ressaltou.

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Educação, saúde e soberania

Ao relacionar a nova fábrica a outros avanços em sua gestão, Lula destacou que um país soberano precisa garantir educação de qualidade, segurança alimentar e acesso à saúde. “Isso aqui chama-se soberania nacional. Vamos produzir nossos medicamentos e não depender de ninguém para cuidar da saúde do povo brasileiro”, disse.

Ele lembrou a criação da Farmácia Popular, que distribui gratuitamente medicamentos para as doenças mais comuns, e anunciou a ampliação do acesso a especialistas no SUS, inclusive com parcerias com hospitais privados.

“Quem está doente não pode esperar dez meses para um exame ou consulta especializada. O povo pobre tem direito a atendimento rápido e de qualidade”, afirmou.

Lula reforçou que sua prioridade é oferecer oportunidades para quem mais precisa. “O Estado é quem garante que a filha de uma empregada doméstica possa disputar uma vaga na universidade com o filho da patroa. Não é tirar nada de ninguém, é dar oportunidade para quem nunca teve. Eu não conheço uma pessoa que escolheu ser pobre. Só é pobre porque não teve oportunidade, e é o Estado que tem que dar essa oportunidade”, afirmou.

O presidente também citou a lei de igualdade salarial entre homens e mulheres e a importância de políticas que promovam a diversidade e combatam o racismo. “Eu nunca vi tantas meninas e meninos negros nas universidades. Hoje, a negritude brasileira tem orgulho de dizer que é negra, e isso é um avanço que precisamos consolidar.”

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Produção nacional e fortalecimento do SUS

Atualmente, a Hemobrás recolhe plasma excedente de 72 hemocentros e serviços de hemoterapia em todo o país. Até então, grande parte desse material era enviada ao exterior para processamento. Com a nova planta, a produção passa a ser feita no Brasil, impulsionando a indústria de biotecnologia e fortalecendo o Complexo Econômico-Industrial da Saúde.

Lula concluiu a cerimônia destacando o simbolismo do investimento. “A Hemobrás veio para ficar e mostrar que o Brasil é soberano e não tem medo de ameaça. É com decisões assim que vamos construir um país mais justo e igualitário, onde todos tenham direito à mesma oportunidade”, afirmou.

Last Update: 14/08/2025