Em conversa de fim de ano com jornalistas no Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que encerra 2025 “mais feliz do que imaginava”, atribuindo o cenário aos resultados econômicos e à recomposição do papel do Estado após o ciclo bolsonarista. Ele destacou que o país voltou a crescer acima de 3% apenas em seus governos, afirmou que o Brasil tem hoje a “menor inflação acumulada em quatro anos”, a “maior massa salarial” e o “menor nível de desemprego e de pobreza da história”, além de ter saído novamente do Mapa da Fome.
Lula associou os indicadores à estratégia de distribuir renda e estimular o consumo popular, defendendo que “muito dinheiro na mão de poucos significa miséria”, enquanto “pouco dinheiro na mão de muitos” faz a economia girar. O presidente reiterou que não governa “falando mal do governo anterior”, mas para “reconstruir” um país que, segundo ele, foi “semidestruído em todas as áreas”.
Congresso, 8 de janeiro e STF
Questionado sobre o projeto de lei que reduz penas de condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, Lula foi taxativo ao anunciar que vetará a proposta se ela chegar à sua mesa. Segundo ele, não faz sentido discutir dosimetria antes de concluir os julgamentos e identificar financiadores dos atos: “Quem cometeu crime contra a democracia terá que pagar pelos atos cometidos”, afirmou. O presidente fez um aceno ao Congresso, mas lembrou que o jogo institucional prevê que deputados e senadores podem derrubar o eventual veto presidencial.
Sobre a indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal, Lula reafirmou o apoio ao advogado-geral da União, disse que manterá o nome e negou crise pessoal com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, a quem elogiou pela interlocução com o governo nas votações econômicas.
Economia, juros e estatais
Lula voltou a defender o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e exaltou o desempenho da equipe econômica, afirmando que o governo aprovou “99% de tudo que mandou de interesse econômico” ao Congresso, incluindo a reforma tributária. Ele reforçou a tese de que o presidente da República precisa “montar um time”, não ser especialista em economia, e disse que o país sai de 2025 com “outra governança tributária”, menos concentrada sobre trabalhadores e classe média.
Sobre o Banco Central, Lula reafirmou “100% de confiança” em Gabriel Galípolo, criticou a autonomia formal da instituição e disse sentir “cheiro” de que a taxa de juros começará a cair em breve, embora tenha evitado qualquer pressão pública: “Jamais farei pressão para que o Galípolo tome a atitude que tiver que tomar”. Em relação às estatais, lamentou o rombo dos Correios, prometeu “colocar a mão na ferida” com mudanças de gestão e descartou privatizações enquanto estiver na Presidência, admitindo apenas parcerias e eventual capitalização com economia mista.
Relações exteriores, EUA, Venezuela e COP30
No front internacional, Lula celebrou o “retorno do Brasil ao cenário mundial” e disse que o país hoje é respeitado em fóruns como União Africana, União Europeia, Celac e encontros asiáticos. Ele classificou como “extraordinário sucesso” a COP30 em Belém, defendendo a escolha da capital paraense contra críticas que sugeriam Rio ou São Paulo, e exaltou a aprovação de um fundo permanente para florestas tropicais, iniciado com 3 bilhões de euros da Noruega, a ser gerido pelo Banco Mundial.
Lula relatou conversas com Donald Trump e Nicolás Maduro sobre a crise na Venezuela, posicionando o Brasil como mediador e defensor de uma saída diplomática para evitar uma guerra na América do Sul. Ao comentar as tarifas impostas por Trump a produtos brasileiros, disse reconhecer o direito soberano de taxar importações, mas contestou as justificativas usadas e afirmou trabalhar por um acordo, sem descartar reciprocidade se não houver solução.
Trabalho, 6×1 e disputa de 2026
O presidente voltou a defender o fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho, argumentando que ganhos de produtividade e avanço tecnológico tornam inevitável o debate. Ex-dirigente sindical, Lula declarou que “o país está pronto” para essa mudança e disse esperar ser “provocado” por sindicatos e pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social para enviar um projeto ao Congresso.
Sobre as eleições de 2026, Lula demonstrou confiança na reeleição, afirmou que a extrema direita “não voltará a governar o país” e disse estar “tranquilo” para debater economia, inclusão social, clima e transição energética com qualquer adversário. Ele indicou que ao menos 18 ministros devem deixar o governo para disputar cargos, afirmou que Haddad tem “biografia e maioridade” para escolher seu caminho e sinalizou a necessidade de candidaturas fortes ao governo e ao Senado em São Paulo, sem antecipar nomes nem fechar a chapa com Geraldo Alckmin.
Comunicações, programas sociais e compromisso com mulheres
Lula reconheceu que o governo ainda comunica mal suas entregas, afirmando que muitos ministros desconheciam políticas apresentadas no balanço de fim de ano e desafiando a imprensa a comparar o volume de ações com qualquer outro governo desde a proclamação da República. Entre as iniciativas citadas, destacou a expansão do Mais Médicos, que saltou de 12,7 mil para 28 mil profissionais, o envio de 800 vans odontológicas com prótese em 3D e a compra de 150 caminhões com exames de alta complexidade para atacar filas do SUS.
Ao encerrar o encontro, o presidente manifestou solidariedade às herdeiras de Silvio Santos após ataques do cantor Zezé di Camargo, que classificou como “cretinice” dirigida a mulheres. Ele prometeu dedicar parte de seu mandato ao enfrentamento ao feminicídio e à violência contra a mulher no Brasil, pedindo que o tema seja tratado com centralidade na agenda pública.