O presidente Lula concedeu entrevista na manhã dessa quarta-feira (5) para as rádios mineiras BandnewsFM BH, Mundo Melhor e Itatiaia. Com os jornalistas falou sobre o bom momento econômico do país, o controle da inflação e o trabalho para baixar a inflação dos alimentos, comentou as ações adotadas pelo governo Donald Trump, detalho assunto da política mineira e ainda falou sobre anistia e eleições 2026.

Veja a seguir os principais pontos da entrevista.

Economia

Na entrevista, o presidente apontou que leva o controle da inflação muito a sério e que acredita que ela está razoavelmente controlada. No entanto, a preocupação fica na questão dos alimentos:

“Estamos fazendo reuniões sistemáticas com os setores onde a inflação está mais alta. Por exemplo a carne. Temos que discutir com este e os demais setores porque estes preços cresceram tanto nos últimos 12 meses? A verdade é que em 2023 a carne caiu 30% e depois voltou a subir. Não tem um único fator que explique os preços. O que precisamos é tentar ajustar, porque a inflação causa muito prejuízo ao povo trabalhador”, disse.

Ainda sobre o tema, Lula acrescentou que o reajuste que poderá ser feito pela Petrobras, no diesel e na gasolina, deverá ser feito com alguma forma de compensação para que não cause impacto no preço do transporte e, consequentemente, no dos alimentos. Mesmo assim, o presidente frisou que os preços dos combustíveis estão inferiores do que estavam em dezembro de 2022, considerando que no período acumulado desde então houve uma inflação de 7% a 8%.

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“Nós temos consciência de que vamos baixar a inflação, baixar o custo de vida e a cesta básica vai ficar mais acessível ao povo brasileiro, porque é disso que o povo precisa: alimento barato, de qualidade, na mesa. O governo inteiro está trabalhando com isso e vamos encontrar uma solução para fazer com que esse alimento chegue na mesa do trabalhador compatível com o seu poder”, afirmou.

Ele ainda ressaltou o bom momento econômico vivido pelo país, com crescimento do PIB acima dos 3%, a menor taxa de desemprego já registrada, entre outros pontos: “A economia brasileira está bem. O Brasil está crescendo. O emprego está crescendo. A massa salarial está crescendo. As coisas estão acontecendo, inclusive no estado de Minas Gerais”.

Trump e deportações

Sobre a política de deportações adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula observa que, na verdade, é uma situação de repatriação e explicou que em solo brasileiro os agentes dos EUA responsáveis pelo transporte devem respeitar as leis e os acordos feitos, ou seja, que as pessoas tenham seus direitos respeitados e não fiquem presas.

De acordo com o presidente, um novo voo deve chegar na próxima sexta (7) em Fortaleza, Ceará. O governo se prepara para receber, cuidar e transportar estas pessoas até as suas cidades. O Itamaraty e a Polícia Federal trabalham para ter os dados dos cidadãos transportados de forma antecipada.

Quanto à questão da proposta de Trump em assumir o controle da Faixa de Gaza e promover o reassentamento forçado da população palestina, Lula afirmou que isto é “praticamente incompreensível” e ressaltou: “quem tem que cuidar de Gaza são os palestinos”.

“Os EUA participaram do incentivo a tudo que Israel fez na Faixa de Gaza. Então, não faz sentido se reunir com o presidente de Israel e dizer: ‘nós vamos ocupar Gaza, vamos recuperar Gaza, vamos morar em Gaza.’ E os palestinos vão para onde, onde vão viver? Qual o país deles?”.

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Durante a entrevista, ao falar sobre a importância dos BRICs, falou que “é importante que a gente não tenha preocupação com as bravatas do Trump e a gente discuta o que é importante para nós, para o mundo. Não é o mundo que precisa dos EUA, eles também precisam do mundo”, criticou o líder brasileiro, ao colocar que os EUA estão se isolando do mundo e que isso “não é importante para eles nem para o restante do mundo.”

Minas Gerais

O presidente ainda respondeu perguntas em relação ao senador de Minas, Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Congresso Nacional. O líder brasileiro teceu elogios à convivência harmônica e demonstrou que pretende apoiá-lo, caso decida concorrer ao governo mineiro, em 2026.

Inclusive Lula atribuiu a Pacheco os esforços pelo acordo de renegociação das dívidas dos estados (Propag), sendo que Minas Gerais é um dos entes com maior endividamento.

Nesse ponto, o presidente revelou estranheza que um acordo de R$ 191 bilhões de reais tenha obtido como opositor o próprio governador do estado, Romeu Zema.

“Fizemos um acordo em que Minas Gerais deixa de pagar os juros e determinamos que 60% do que o estado não pagar será investido em educação, saneamento básico e habitação, para que esse dinheiro traga benefícios diretos ao povo de Minas. E quando fico sabendo que o governador de Minas tem feito críticas a isso e que vai recorrer para derrubar o veto que fiz, lembro que vetei tudo o que a AGU considerou inconstitucional. Fiz o veto de forma consciente, sabendo que ele pode ser derrubado. O Congresso Nacional tem autonomia para isso, assim como eu tenho autonomia para recorrer. Ou seja, é um processo normal. O que acho é que o governador deveria, pelo menos, respeitar esse acordo, porque fizemos algo que eles não conseguiram fazer”.

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Lula continuou: “Não tenho o hábito de falar mal de governador. Ele foi eleito pelo povo, eu fui eleito pelo povo, e nossa relação deve ser democrática, civilizada e republicana, para que cada um cumpra sua função. O que acho é que fizemos algo extraordinário. As pessoas precisam lembrar que essa dívida não surgiu agora. Ela saltou de R$ 119 bilhões para R$ 191 bilhões. É o mesmo caso de Mariana: desde 2015 estava parado, ninguém negociava”, lembrou ao apontar o acordo fechado em outubro que estabelece o pagamento no valor total de R$ 170 bilhões, que inclui R$ 38 bilhões já pagos.

Reforma ministerial e BR-381

Lula se esquivou de perguntas sobre reforma ministerial. Mas pontuou que aguarda as decisões de Pacheco, sobre ser ministro e concorrer ao governo, e disse que Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, continuará no cargo.

O mineiro Silveira estará na quinta (6) junto ao ministro dos Transportes, Renan Filho, em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, para a cerimônia de concessão da BR-381/MG que conta com investimento de R$ 9 bilhões.

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Ao falar sobre a importância dessa e demais concessões para a malha rodoviária brasileira, o presidente reforçou que os preços dos pedágios serão baratos, pois os investidores deverão cumprir o edital e por ele já se sabe os retornos financeiros. Portanto, a modalidade difere-se de uma outorga (como realizada em outras oportunidades) em que os empresários descontam todo o investimento feito no preço do pedágio.

Anistia

Quando o assunto foi anistia aos acusados de tramar golpe de Estado e elaborar um plano para assassinar autoridades, Lula fez duras críticas aos que pedem por anistia antes mesmo do processo legal.

“Nem terminou o processo as pessoas já querem anistia. Ou seja, eles não acreditam que são inocentes?  Eles deveriam acreditar que são inocentes e não ficar pedindo anistia antes de o juiz determinar a punição. O que estamos garantindo é um processo de julgamento altamente democrático em que eles têm todo o direito de defesa. Quando as pessoas nem foram condenadas estão pedindo anistia é porque elas estão se condenando”, disse Lula, ao pregar que todos os réus terão direito de defesa, diferentemente do processo que ele mesmo sofreu e foi julgado sem provas.

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Sobre Bolsonaro concorrer às eleições: “Se a justiça entender que ele pode concorrer às eleições, ele pode concorrer. E se for comigo vai perder outra vez”, vaticinou.

“Eu acho que quem tentou dar um golpe, quem articulou a morte do presidente, vice-presidente e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral não merece absolvição. Eu digo, por muito menos do que eles fizeram, muita gente do partido comunista foi morta. Por muito menos, muita gente foi presa. Por menos do que fizeram o Prestes (Luís Carlos Prestes) ficou 50 anos prestando contas à justiça”, continuou o presidente.

“A verdade só o Bolsonaro sabe. Se ele quis dar um golpe, ele sabe que quis dar. Por que ele fugiu para Miami? Se ele fosse um homem que não tivesse preparado toda aquela podridão de comportamento ele teria ficado, teria dado posse como qualquer ser humano civilizado faria. Vamos aguardar o julgamento”, completou Lula.

Pesquisas eleitorais

Nas semanas anteriores, duas pesquisas Genial/Quaest movimentaram o noticiário. Em uma delas é mostrado que a taxa de desaprovação do presidente, pela primeira vez, superou a de aprovação. Em outra, apesar da desaprovação, Lula venceria todos os concorrentes em primeiro e segundo turno.

Sobre as pesquisas Lula disse que elas ainda estão muito distantes tendo em vista que 2025 será um ano marcado por entregas do governo federal após passar 2 anos “arrumando o país” com : “PEC da transição” para governar e pagar dívida do outro governo, arcabouçou fiscal e reforma tributária.

Lula voltou a lembrar o que tem feito pela economia, emprego, salário mínimo, entregas como as das rodovias e na questão da educação. Neste ponto, salientou que em Minas Gerais, pelo menos 385 mil jovens que desistiriam da escola agora podem ter acesso ao programa Pé-de-Meia para continuarem estudando.

Somado com mais 580 mil de São Paulo e o restante do Brasil, são 4 milhões de estudantes que tem um incentivo financeiro para manterem os estudos: “temos consciência de que somente a educação é capaz de garantir que este seja um país desenvolvido.”

Voltando às pesquisas, Lula acredita que somente por volta de abril e maio do próximo ano que as pesquisas estarão mais próximas da realidade.

“Por enquanto é muito cedo para escolher candidato à presidente da República, assim como é muito cedo querer medir a aprovação de um governo. Eu quero ver quando chegarmos no último mês de governo e fizermos uma comparação de tudo que foi feito no nosso governo em comparação com o anterior e você vai perceber que, na maioria das coisas, nós estamos fazendo em dois anos o dobro do que fizeram em quatro anos. E quando chegar em dezembro de 2026 teremos feito o triplo do que fizeram, pois eles não trabalharam, a não ser contar mentira, fazer fake news. É isso que me deixa convencido que a colheita será extraordinária neste ano de 2025”, concluiu o presidente.

Confira a entrevista:

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Last Update: 05/02/2025