Nas últimas semanas, o governo Lula travou uma intensa batalha contra a elite financeira — e perdeu. Enquanto os especuladores queriam que ele se curvasse ao mercado financeiro, o presidente indicava que seguiria uma política oposta à política de austeridade fiscal, negando cortes nas despesas essenciais para as necessidades da população.

No entanto, após o imperialismo sabotar o governo brasileiro, promovendo, dentre outras coisas, um aumento artificial no valor do dólar, Lula voltou atrás e anunciou, por meio do Ministério da Economia, um corte de quase 26 bilhões de reais.

“Já identificamos, e o presidente autorizou levar a frente, R$25,9 bilhões de despesas obrigatórias que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento de 2025”, declarou Fernando Haddad, ministro da Economia, a jornalistas.

A crise foi grave, o mercado financeiro colocou a faca no pescoço de Lula. Houve intensa pressão, ao mesmo tempo, por parte de ministros como Haddad e outros, que afirmaram que era preciso recuar para evitar que a situação saísse do controle.

Embora tenha sido uma crise rápida, foi séria. O governo recuou, estabelecendo um acordo com a elite financeira expresso pela implementação de cortes. A elite financeira, entretanto, indica que isso não é o suficiente.

Na quinta-feira (4), a Folha de S.Paulo publicou um artigo intitulado Corte de R$25,9 bilhões anunciado por Haddad é insuficiente, dizem economistas, divulgando declarações de membros da elite financeira ligada ao capital financeiro.

O mesmo jornal publicou um editorial intitulado Governo muda atitude, mas ‘corte’ é ilusório, defendendo a mesma política dos “economistas” do outro artigo. “Lula, que instituiu uma regra fiscal cada vez mais percebida como insustentável, ainda governa como se desfrutasse da fartura circunstancial de recursos de seus primeiros dois mandatos”, diz a Folha.

O Estadão, por sua vez, publicou, na sexta-feira (5), o editorial Haddad, o bombeiro, elogiando os esforços do ministro da Economia no sentido de pressionar o presidente a capitular diante do mercado financeiro.

“Após semanas de fritura pública, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi escalado para conter a crise de confiança desencadeada pelas trágicas declarações do presidente Lula da Silva, que questionou, em diversas ocasiões, a necessidade de o País adotar uma política fiscal austera e de reduzir os gastos públicos.

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Apostar unicamente na recuperação de receitas já não basta para cumprir a meta fiscal, e o Congresso já deixou claro que não aceita propostas que aumentem impostos. Mais cedo ou mais tarde, o governo será cobrado a apresentar medidas que representem cortes estruturais de despesas, e o discurso supostamente responsável do governo será posto à prova”, diz o Estadão.

Fato é que não se pode considerar que a crise tenha sido contida. Lula recuou, abandonando terreno e cedendo totalmente, uma política inconsistente que, ao que tudo indica, já se esgotou completamente.

A única maneira de combater crises como esta é por meio da mobilização popular. O governo poderia ter aproveitado a questão palestina, por exemplo, para fazer isso. Porém, evita se expor publicamente, preferindo agir por meio das instituições, cuja margem de manobra é muito limitada.

Lula acredita que, dessa maneira, conseguirá resolver a situação, mas se trata de uma política insuficiente. A situação é muito difícil, tanto internamente quanto no cenário político internacional, o que também resulta em mais pressão sobre o governo.

No final, ao anunciar o corte bilionário em questão, Lula ofereceu a mão, mas os banqueiros querem seu braço.

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Última Atualização: 06/07/2024