Lula e Trump. Está na hora de cantar “Deus me proteja de mim”
por Armando Coelho Neto
Donald Trump é um ditador do mundo oprimido que poucos o tratam como tal. Se existe Nicolás Maduro para ser atacado como déspota ou tirano, por que gastar tal termo contra o candidato a imperador do mundo? Apelar para direitos humanos, democracia, terrorismo são desculpas manjadas. Quem apoia o genocídio palestino não tem moral para levantar tais bandeiras. Mas, quem ousa dizer que o rei está nu?
Recentemente, o tirano estadunidense julgou e condenou à morte, via controle remoto, tripulantes de barcos que supostamente estariam transportando droga. Deixou no ar, sem resposta, aqueles que perguntaram: se por acaso, via satélite, fosse detectada uma Ferrari ou Limusine conduzida por um ianque sionista, transportando droga dentro do território estadunidense, teria ocorrido o mesmo?
É difícil lidar com desculpas esfarrapadas, sobretudo num momento em que o presidente dos EUA entrou na fase Pirata do Caribe. Recentemente sequestrou um navio petroleiro sob o argumento de transportar petróleo sancionado (pelos EUA) da Venezuela e do Irã. Na prática, mais uma pressão contra Maduro, a quem deseja derrubar para colocar algum fantoche com uma fajuta láurea do Nobel da Paz.
Enquanto tenta derrubar Maduro, fervilha uma estranha química em relação ao presidente Lula, o qual assusta setores da esquerda, quando diz que “tudo é negociável e não existe tema tabu”. As tarifas abusivas já foram parcialmente contornadas e, mais recentemente, Trump retirou do ministro Alexandre de Moraes a inócua Lei Magnitsky. Até onde se sabe, em nada se aplicaria a Moraes.
Química Trump e Lula à parte, cumprido o efeito midiático de seus aforismos tarifários, não raro baseados em dados imprecisos e retóricos, mundo afora Donald Trump reavaliou bravatas, erros e acertos, inclusive por conta do feitiço virando contra o feiticeiro. De Wall Street aos plantadores de milho de Nebraska, do efeito México/Canadá à queda nas pesquisas, ele percebeu que o buraco é mais embaixo.
Tem muita “bondade” no ar. Fosse viva, é possível que Dona Lindu dissesse o óbvio a Lula: esmola grande, pobre desconfia. Fala-se até em deportação dos traidores da Pátria, hoje homiziados nos Estados Unidos, entre eles Dudu Bananinha e o neto do ex-presidente João Figueiredo. Há muita euforia sobre química que farfalha nas alcovas. Mas encontros entre presidentes são cercados de mistérios e acordos.
É muita euforia sem contemplar as estranhezas. Até Joesley Batista, dono do grupo JBS, entrou no pacote de mistérios, pois foi conversar com os gringos. Afinal, ele sozinho doou quase US$ 5 milhões para a festa de posse de Donald Trump. Mas, o Brasil desconfiado sabe que o maior açougueiro do mundo é aquele que, com uma leviana delação premiada para a Farsa Jato, tentou incriminar Lula e Dilma.
Por ironia do destino, o empresário que doou dinheiro para o ex-capitão (hoje condenado a mais de 27 anos de “soluço” na cadeia), fez “doações republicanas” (para vários partidos políticos) e, com uma delação fajuta, ajudou no golpe contra Dilma, “Pela memória do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra” (um torturador que morreu impune e deixou uma pensão de R$ 15 mil para as filhas, paga pelo povo).
Curiosamente, enquanto Lula se oferece para intermediar um diálogo entre Trump e Maduro, reza a lenda que Joesley Batista já teria ido a Caracas para pedir a renúncia do presidente da Venezuela. A rigor, o empresário tem boas relações com o país desde os tempos de Hugo Chávez. Em tempos de escassez, ele realizou contratos bilionários para o fornecimento de carne e frango.
Em agosto passado, Donald Trump e Vladimir Putin se encontraram no Alasca (EUA), onde conversaram sobre um possível acordo para pôr fim à guerra da Otan contra a Rússia, que tem como palco a Ucrânia. Nem sempre as falas oficiais pós-encontros do gênero dão a dimensão do que efetivamente aconteceu. Mas, tudo indica que a imprensa mundial se deu por satisfeita com as lacônicas falas dos dois.
No que diz respeito às Américas Central e do Sul, fora da pauta oficial, é possível que no Alasca Trump e Putin possam ter alinhavado um novo Tratado de Tordesilhas, desta feita sem portugueses e espanhóis. É como se o ditador, digo, presidente dos EUA tivesse reafirmado seu controle nesse lado do Oceano Atlântico, e o resto do mundo a ser redesenhado entre estadunidenses, russos e chineses.
É hora de desconfiar e cantar “Deus me proteja de mim, e da maldade de gente boa. Da bondade da pessoa ruim…”(Chico César)
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
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