Na última quarta-feira (6), o presidente Donald Trump elevou as tarifas comerciais para produtos importados da Índia em 25%, o que fez a tarifa total chegar a 50%, o mesmo percentual que afeta parte das exportações brasileiras. No mesmo dia, a sobretaxa começou a valer no Brasil e o presidente Lula afirmou que buscaria um entendimento comum entre os membros do Brics sobre as imposições tarifárias dos Estados Unidos.
Não tardou e nesta quinta-feira (7), o presidente do Brasil já entrou em contato com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. De acordo com o Planalto, o telefonema entre os líderes das duas nações mais impactadas com o “tarifaço” durou cerca de uma hora.
No diálogo, os líderes trataram dos resultados da visita de Estado empreendida por Modi ao Brasil em julho e conversaram sobre o cenário econômico internacional e a imposição de tarifas unilaterais pelos norte-americanos.
Conforme a nota divulgada, ambos “reafirmaram a importância em defender o multilateralismo e a necessidade de fazer frente aos desafios da conjuntura, além de explorar possibilidades de maior integração entre os dois países.”
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Nesse sentido, salientaram a meta de aumentar o comércio bilateral entre Brasil e Índia para US$ 20 bilhões até 2030. Em discurso feito em 8 de julho, no Palácio do Planalto, na ocasião da visita do indiano, Lula destacou que o fluxo comercial atual de US$ 12 bilhões “não está à altura” das economias dos países.
Segundo a nota, para alcançar estas metas para maior integração, os mandatários “concordaram em ampliar a cobertura do acordo entre Mercosul e Índia” e ainda trocaram informações sobre as “plataformas de pagamento virtual dos dois países, incluindo o Pix e a Upi (Unified Payments Interface) indiana.”
Visita à Índia
Também ficou acertado que no início de 2026, Lula fará uma visita de estado ao país asiático. Como prévia do encontro, o vice-presidente Geraldo Alckmin e ministros de Estado irão à Índia em outubro para participar da reunião do Mecanismo de Monitoramento de Comércio.
“A delegação contará com ministros e empresários brasileiros para tratar de cooperação na área comercial, de defesa, energia, minerais críticos, saúde e inclusão digital”, diz a comunicação do governo.
Tarifas
O anúncio de uma sobretaxa contra os produtos indianos foi acompanhado de uma justificativa controversa do presidente Trump, que pode se estender a outros países. Nas redes sociais, ele afirmou que tomaria a medida, pois o país tem comprado petróleo russo.
Essa justificativa para dobrar a tarifa, que já era de 25%, e agora chegou a 50%, tem relação com o embargo que os EUA, a União Europeia, demais países do G7 e a Austrália empregam contra Rússia pela guerra com a Ucrânia.
Agora, Trump coloca em risco a relação com um mercado que conta com 1,45 bilhão de habitantes, que representa o país mais populoso do mundo.
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Em 2024, o fluxo comercial entre Índia e EUA ficou na casa dos US$ 190 bilhões. Quanto à balança comercial, os indianos tiveram superávit de US$ 45,7 bilhões no ano passado.
Com a sobretaxa marcada para iniciar em 27 de agosto, o entendimento é de que o país asiático perderia a vantagem comercial, que passaria com alguma folga para o lado norte-americano — estimativas para uma sobretaxa de 35% apontavam para uma perda de US$ 64 bilhões para a terra de Modi, segundo a Reuters. Apesar disso, as exportações da Índia têm uma exposição baixa dentro da sua economia, limitando o impacto direto no crescimento do país.