O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou nesta segunda-feira 24 a Tóquio, capital do Japão, para dar início a uma viagem de caráter simbólico e estratégico.
O primeiro aspecto da ida do petista à Ásia – o que, além do Japão, inclui uma passagem pelo Vietnã – tem a ver com a própria recepção. Lula terá um encontro com o Imperador Naruhito e a Imperatriz Masako, algo pouco comum nas visitas de autoridades ao país asiático.
Ao lado da primeira-dama Janja, Lula vai participar, já na terça-feira 25, do Jantar Imperial, que contará com a presença inédita da filha mais velha do imperador, Aiko. Além disso, o mandatário brasileiro vai receber o Grande Cordão da Suprema Ordem do Crisântemo, considerada a maior condecoração japonesa.
Posicionamento diante da guerra comercial
Mas não só de condecorações e jantares de honra será composta a viagem de Lula. A dimensão estratégica da ida à Ásia vai depender do cumprimento do principal objetivo do petista (e do rol de autoridades que viajou com ele): o de ampliar o mercado japonês para produtos brasileiros, especialmente aqueles ligados à produção agrícola.
Ciente do campo minado criado pelo presidente norte-americano Donald Trump no comércio global, com aumento de tarifas e estímulo à guerra comercial, o governo brasileiro quer aumentar a exportação de carne bovina para o Japão e trabalhar para que um acordo entre o país asiático e o Mercosul saia do papel.
Brasil e Japão são parceiros longínquos – ambos têm 130 anos de relações diplomáticas – e tem uma farta balança comercial. Só no ano passado, o país asiático foi o terceiro maior parceiro comercial do Brasil na Ásia. O intercâmbio comercial foi de 11 bilhões de dólares, com as exportações brasileiras alcançando um superávit comercial de 148 milhões de dólares, de acordo com o Itamaraty.
Para que o Japão passe a comprar carnes brasileiras, porém, é preciso que uma comissão japonesa esteja autorizada a fazer inspeções sanitárias em frigoríficos brasileiros, o que vai exigir negociações entre autoridades dos dois países.
Segundo o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, “importadores de carne no Japão têm muito interesse, porque o preço da carne nos EUA aumenta muito, não tem perspectiva de aumento de produção, e o Brasil é um fornecedor confiável”.
O interesse brasileiro em fazer a carne local chegar ao mercado japonês coincide com a necessidade que o Japão tem de importar. Segundo dados do Itamaraty, 70% dos produtos bovinos no Japão são importados, o que revela a dependência do país asiático, principalmente, em relação aos EUA e à Austrália.
Um eventual impulso nas exportações brasileiras ao Japão é costurado por atores importantes do setor de comércio de carne bovina, a exemplo da JBS. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, responsáveis pela empresa, fazem parte da comitiva do setor privado que acompanha Lula a Tóquio. Ao lado do próprio petista, da Federação Empresarial do Japão, e de representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), eles vão participar do Fórum Empresarial Brasil-Japão na quarta-feira 26.
Outra faceta da viagem tem a ver com a chance do Brasil, a longo prazo, diversificar as suas parcerias no mercado asiático. Em termos de comércio internacional, o País tem na China o seu principal parceiro comercial e vê essa relação se fortalecer em um contexto de queda nas vendas para outros mercados do continente asiático.
Nesse contexto, apesar da cifra bilionária do fluxo comercial entre Brasil e Japão no ano passado, os números estão em queda. Entre 2023 e 2024, as exportações brasileiras para o Japão caíram 15%. O Brasil vende, principalmente, minério de ferro, carne de frango e soja em grãos.
Mercosul
No caso da citada negociação por um acordo entre o Mercosul e o Japão, a viagem de Lula pode ser responsável pelo estabelecimento de garantias pelo negócio.
“Existe um diálogo entre o Japão e o Mercosul”, disse Saboia, que questionou: “O que a gente quer saber é o seguinte: vamos ficar nessa conversa ou vai ter uma negociação? Há um ponto de interrogação. A visita do presidente é um interesse de avançar nessa área”.
Vietnã
A passagem de Lula pelo Vietnã não acontece por acaso. A aposta em uma maior cooperação bilateral entre os dois países tem a ver com a expansão econômica do Vietnã. Em meio a isso, a balança comercial totalizou 7,7 bilhões de dólares negociados no ano passado, com um superávit brasileiro de 415 milhões de dólares, de acordo com o Itamaraty.
“O Vietnã consolidou-se como o quinto destino global das exportações do agronegócio brasileiro e se destaca como um dos principais produtores mundiais de café, arroz e produtos eletrônicos, setores nos quais há potencial para ampliar a cooperação bilateral”, registrou o Ministério das Relações Exteriores.
Além da busca por aumentar negócios em termos de comércio de carne bovina, a viagem ao Vietnã pode servir para a Embraer encaminhar a venda de produtos para a Vietnam Airlines.
Do ponto de vista geopolítico, existe, ainda, a possibilidade de que Lula convide o Vietnã para participar da reunião de cúpula do Brics, que está marcada para acontecer em julho no Rio de Janeiro. Já existe um convite formal para que o país asiáticos seja um parceiro do bloco, mas o Vietnã ainda não se posicionou sobre o tema.