O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na última sexta-feira (3) com o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, para discutir o vídeo institucional da Força que gerou controvérsia ao rebater críticas sobre privilégios na carreira militar. A conversa, articulada pelo ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, aconteceu na Granja do Torto, em Brasília, e teve como objetivo amenizar as tensões causadas pela divulgação do material.
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A polêmica do vídeo
O vídeo, produzido para o Dia do Marinheiro (13 de dezembro), contrastava cenas de operações de salvamento e treinamentos militares com imagens de pessoas em momentos de lazer, como em praias e festas. Ao final, uma marinheira questionava: “Privilégios? Vem pra Marinha”, em tom de ironia às críticas sobre benefícios na carreira militar. O Estadão publicou matéria com salários de oficiais que recebem em dólar, sendo que um deles chegou a ganhar em um mês o referente a R$ 216 mil.
A peça foi divulgada em 1º de dezembro, apenas um dia após um almoço no Palácio da Alvorada entre Lula e os comandantes das Forças Armadas, no qual os militares expressaram insatisfação com o pacote fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O projeto inclui alterações na previdência militar e cortes de gastos públicos.
Entre os cortes que devem afetar os militares, incluindo os da Marinha, consta o fim da ‘morte ficta’ ou ‘fictícia (quando um militar é expulso das Forças e fica declarado morto, ainda vivo, para que familiares recebam pensão), o fim da transferência de pensão que fica limitada a filhos e cônjuge (atualmente é permitido transferir para outros parentescos após a morte do militar), estabelecimento de idade mínima para aposentadoria (reserva remunerada) com período de transição para estabelecer base nos 55 anos, assim como colocar em 3,5% a remuneração da contribuição para o Fundo de Saúde até 2026.
Repercussão e crise
O vídeo gerou desconforto no governo, sendo considerado inoportuno e motivo de constrangimento por ministros próximos ao presidente. A peça foi vista como uma crítica velada às medidas fiscais em discussão e levantou pedidos para a demissão de Olsen, sob a acusação de atuar politicamente.
Segundo fontes, o ministro da Defesa chegou a avaliar a demissão do comandante da Marinha, mas concluiu que o desgaste de afastá-lo seria maior do que lidar com a crise.
Justificativas e apaziguamento
Durante a reunião, Olsen explicou que o vídeo tinha como objetivo demonstrar internamente que a Marinha não estava desamparada diante das críticas à carreira militar e reforçar o compromisso da instituição com seus valores. Apesar disso, a divulgação da peça irritou Lula, que considerou a produção inadequada no atual contexto político.
De acordo com auxiliares das autoridades, o encontro serviu para amenizar as tensões e evitar uma escalada da crise. A mediação de José Mucio foi crucial para garantir que a relação entre o governo e os comandantes das Forças Armadas permanecesse estável.
A crise envolvendo o vídeo destaca as dificuldades enfrentadas pelo governo na gestão das tensões com setores das Forças Armadas, especialmente em um momento de ajustes fiscais. A manutenção do diálogo será essencial para evitar novos episódios de desgaste entre o Planalto e a cúpula militar.
Com informações da Folha de S. Paulo