Para além de considerações particulares acerca dos motivos, o ataque realizado pelo governo Trump ao Brasil, ameaçando impor taxas de 50% sobre os produtos nacionais, é típico da política do imperialismo. Dito isto, é preciso ter clareza que esta não é exclusividade de Trump. Na verdade, a interferência do Partido Democrata, atualmente o representante político principal da burguesia imperialista norte-americana, na política nacional, mesmo estando fora do governo, é muito maior. 

Se por um lado foi ofertada ao governo Lula a oportunidade de mobilizar tanto a opinião pública quanto o próprio povo contra a interferência estrangeira, e assumir de fato uma postura de defesa da soberania nacional, o que vemos é um “pseudo-nacionalismo”. 

Desde o início do governo, a orientação política adotada é a da defesa da “democracia” contra a “extrema direita”, ou seja, a defesa da política da burguesia imperialista “democrática”. Concretamente, esta política empurra o governo a se alinhar com o Partido Democrata, arquiteto do golpe de 2016, fato consumado quando das declarações de Lula desejando que Joe Biden, mais conhecido como “Genocide Joe”, fosse eleito. Neste caso particular, o ditado “em boca fechada, não entra mosquito” se encaixa perfeitamente. 

No último período, vimos um fechamento progressivo do regime político brasileiro sob uma máscara farsesca de combate à extrema-direita, com o apoio entusiasmado da esquerda, particularmente do PT. Como muitas vezes já discutido neste Diário, os responsáveis diretos por esta movimentação política são os principais agentes do imperialismo no País: o STF, a PF e a PGR. A questão palestina esclarece de maneira inequívoca a questão. 

Com este longo preâmbulo concluído, é absolutamente necessário polemizar com uma posição surgida na esquerda semelhante ao falso patriotismo bolsonarista. Em coluna intitulada Trump ataca e não é apenas sobre Bolsonaro, publicada no sítio do jornal Brasil 247, Reynaldo Gonçalves escreve:

“A ofensiva de Trump é sintoma da nova fase da guerra híbrida. Quando não conseguem mais capturar o Estado por dentro, tentam destruí-lo por fora. A taxação, combinada com ameaças à cooperação tecnológica e pressões diplomáticas sobre o Itamaraty, visa forçar o Brasil a recuar em sua postura altiva e ativa. É uma tentativa de transformar um gesto de soberania em exemplo de punição. A lógica é a do império: ousou ser soberano, pagará caro.”

O Estado brasileiro está, sim, capturado por dentro, mas, de fato, não é pelo trumpismo. Está nas mãos dos mesmos funcionários que derrubaram Dilma em 2016. A realidade é que o combate de Trump ao STF é manifestação da briga política interna dos Estados Unidos. A “postura altiva e ativa” do Itamary mal merece comentários, o que vimos ao longo do terceiro governo Lula foi um alinhamento sistemático da diplomacia brasileira à política do imperialismo. Tudo indica que o Brasil é uma das “barrigas moles” dos BRICS, cuja cúpula realizada no Rio de Janeiro não resultou em muito além de resoluções conservadoras.

Mais cedo na matéria, Gonçalves diz que o ataque de Trump ao governo tem uma de suas razões na votação de inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil pelo STF. Ainda que esta não seja mencionada explicitamente na carta enviada pelo presidente norte-americano a Lula, uma vez que o problema da “liberdade de expressão de cidadãos americanos” é mencionado, suponhamos ser este o caso: um ataque também contra as alterações no Marco Civil da Internet. A defesa da “soberania” para a esquerda pequeno-burguesa seria defender a censura extrajudicial de cidadãos brasileiros pela chamada Big Tech

Lula precisa romper com a posição subalterna aos interesses do “imperialismo democrático”, e passar a agir em defesa do povo brasileiro, que o retornou à presidência. Se por um lado, as ameaças de Trump fortaleceram a revolta de um setor da burguesia nacional, particularmente o agronegócio, contra o governo, contra um inimigo exterior poderoso, a oportunidade está dada para aglutinar diversos setores e levar adiante uma política verdadeiramente soberana, não basta um pseudo-nacionalismo. 

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Last Update: 12/07/2025