O presidente Lula esteve, nesta terça-feira (9), com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em Santa Cruz de La Sierra, centro econômico e financeiro boliviano. A ida da comitiva brasileira para negociar acordos também serve para demonstrar apoio ao governo após a tentativa de golpe ocorrida no país há 15 dias.
Na segunda-feira (8), ambos os líderes estavam no Paraguai, na reunião do Mercosul que celebrou a entrada boliviana ao bloco.
A agenda desta terça foi composta por reunião bilateral, seguida por encontro ampliado com autoridades e declaração à imprensa. Ainda na data os líderes participam do encerramento do Foro Empresarial Bolívia-Brasil que reúne cerca de 300 empresários e investidores dos dois países.
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Em nota, o Planalto destaca acordos logísticos pela conexão ao Pacífico; produção de fertilizantes; planos para aumentar o potencial da usina de Jirau em 377MW; aumento da oferta de gás ao Brasil; entre outros tratados pela comitiva brasileira que contava com os ministros Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Sonia Guajajara (Povos indígenas), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), além do diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e do presidente da Apex, Jorge Viana.
No discurso para a imprensa, Lula disse que foram assinados/negociados:
- tratado para o fortalecimento do combate ao tráfico de pessoas e de drogas e de melhora na gestão migratória;
- acordo para combate a crimes na fronteira;
- a viabilidade de acesso de brasileiros à saúde pública na Bolívia, da mesma forma que bolivianos podem utilizar o SUS no Brasil;
- garantia de segurança jurídica a brasileiros na Bolívia;
- trabalho conjunto entre Polícia Federal e o Consulado da Bolívia em São Paulo para regularizar a situação migratória dos milhares de bolivianos que tanto têm contribuído para dinamizar a economia e a cultura brasileira.
Espírito de intercâmbio e cooperação
“Espírito de intercâmbio e cooperação”. Com estas palavras Lula definiu a relação entre o Brasil e a Bolívia. Na declaração, o líder brasileiro ainda ressaltou que a democracia boliviana, assim como no Brasil, prevaleceu após um longo caminho entrecortado por golpes e ditaduras, com referência também à última tentativa ocorrida há duas semanas, destacando que as “instituições bolivianas mostraram seu valor frente a uma grave ameaça.”
Sobre as tentativas de golpe de Estado no Brasil no 8 de Janeiro de 2023 e na Bolívia no último 26 de junho, o presidente reforçou que: “Não podemos tolerar devaneios autoritários e golpismos.”
Assim como em sua declaração no Mercosul, citou os exemplos das recentes eleições na França e do Reino Unido em como “superar diferenças em prol de um objetivo comum” e para não alimentar a extrema direita com a desunião no campo democrático.
Na sua fala, Lula celebrou a entrada da Bolívia ao Mercosul e disse esperar o retorno da Venezuela, que está suspensa: “A normalização da vida política venezuelana significa estabilidade para toda a América do Sul.” Para tal, fez votos de que as eleições venezuelanas ocorram de forma tranquila e que os “resultados sejam reconhecidos por todos.”
Especificamente sobre a cooperação entre Bolívia e Brasil, o presidente brasileiro destacou dois pontos: integração física e energética. Segundo Lula, a região depende dos dois países neste quesito.
Quanto à integração, lembrou da construção da ponte binacional sobre o rio Mamoré, assim como a conexão pela melhora da navegabilidade no canal Tamengo e no rio Paraguai.
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Nesse aspecto, o Brasil pretende ampliar o comércio com o país vizinho, que é o seu principal fornecedor de gás natural. Um dos projetos citados é a parceria para a implantação de uma fábrica de nitrogenados entre Corumbá e Puerto Quijarro, sendo que os fertilizantes bolivianos são parte fundamental das importações brasileiras.
Lula não deixou de destacar o papel internacional da Bolívia em deter minerais críticos, como o lítio, mas também explicou que em solo brasileiro encontram-se importantes reservas de nióbio, cobalto, como também o terceiro maior depósito de manganês do planeta.
Com essa integração proposta, os líderes dos países visam estabelecer uma cadeia de valor para esses recursos estratégicos e, a partir deles, pautar temas comuns como a redução das desigualdades e a promoção da segurança alimentar.
De acordo com Lula, o presidente Arce manifestou desejo de que a Bolívia integre o BRICS, pleito que o Brasil vê de forma positiva.